quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 4

ANTES DE COMENTAR SOBRE EUROPA E ORIENTE MÉDIO PROCUREM SABER UM POUCO DE HISTÓRIA

 Especial para o Humanitas

Texto extraído de http://justificando.com

Gabriela Cunha Ferraz é advogada e mestra em Direitos Humanos pela Universidade de Estrasburgo e coordenadora nacional do CLADEM/Brasil

Quero escrever alguma coisa, mas não tenho forças e nem sei por onde começar. É tanta frase vazia, é tanto achismo, é tanta opinião desarrazoada, que tenho medo do futuro dos seres humanos que ainda vivem nesse planeta. Vivemos uma fase onde há muita opinião sendo compartilhada, mas pouca reflexão e muito menos discussão.
Parece-me fundamental conhecer a história moderna da humanidade, antes de manifestar qualquer opinião sobre os trágicos acontecimentos que testemunhamos na Europa, na África e no Oriente Médio. Se não nos debruçarmos sobre os fatos históricos que nos fizeram chegar até aqui, seremos, apenas, mais alguns dos fantoches facilmente manipulados pelas mídias e pelas grandes potências interessadas no caos e na manutenção da guerra.
O islamismo foi a última religião monoteísta a ser criada, derrotando o império romano e dominando a região que hoje forma a Síria, o Líbano, Irã, Iraque e Jordânia.
Foi nessa época que as cruzadas cristãs, vindas da Europa, invadiram o oriente para recuperar aquele território, usando, desde então, o nome da religião. O mesmo aconteceu com missões de Jesuítas que vieram ao Brasil para evangelizar nossos índios e ocupar nossas terras, mas essa é uma outra história.
Bom, depois dessa confusão inicial, quem se instalou por 600 anos nesse espaço foram os turcos que fundaram o Império Otomano e ocuparam essa região petrolífera até o começo da primeira guerra mundial. Com o império enfraquecido e o fim da guerra (1918), surgiram os acordos de paz, a Conferência de Paz de Paris e o Tratado de Sévres.
Mas, o que quase ninguém sabe é que antes, ainda em maio de 1916, houve a assinatura do acordo secreto Sykes-Picot, firmado entre França e Reino Unido. E, aqui, meus caros, a situação – que já era estranha, começa a ficar feia de verdade.
Por que esse acordo foi secreto? Porque a França e o Reino Unido resolveram decidir, só entre eles, quem ficaria com que parte da região do antigo Império Otomano. Sabe quando os países da Europa resolveram pegar uma régua e desenhar, reunidos na Alemanha, os contornos e as fronteiras dos países africanos?
Pois é, foi mais ou menos o mesmo que aconteceu aqui: o Reino Unido recebeu o controle dos territórios correspondentes, grosso modo, à Jordânia e ao Iraque e a França ganhou o sudeste da Turquia, da Síria, do Líbano e o norte do Iraque. Quem tiver a curiosidade de olhar o mapa mundi, vai perceber que a Síria tem uma riqueza bastante óbvia: uma importante saída para o mar. E a quem isso interessa? Ao capital, meus caros!
Mas para que esse plano funcionasse, os europeus precisavam contar com a ajuda dos cidadãos locais e, por isso, prometeram doar parte daquele território, onde a população árabe viveria em paz. Tipo assim: eu entro na sua casa, ocupo todos os cômodos, mas deixo você morando, feliz, na garagem. Então foi aqui, depois do fim do Império Otomano, que, para fragilizar e segregar o povo árabe formaram-se diferentes países, como a Síria, o Líbano e a Jordânia.
Essas pequenas nações passaram a viver sob o controle direto da França e do Reino Unido, mantendo governos de fachada, inteiramente submissos aos desejos europeus. Esse cenário dominou a história até que os países europeus foram expulsos, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
A partir deste marco histórico, as relações entre os países vizinhos se tornaram cada vez mais frágeis, os golpes de estados se sucedem e a ideologia laica, conhecida como Baath (o sonho de construir uma única nação árabe, com influência socialista) se espalhou.
É nesse momento que Hafez al-Assad, pai do Bashar al-Assad, assumiu o posto de Chefe de Estado e nacionalizou o petróleo, ao mesmo tempo que Saddam Hussein avocou o controle do Iraque. Significa dizer que, em plena guerra fria, o poder na Síria, passou a se concentrar nas mãos da minoria Xiita, laica, que representa apenas 13% da população, despertando questionamentos por parte da maioria Sunita. (continua na página 5)

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