quinta-feira, 3 de março de 2016

HUMANITAS Nº 45 – MARÇO DE 2016 – PÁGINA 2

EDITORIAL

Recife e Olinda estão de parabéns

No dia 12 deste mês de março os pernambucanos estarão cantando em prosa e verso as cidades de Olinda e do Recife, que fazem 481 e 479 anos, respectivamente.
O Recife, capital do estado de Pernambuco, tem em si o poder da criatividade e da aventura. Tanto no plano do desbravamento do espaço como no de produção intelectual.
Olinda foi a primeira cidade pernambucana de grande relevo. Nela Bento Teixeira lançou a sua Prosopopéia, no Século XVI, poema épico em homenagem ao capitão governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho.
Também nesse poema, a cidade do Recife recebe sua primeira apresentação:Um porto tão quieto e tão seguro / Que para as curvas naus serve de muro”.
A Barra do Arrecife, assim chamada no Diário de Pero Lopes de Souza (1532), veio a ser a ribeira do mar dos Arrecifes dos Navios, a que se refere o donatário Duarte Coelho Pereira em sua impropriamente chamada carta foral de 12 de março de 1537, uma minúscula povoação de mareantes e pescadores que viviam em torno da ermida de São Frei Pedro Gonçalves, por eles denominada de Corpo Santo.
Olinda, com suas colinas e banhada pelas águas do oceano Atlântico sempre é fascinante para quem a conhece pela primeira vez.
A cidade reserva aos visitantes o mar e uma paisagem povoada de igrejas, um casario antigo que aos poucos vai cedendo suas áreas a grandes edifícios devido à especulação imobiliária.
Olinda é Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, título que os seus habitantes exibem com orgulho e peito estufado.
É muito difícil escrever algo que reflita pensamentos e ideias sobre o Recife e Olinda. Ambas as cidades possuem muitas características especiais. Diversidades. Contrastes. Rebeldia. Mas neste mês de março devemos nos alegrar da existência delas no contexto do Brasil.
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Professor Astrogildo – Antonio Carlos Gomes (*)

Professor Astrogildo, pacato e metódico, professor aposentado, se achando no final da vida com seus 65 anos após receber uma carteirinha de idoso que o deixou muito preocupado, buscava entender o que é o tempo, tentando compreender a vida que, na sua cabeça, estava se esvaindo .
Comprou livros e, com muito tempo livre, começou a pesquisar na internet. Certo dia achou um artigo: O tempo e a física quântica. Mesmo sendo professor de geografia e nada entendendo de física foi com toda avidez possível procurar uma luz para sua dúvida.
Leu o seguinte: “Se olharmos demoradamente o tempo, ele para”. Achou absurdo, mas ponderou: - Estava escrito e foi objeto de pesquisa. Como? Foi ao jardim. Sempre ficava rodando as plantas para pensar.
Hora vai, hora vem até que uma lembrança veio a sua cabeça. Há algum tempo leu um artigo sobre Cabala, a qual acreditava de excepcional sabedoria judaica, que dizia com toda convicção que: “Se um escriba ao copiar a escritura sagrada errasse uma única letra, todo o Universo se desmontaria”.
- É contraditório, pensou.
Continuou com o problema martelando na cabeça, inconformado por não entender.
Nunca gostou de admitir que a sua inteligência falhasse, aliás, isto seria um comprovante da própria velhice. Continuou a andar.
- Agora estou com duas dúvidas! - continuou a meditar, a quântica e a cabalística.
- Eureka! Eureka! Eureka! - começou a gritar subitamente como filósofo de Atenas - Achei a solução. Mas é óbvio!
- É a Paixão. Mas é lógico! - Estava na verdade lembrando de Rosinha, a única namorada e seu breve namoro no sofá da sala da casa dela, no beijo que deu quando a quase futura sogra foi buscar um suco.
- É a Paixão - repetiu convicto - Já senti uma vez...
- Na hora que beijei Rosinha, quando meus olhos se fixaram nos dela, nada falamos, tudo parou. Parou o tempo, não havia mais mundo nem hora, estávamos no éter, no Olimpo, no espaço. Realmente parou o tempo...  Até chegar a letra errada. Megera da Dona Inês!
- A letra errada da cascavel desmontou o mundo, nunca mais vi Rosinha. Ela ficou na terra e eu na lua. Até que não teve mais jeito e virei um cometa andando sozinho no espaço.
Foi pesquisar outro assunto.
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(*) Antonio Carlos Gomes é médico e mora em Guarujá/SP

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