BOTECO: O ÚLTIMO REDUTO ROMÂNTICO DA
BOEMIA
Os
botecos são os últimos lugares boêmios românticos existentes no Brasil. Como
bem dizia o grande dramaturgo Nelson Rodrigues, “O boteco é ressonante como uma concha marinha. Todas as vozes
brasileiras passam por ele”.
É no boteco que amizades nascem e se
perpetuam. É nele que o futebol e as provocações ganham eco. É nele que muitos
casamentos começam, com risinhos charmosos e juras de amor, e também é nele e
por causa dele onde tais relacionamentos têm fim.
Refletir sobre a relação entre o boteco e
seus frequentadores é procurar compreender o discurso social em todos seus
lados humanos. É procurar entender como se constrói a identidade do brasileiro.
Algo comum no Brasil é que o boteco é
depreciado por diversos setores da sociedade. Quem deprecia é aquele ou aquela
que gosta de alimentar a desigualdade social, ao considerar o boteco como algo
sem valor.
Na verdade, o boteco é um lugar em que os
brasileiros se sentem bem, como se estivessem em casa. Nele existe um clima de
cumplicidade entre os frequentadores e o proprietário, e suas portas sempre
estão abertas para todos.
Por outro lado, para ser popular, um boteco
tem de ficar ligado à frequência das pessoas.
Será popular por viver sempre lotado e ser
conhecido por todos das redondezas, tornando-se também ponto de encontro tanto
para os homens como para as mulheres.
Hoje já é lugar comum que os botecos reúnam
famílias e amigos para algumas horas de lazer e conversas agradáveis, batendo
papo ou (dependendo de quanto cada um consumiu de bebida alcoólica) discutindo
sobre política, futebol, música e outros assuntos.
Do boteco nascem filosofias e grandes
pensamentos e também muita psicologia humana, quando as pessoas dão conselhos
umas as outras.
Muitos nomes importantes da cultura
brasileira, como Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Noel Rosa, Zeca Pagodinho,
Chico Buarque criaram músicas, letras, peças teatrais frequentando os botecos
da vida.
Petiscos tradicionais ou exclusivos do
boteco não podem faltar para acompanhar as bebidas. Arrumadinho de charque,
feijoada, caldinho de feijão, galinha à cabidela, sururu ao coco, caldinho de
camarão, escondidinhos, entre outras iguarias que variam de boteco para boteco.
Por fim, o boteco jamais será aquele bar
chique cheio de frescura. O boteco de verdade tem um ambiente liberal e
despojado.
Os botecos nos deixam à vontade. Neles não
ficamos com vergonha quando derramamos um copo de cerveja na mesa. Vergonha
não, mas tristeza no coração por causa do desperdício. (Texto de Rafael
Rocha)
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