sexta-feira, 23 de outubro de 2015

HUMANITAS Nº 41 – NOVEMBRO DE 2015 – PÁGINA 7

Um negro comunista na Assembleia Constituinte
Pedro Rodrigues Arcanjo - Olinda/PE

Claudino José da Silva era filho de lavradores pobres, nascido no dia 23 de julho de 1902, no município de Natividade (MG).
Foi aprendiz de carpinteiro em Niterói. De 1929 a 1931, trabalhou como ferroviário na Estrada de Ferro Leopoldina.
Ele ingressou no PCB em 1928, tornando-se membro da Liga Operária da Construção Civil de Niterói. Por sua atuação política em defesa dos interesses das classes trabalhadoras, terminou sendo preso em 1931.
Posto em liberdade, voltou a atuar no PCB e no movimento operário. Chegou a ficar gravemente enfermo em função dos maus-tratos e torturas que sofreu devido às sucessivas prisões.
Após restabelecer-se, foi designado pelo PCB para organizar o partido em Juiz de Fora e Belo Horizonte, nos anos de 1935 e 1936. Entre 1936 e 1937, ficou preso na Casa de Correção e no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Libertado, retornou a Minas Gerais, a fim de retomar sua militância no PCB, pelo que foi novamente preso durante oito meses. Solto mais uma vez, atuou clandestinamente no PCB durante o Estado Novo. Em razão disso, ficou detido no período entre 1940 e 1943.
Depois de sair da prisão, participou da Conferência da Mantiqueira, tendo sido eleito, durante o encontro, membro do Diretório Nacional do PCB e responsável pelo trabalho do Partido na Região Norte do país.
No contexto da redemocratização, tornou-se secretário político do Comitê Executivo do PCB no estado do Rio de Janeiro e membro do Comitê Central do Partido Comunista. Eleito deputado constituinte pelo PCB, nas eleições de dezembro de 1945, Claudino tornou-se o único parlamentar negro na Assembleia Constituinte.
Diferenciando-se das demais em função, principalmente da origem social de seus integrantes, a bancada comunista trazia elementos e práticas de encaminhamento político, aos quais os arranjos parlamentares de elites estavam pouco ou nada afeitos.
Esse tipo de desconforto aparecia, ainda que sutilmente, dentro e fora da Assembleia.
O jornal O Estado de São Paulo de 14/02/1946, por exemplo, usava os seguintes termos para qualificar o discurso do deputado Claudino José da Silva:
O orador ocupou a tribuna por tempo excessivo, e lia imperturbavelmente, atrapalhava-se na leitura, cometia silabadas a todo instante. (...)
O orador comunista, um autêntico popular e crioulo, cumpriu o seu dever partidário até o fim, apesar dos tropeços na leitura, cujo texto rebarbativo, mesmo para letrados, tal o jargão em que estava escrito.
Claudino concentrou sua atuação parlamentar na denúncia da prática de preconceitos raciais no Brasil e na defesa dos ex-combatentes da FEB em situação de dificuldade econômica, após o término da guerra.
Participou dos debates sobre o problema da discriminação racial, declarando apoio à emenda de Hamilton Nogueira (UDN/DF), que declarava a igualdade de todos perante a lei sem distinção de raça, punindo a prática do racismo em território nacional. Manifestou-se favorável à realização imediata de uma reforma agrária no país e à extinção das polícias políticas remanescentes do Estado Novo.
Em janeiro de 1948, teve o seu mandato de deputado cassado, juntamente com os demais parlamentares comunistas, vitimados pela onda repressiva resultante da Guerra Fria e pelo terrorismo de Estado do governo do general Eurico Gaspar Dutra.
Luiz Carlos Prestes, ao regressar do exílio em 1979, procurou seus velhos companheiros do PCB. Entre eles, Claudino José da Silva que velho e doente, vivia no estado do Rio, conseguindo sua internação na Casa São Luiz, instituição dedicada a atender a chamada velhice desamparada. Faleceu em fevereiro de 1985, aos 82 anos de idade.
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Texto extraído de AMORJ. Partido Comunista Brasileiro: da insurreição armada à união nacional (1935-1947). Rio de Janeiro: AMORJ/UFRJ, 2009.


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