Um negro comunista na Assembleia
Constituinte
Pedro Rodrigues Arcanjo - Olinda/PE
Claudino
José da Silva era filho de lavradores pobres, nascido no dia 23 de julho de
1902, no município de Natividade (MG).
Foi aprendiz de carpinteiro em Niterói. De 1929 a 1931, trabalhou como ferroviário na
Estrada de Ferro Leopoldina.
Ele ingressou no PCB em 1928, tornando-se
membro da Liga Operária da Construção Civil de Niterói. Por sua atuação
política em defesa dos interesses das classes trabalhadoras, terminou sendo
preso em 1931.
Posto em liberdade, voltou a atuar no PCB e
no movimento operário. Chegou a ficar gravemente enfermo em função dos
maus-tratos e torturas que sofreu devido às sucessivas prisões.
Após restabelecer-se, foi designado pelo
PCB para organizar o partido em Juiz de Fora e Belo Horizonte, nos anos de 1935
e 1936. Entre 1936 e 1937, ficou preso na Casa de Correção e no presídio da
Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Libertado, retornou a Minas Gerais, a fim
de retomar sua militância no PCB, pelo que foi novamente preso durante oito
meses. Solto mais uma vez, atuou clandestinamente no PCB durante o Estado Novo.
Em razão disso, ficou detido no período entre 1940 e 1943.
Depois de sair da prisão, participou da
Conferência da Mantiqueira, tendo sido eleito, durante o encontro, membro do
Diretório Nacional do PCB e responsável pelo trabalho do Partido na Região
Norte do país.
No contexto da redemocratização, tornou-se
secretário político do Comitê Executivo do PCB no estado do Rio de Janeiro e
membro do Comitê Central do Partido Comunista. Eleito deputado constituinte
pelo PCB, nas eleições de dezembro de 1945, Claudino tornou-se o único
parlamentar negro na Assembleia Constituinte.
Diferenciando-se das demais em função,
principalmente da origem social de seus integrantes, a bancada comunista trazia
elementos e práticas de encaminhamento político, aos quais os arranjos
parlamentares de elites estavam pouco ou nada afeitos.
Esse tipo de desconforto aparecia, ainda
que sutilmente, dentro e fora da Assembleia.
O jornal O Estado de São Paulo de 14/02/1946, por exemplo, usava os
seguintes termos para qualificar o discurso do deputado Claudino José da Silva:
O
orador ocupou a tribuna por tempo excessivo, e lia imperturbavelmente,
atrapalhava-se na leitura, cometia silabadas a todo instante. (...)
O
orador comunista, um autêntico popular e crioulo, cumpriu o seu dever
partidário até o fim, apesar dos tropeços na leitura, cujo texto rebarbativo,
mesmo para letrados, tal o jargão em que estava escrito.
Claudino concentrou sua atuação parlamentar
na denúncia da prática de preconceitos raciais no Brasil e na defesa dos
ex-combatentes da FEB em situação de dificuldade econômica, após o término da
guerra.
Participou dos debates sobre o problema da
discriminação racial, declarando apoio à emenda de Hamilton Nogueira (UDN/DF),
que declarava a igualdade de todos perante a lei sem distinção de raça,
punindo a prática do racismo em território nacional. Manifestou-se favorável à
realização imediata de uma reforma agrária no país e à extinção das polícias
políticas remanescentes do Estado Novo.
Em janeiro de 1948, teve o seu mandato de
deputado cassado, juntamente com os demais parlamentares comunistas, vitimados
pela onda repressiva resultante da Guerra Fria e pelo terrorismo de Estado
do governo do general Eurico Gaspar Dutra.
Luiz Carlos Prestes, ao regressar do exílio
em 1979, procurou seus velhos companheiros do PCB. Entre eles, Claudino José da
Silva que velho e doente, vivia no estado do Rio, conseguindo sua internação na
Casa São Luiz, instituição dedicada a atender a chamada velhice desamparada. Faleceu em fevereiro de 1985, aos 82
anos de idade.
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Texto extraído de AMORJ. Partido Comunista
Brasileiro: da insurreição armada à união nacional (1935-1947). Rio de Janeiro:
AMORJ/UFRJ, 2009.
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