sexta-feira, 23 de outubro de 2015

HUMANITAS Nº 41 – NOVEMBRO DE 2015 – PÁGINA 8

Zumbi dos Palmares e o Dia da Consciência Negra
Especial para o Humanitas

Rafael Rocha é jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

O Dia Nacional da Consciência Negra (comemorado em 20 de novembro) pode servir para que as pessoas reflitam sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data coincide com o dia da morte do líder negro Zumbi dos Palmares.
Apesar de a “história oficial” marcar a abolição da escravatura no dia 13 de maio de 1888, os negros não acatam essa ação, deixando de lado o 13 de maio para lembrar e festejar o 20 de novembro.
Para integrantes do Movimento Negro, o 13 de maio é uma data a ser reelaborada, porque mesmo tendo ocorrido uma abolição formal, os negros continuaram excluídos do processo social. Após a princesa Isabel ter decretado o fim da escravidão, as classes dominantes não contribuíram para inserir os ex-escravos em um novo formato de trabalho.
Como bem salientou o sociólogo Florestan Fernandes em sua obra “A integração do negro na sociedade de classes”:os senhores de escravos foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumissem encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho”.
O acesso à terra não foi concedido aos negros e até o precário espaço no mercado de trabalho ocupado por essa população foi entregue a trabalhadores brancos ou estrangeiros
Na realidade, a abolição legal da escravidão não garantiu condições reais de participação na sociedade para a população negra no Brasil.
Em nosso país existe uma valorização dos personagens históricos de cor branca.
Até parece que a história do Brasil foi construída pelos europeus e seus descendentes.
Imperadores, bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados heróis nacionais. Mas no dia 20 de novembro valoriza-se um líder negro em nossa história.
O líder é Zumbi dos Palmares! O grande herói de uma raça que, mesmo sob o jugo violento do chicote, nunca deixou de sonhar e lutar pela liberdade.
Hoje, após mais de três séculos, quando o Brasil é o segundo país do mundo em número de negros, Zumbi continua sendo símbolo de luta e denúncia da discriminação racial, na busca de uma sociedade mais justa, fraterna e sem preconceitos.
Para os negros, ele ainda vive. Sua luta, sua determinação os inspira, os enche do orgulho.
Zumbi é, sem dúvida, o maior símbolo da liberdade, da força.
Através dele os negros mostram que continuam tentando vencer para conscientizar o mundo de que também são capazes de revolucionar e de mudar esse mundo racista.
O nome de Zumbi apareceu pela primeira vez em documentos portugueses, em 1673, quando uma expedição chefiada por Jácome Bezerra foi desbaratada.
Tornou-se um grande guerreiro e estrategista militar na luta para defender o quilombo dos Palmares contra os soldados portugueses.
Foi ferido com um tiro na perna, em 1676, em um combate contra as tropas de Manuel Lopes Galvão.
Em 1692, o quilombo foi atacado por Domingos Jorge Velho, ficando completamente sitiado, mas só capitulou no dia 6 de fevereiro de 1694, quando o exército português conseguiu invadir o local, derrotando os quilombolas. Baleado, Zumbi caiu num desfiladeiro, o que deu origem ao boato que o herói tinha se suicidado para evitar voltar à vida de escravo.
Porém, ele conseguiu escapar e, em 1695, voltou a aparecer, atacando algumas povoações em Pernambuco. Só foi capturado no dia 20 de novembro de 1695, após traição de um dos seus principais comandantes, Antônio Soares, que revelou o esconderijo de Zumbi em troca da liberdade. O líder negro foi morto, esquartejado e teve a sua cabeça exposta em praça pública na cidade de Olinda, em Pernambuco.


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