Refúgio Poético – Cartas dos Leitores –
Teste de Xadrez
Meu sonho
familiar
Paul Verlaine (Metz 1844 / Paris 1896)
Tradução de Guilherme de
Almeida
Sonho às vezes o
sonho estranho e persistente
De não sei que mulher que eu quero e que me quer.
E que nunca é, de fato, uma única mulher
E nem outra, de fato, e me compreende e sente.
De não sei que mulher que eu quero e que me quer.
E que nunca é, de fato, uma única mulher
E nem outra, de fato, e me compreende e sente.
Compreende-me, e
este meu coração, transparente
Para ela, não é mais um problema qualquer,
Só para ela, o meu suor de angústia, se quiser,
Chorando, ela transforma em frescura envolvente.
Para ela, não é mais um problema qualquer,
Só para ela, o meu suor de angústia, se quiser,
Chorando, ela transforma em frescura envolvente.
Se é morena, ou se
loura, ou se ruiva – eu ignoro.
Seu nome? É como o nome ideal, doce e sonoro,
Dos amados que a vida exilou para além.
Seu nome? É como o nome ideal, doce e sonoro,
Dos amados que a vida exilou para além.
Seu olhar lembra o
olhar de alguma estátua antiga.
E sua voz longínqua, e calma, e grave, tem
Certa inflexão de emudecida voz amiga.
E sua voz longínqua, e calma, e grave, tem
Certa inflexão de emudecida voz amiga.
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Caminhão de
mudança
Jessier Quirino – Recife/PE
Vai pela estrada
um caminhão repleto de mudança
Levando a herança
de herdeiros de poucos herdados:
Os engradados de
uma cama finalmente em pé
Arca e Noé
prisioneiros desse esfaqueado
Encaixotados os
tecidos, mimos e quebráveis
E os incontáveis
cacarecos soltos remexidos
Dois falecidos num
retraio olham pra paisagem
Guardando imagens
e lembranças dos seus tempos idos.
Um velho espelho
já trincado mostra o azul do céu
E o mundaréu
ensolarado se faz de carona
Uma meia-lona
sobreposta com o melhor arrojo
Se faz de estojo
pra relíquia da velha sanfona
Uma poltrona
escancarada de pernas pra cima
Fazendo esgrima
com cadeiras, bancas e tramelas
De sentinela dois
pilões de bojo carcomido
E um retorcido pé
de bucha de flor amarela.
Em dois colchões
almofadados dorme a bicicleta
E duas setas de
uma caixa mostram dois achados:
Um emoldurado de
retraio com um Jesus sereno
E o último aceno
de saudade de um cortinado.
Desbandeirado
segue o carro rumo a seu destino
Um peregrino
pitombado de grande esperança
Vai, na boleia, um
passageiro carregando sonhos
Vai, na traseira,
dez carradas de velhas lembranças.
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Nihil
Guimarães
Passos
(Maceió 1867 / Paris 1909)
Sem aos outros
mentir, vivi meus dias
desditosos por
dias bons tomando,
das pessoas
alegres me afastando
e rindo às outras
mais do que eu sombrias.
Enganava-me assim,
não me enganando;
fiz dos passados
males alegrias
do meu presente e
das melancolias
sempre gozos
futuros fui tirando.
Sem ser amado, fui
feliz amante;
imaginei-me bom,
culpado sendo;
e se chorava, ria
ao mesmo instante.
E tanto tempo fui
assim vivendo,
de enganar-me
tornei-me tão constante,
que hoje nem creio
no que estou dizendo.
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CARTAS DOS LEITORES
Amo o Humanitas!. Além de trazer artigos que a Grande Mídia não
publica, tem uma página quase lotada de poesias de autores brasileiros e
estrangeiros. Parabéns! Maria do Carmo
Rodrigues – Olinda/PE
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PARA TODOS OS NOSSOS LEITORES E AMIGOS QUE O ANO DE 2019 SEJA REPLETO
DE REALIZAÇÕES E DESEJOS SATISFEITOS.
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