quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

HUMANITAS Nº 80 – FEVEREIRO 2019 – PÁGINA 7

SABER DEIXAR PARTIR!
Ana Maria Ferreira Leandro – Colaboradora do Humanitas -  É escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Saber deixar partir.
Há quem defenda que o amor é isso mesmo.
Respeitar a liberdade do outro é um ato de amor.
Dou o exemplo dos pais que veem crescer os filhos e que depois os veem sair de casa para viver as suas próprias vidas.
Saber deixar partir é ter a convicção intrínseca de que tudo é efêmero, ou de que nada é eterno; a consciência plena de que todas as histórias têm um princípio e um fim, até mesmo as de amor.
Pena é que a maior parte das pessoas não possua a maturidade emocional necessária para “saber deixar partir”.
São essas pessoas com “mal perder” que exterminam muitas vezes o amor, apagando todas as recordações dos momentos bons e tornando a vida do outro um verdadeiro inferno.
Por outro lado, aquilo que me é dado a observar numa grande parte dos casais que mantêm um relacionamento de aparências é o seu sentimento de posse no lugar onde deveria existir o sentimento de cumplicidade.
Ninguém pertence a ninguém, cada pessoa é única e basta-se a si mesma, moldar a personalidade do outro é limitar a própria oportunidade de amar; ninguém pode se sentir feliz ou fazer feliz se não poder expressar livremente seu eu.
Saber deixar partir requer tanta preparação como saber partir.
Quase sempre quem não sabe deixar partir e quem não sabe partir é movido pelos mesmos motivos: o medo de ficar só, a incapacidade de sentir-se independente, o medo de não ser socialmente aceito...
Uma relação de amor é como uma intervenção cirúrgica onde os sinais vitais deverão prevalecer sobre todas as coisas. Deve-se lutar sempre pela sobrevivência de uma relação, mas quando se chega à conclusão de que já se tentou com todas as forças e não se conseguiu, há que ter a coragem de deixar partir ou mesmo de partir, caso contrário, corre-se o risco de culpar o outro pela nossa infelicidade.
Muitos de nós assistimos, impávidos e serenos à morte do amor, muitas vezes camuflada por um casamento. Ofuscados pelo brilho da taça içada bem alto, muitos se esquecem que a mesma está, não raras vezes, erguida sobre um monte de cinzas.
Deixar partir talvez seja a coisa mais difícil que façamos na vida.
Ao longo da nossa vida precisamos aprender como deixar quem amamos partir.
Um pouquinho a cada dia, até que um dia, ela se foi por completo e restou a lembrança, daquilo que vivemos juntos e que foi bom.
Deixar partir é difícil, principalmente quando ainda gostamos dessa pessoa. Quando desejamos do fundo do coração que os caminhos, as decisões e as palavras tivessem sido outras.
Mas é necessário e diria que é um dos últimos grandes passos do amor.
Quando deixamos o outro partir, permitimos que ele seja feliz e nos permitirmos ser felizes.
Aprendemos a não ser âncora que aprisiona, e sim estrada que conduz, vento que impulsiona as asas em voos mais altos.

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