SABER DEIXAR PARTIR!
Ana Maria Ferreira Leandro – Colaboradora do Humanitas - É escritora e jornalista. Atua em Belo
Horizonte/MG
Saber
deixar partir.
Há quem defenda que o amor é isso mesmo.
Respeitar a liberdade do outro é um ato de
amor.
Dou o exemplo dos pais que veem crescer os
filhos e que depois os veem sair de casa para viver as suas próprias vidas.
Saber deixar partir é ter a convicção
intrínseca de que tudo é efêmero, ou de que nada é eterno; a consciência plena
de que todas as histórias têm um princípio e um fim, até mesmo as de amor.
Pena é que a maior parte das pessoas não
possua a maturidade emocional necessária para “saber deixar partir”.
São essas pessoas com “mal perder”
que exterminam muitas vezes o amor, apagando todas as recordações dos momentos
bons e tornando a vida do outro um verdadeiro inferno.
Por outro lado, aquilo que me é dado a
observar numa grande parte dos casais que mantêm um relacionamento de
aparências é o seu sentimento de posse no lugar onde deveria existir o
sentimento de cumplicidade.
Ninguém pertence a ninguém, cada pessoa é
única e basta-se a si mesma, moldar a personalidade do outro é limitar a
própria oportunidade de amar; ninguém pode se sentir feliz ou fazer feliz se
não poder expressar livremente seu eu.
Saber deixar partir requer tanta preparação
como saber partir.
Quase sempre quem não sabe deixar partir e
quem não sabe partir é movido pelos mesmos motivos: o medo de ficar só, a
incapacidade de sentir-se independente, o medo de não ser socialmente aceito...
Uma relação de amor é como uma intervenção
cirúrgica onde os sinais vitais deverão prevalecer sobre todas as coisas.
Deve-se lutar sempre pela sobrevivência de uma relação, mas quando se chega à
conclusão de que já se tentou com todas as forças e não se conseguiu, há que
ter a coragem de deixar partir ou mesmo de partir, caso contrário, corre-se o
risco de culpar o outro pela nossa infelicidade.
Muitos de nós assistimos, impávidos e
serenos à morte do amor, muitas vezes camuflada por um casamento. Ofuscados
pelo brilho da taça içada bem alto, muitos se esquecem que a mesma está, não
raras vezes, erguida sobre um monte de cinzas.
Deixar partir talvez seja a coisa mais
difícil que façamos na vida.
Ao longo da nossa vida precisamos aprender
como deixar quem amamos partir.
Um pouquinho a cada dia, até que um dia,
ela se foi por completo e restou a lembrança, daquilo que vivemos juntos e que
foi bom.
Deixar partir é difícil, principalmente
quando ainda gostamos dessa pessoa. Quando desejamos do fundo do coração que os
caminhos, as decisões e as palavras tivessem sido outras.
Mas é necessário e diria que é um dos
últimos grandes passos do amor.
Quando deixamos o outro partir, permitimos
que ele seja feliz e nos permitirmos ser felizes.
Aprendemos a não ser âncora que aprisiona,
e sim estrada que conduz, vento que impulsiona as asas em voos mais altos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário