Quer mudar o mundo? Comece
por arrumar o seu quarto!
Ana Maria F. Leandro – colaboradora do Humanitas
- é escritora e jornalista. Atua em
Belo Horizonte/MG
Cansado
de tentar fazer o filho adolescente se organizar melhor, com estudos que se
recusava a realizar; com grupos que não convinham; com busca de dependências
das quais não se livrava; o pai gritou: “eu
sei que o mundo está cheio de problemas, mas comece por resolver seus próprios
problemas”.
O desabafo tinha em sua linha de raciocínio
o título deste artigo.
A verdade é que na maioria das vezes
acusamos os erros “dos outros”, mas
não compreendemos que somos “partes deste
todo” e que estamos colaborando com o caos do universo.
Somos “o
outro do outro”, aquele que acusamos e nos acusa.
Um momento de reflexão nos ajudaria a “ver” que somos parte essencial dos
problemas dos quais nos queixamos, e que não ajudaremos a superar as
dificuldades humanas, enquanto nós mesmos não nos superarmos.
Isso se manifesta em várias formas de
comportamento.
Na simples recusa de arrumar o próprio
quarto (e aqui digo “o próprio espaço”),
nos vemos sempre num terrível descontrole até organizacional, que nos desespera
na procura de algo que sabemos possuir (às vezes um mero objeto; quando não é
uma perda mais grave que é do próprio caminho), por causa da coragem de
enfrentar nossa própria confusão.
Não, as pessoas a sua volta, nem mesmo seus
pais, não podem se ocupar do seu espaço!
Cada um tem o seu próprio e todos precisam
arrumá-lo num mínimo de convivência consigo e com os outros.
Perde-se, por exemplo, o tempo da juventude
nos estudos. Aquela fase mais fácil, em que não há filhos nem família para
cuidar, os jovens (e até mesmo já adultos) perdem o melhor tempo e
disponibilidade que teriam para cuidar dos estudos no mínimo básicos e obter
uma carreira profissional.
Muitos deles jogam sempre a “justificativa” de que “vai fazer um supletivo” (e ainda está
bom quando o fazem).
Mas a maioria é uma mera forma de escapar
da inquisição sobre “por que não está
estudando?”.
A insistência em ficar incomodado e
argumentar que “ninguém tem nada a ver com sua vida”, não facilita os
resultados dela.
De fato, “ninguém” a não ser você mesmo, tem “nada a ver com sua vida”.
E as conseqüências disto, só caberão a “você mesmo suportar”.
Nenhum ser vive a vida do outro. As
escolhas que fazemos só recairão sobre nós.
Nem mesmo os pais poderão resolver sua vida
quando ela estiver em caminhos difíceis e na maioria das vezes tragicamente
conseqüentes.
Os pais um dia se irão e pela ordem natural
das coisas, com freqüência antes de você.
Eis o seu mundo “desarrumado” e você com a sensação de que “o tempo de recuperação acabou”.
Os argumentos se acumulam numa sociedade
eivada de falhas como a que vivemos: “não
pude estudar porque tinha de trabalhar”.
Pois pode ter certeza de que quem não
nasceu em berço de ouro (e não pertence ao reino de reis e princesas), precisou
na maioria das vezes de estudar e trabalhar simultaneamente.
Outras justificativas se seguem: “fui pai ou mãe muito cedo (outro desgoverno
de gestão vida) e não deu para estudar”.
Mas a grande realidade é que perdeu o tempo
mais produtivo física e mentalmente da juventude em aventuras inconsequentes.
Depois reclama que ganha apenas o salário
mínimo (que de fato é acintoso); que tem de “pegar
no pesado” e não dá conta de outras obrigações; ou quem sabe nem consegue
emprego. Enfim que não pode ter qualidade de vida e tudo mais que tanto sabemos
que é a realidade de uma maioria.
Este tema não está sendo abordado para
questionar a vida de ninguém, mas para induzir ao pensamento (principalmente
quando a infância já se foi e a independência nos dá auto-estima), de que “a vida que cada um tem cabe a si mesmo
cuidar”... E sempre há tempo, isto é que essencial!
Não há a intenção de culpar ninguém, mas
sim de constatar “que a vida é de quem a
vive”.
Quando paramos de olhar para as falhas dos “outros” e cuidamos de compreender as
nossas próprias, eis o momento em que começamos a “arrumar o próprio quarto”.
Esse “quarto”
é nosso espaço de vida, o que nos foi dado para dele cuidarmos.
Organizando a própria vida teremos mais “tempo” para acertar. Não importa a
idade em que estamos.
Enquanto houver vida haverá tempo de
recomeçá-la. E você tem o “direito de ser
feliz” e resolver como vai ser o edifício da sua própria construção.
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