quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

HUMANITAS Nº 79 - JANEIRO DE 2019 - PÁGINA 5

Quem ganha com tudo isso?
Divina de Jesus Scarpim é escritora e professora. Atua em São Paulo/SP

Sério, eu fico “puta” da vida com as apostilas, roteiros, orientações e “o escambau” que os órgãos do governo têm apresentado para “ensinar” o professor a dar aulas!
Estou o tempo todo me perguntando quando é que alguém vai perguntar quem é que está enchendo o “rabo de dinheiro” com esse calhamaço imenso de “material pedagógico”, “cursos de reciclagem” e “estatísticas de avaliação”?!
Tudo isso, até onde entendi - e estou vendo bem de perto - é só um montão de maneiras, desonestas, inteligentes e ardilosamente preparadas para desviar verba da educação. E não vejo “ninguém” falando disso!
Toda reunião pedagógica de que participo tem, em seu âmago, a insinuação, nem sempre tão indireta, de que nós, professores, devemos assumir que “é nossa” a culpa por “todos” os problemas da educação no Brasil!
E somos dirigidos, de forma não muito honesta (para dizer o mínimo) a afirmar que sim, “somos culpados, mas juramos que vamos melhorar”.
Eu fico “muito furiosa” com isso!
E quando a gente vai olhar de perto algum desses calhamaços de “material pedagógico” que nos é enfiado goela abaixo, a gente encontra erros que, se eles fossem tão “phodas” quanto querem dizer que são, não teriam cometido.
O mais recente que encontrei (lendo só duas páginas), em uma apostila para professores ministrarem aula de português para o primeiro ano do ensino médio, foi o trecho: “era lavada durante à noite”.
Mas esse não foi o primeiro erro, garanto que já vi até piores.
Eles quase sempre colocam um texto qualquer, nem sempre tão adequado assim, e “ensinam” o que o professor deve fazer com suas turmas a partir daquele texto.
Juro, eles não “se mancam” que isso é “óbvio” e já é feito pelos professores, com textos mais relevantes em muitos casos!
Quem são os empresários, donos de gráficas, editoras, agências de propagandas, fábricas de papel e outros, que estão levando a verba da educação que poderia ser usada para que a escola tivesse mais recurso?
Para que tivéssemos mais condições de usar as mídias em aula?
Para que tivéssemos computadores suficientes e atualizados?
Para que tivéssemos bibliotecas com espaço suficiente para os alunos? Para que pudéssemos tirar cópias de textos para todos?
Para que pudéssemos levar os alunos aos museus, parques, teatro, cinema, universidades e outros lugares que, embora perto da escola não podemos frequentar como deveríamos?
Para que tenhamos condições de ministrar aulas em escola única sem ter que passar parte do dia viajando em ônibus cheios de uma escola para outra?
Para que tenhamos um salário digno e, principalmente, para que nossa profissão seja valorizada?
Quem está levando esse dinheiro todo, rindo da nossa cara e dando “um jeitinho” para que a gente seja acusado(a) - algumas vezes até por nós mesmos via questionários “bem” preparados que temos que responder e enviar - de sermos os culpados pela situação ruim da educação no Brasil?
Será que um dia alguém vai me responder essa pergunta?

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