PRIMEIRA GREVE GERAL NO BRASIL FAZ 100 ANOS
Rafael Rocha,
jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE
Nos primeiros tempos da organização dos
trabalhadores brasileiros aconteceu uma greve por aumento salarial e liberdade
no estado de São Paulo, em julho de 1917. Várias categorias participaram desse
nosso primeiro grande movimento paredista.
A História ainda não trouxe ao conhecimento
das pessoas como se desenrolou esse movimento, os motivos, e como a greve deu
suporte ao futuro, com a mobilização dos trabalhadores, até o fim da chamada
República Velha, no começo dos anos 1930.
O movimento teve forte influência
anarquista ainda que os socialistas da época tivessem participado com força
total. Essa greve durou três dias e paralisou inteiramente a capital paulista,
mas seu participantes sofrem duras represálias por parte das autoridades
policiais e do governo.
Durante protesto diante da Tecelagem
Mariângela, empresa do grupo Matarazzo, inaugurada em 1904 na Rua Monsenhor
Andrade, no bairro operário do Brás, centro paulistano, e tombada em 1992, a cavalaria avançou
sobre os operários. No ataque, o jovem José Martinez, 21 anos, espanhol,
sapateiro e anarquista, foi morto com um tiro no peito.
Após o enterro de Martinez, o Comitê de
Defesa Proletária e dezenas de organizações se reúnem no dia 11 de julho e
aprovam uma pauta com 15 itens, exigindo a libertação dos que foram presos
durante a greve, garantia de não punição a quem participou do movimento,
reajuste salarial, jornada de oito horas diárias, e o fim de exploração de mão
de obra de menores e de mulheres no período noturno.
Também foram incluídas reivindicações como
redução no preço dos aluguéis e garantia de que inquilinos não fossem
despejados. No dia seguinte, 12 de julho, entraram em greve os padeiros,
leiteiros, trabalhadores dos serviços de gás e luz.
"A cidade amanheceu sem pão, sem
leite, sem gás, sem luz e sem transporte. A atividade industrial foi
paralisada. O comércio fechou as portas. Teatros, cinemas e casas de diversão
adiaram as programações. O tráfego de bondes foi interrompido. (...) Os
paulistanos jamais tinham presenciado um movimento de tal envergadura",
narra Christina Lopreato.
Vários confrontos entre grevistas e a
polícia foram registrados na cidade. Com a greve deflagrada muitas pessoas
morreram em conflitos naqueles dias.
De acordo com o relato de Edgard Leuenroth,
tipógrafo e jornalista, condenado naquele ano como um dos articuladores da
greve geral, a primeira de que se tem registro no Brasil, o movimento teria
atingido 50 mil pessoas, quando a cidade tinha 500 mil habitantes e foi uma "das mais impressionantes
demonstrações populares até então verificadas em São Paulo".
Edgard Leuenroth (1881-1968) foi o criador
do jornal A Plebe, sob orientação anarquista, que exercia forte
influência entre os trabalhadores.
Até hoje existem dúvidas sobre as origens
da greve de 1917. Ela foi espontânea ou organizada? Alguns pesquisadores
apontam a primeira opção, mas historiadores como Christina Lopreato e Luigi
Biondi destacam que já havia uma organização em curso no Brasil.
O mundo sofria novas influências.
Os patrões acataram em parte as propostas
que incluíam libertação de presos, direito à associação, esforços contra as
altas de preços e falsificação de produtos alimentícios e medidas para evitar
trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos. Depois de três comícios
realizados na segunda-feira, 16 de julho, no Largo da Concórdia, na Lapa e no
Ipiranga, o acordo foi aprovado.
Foi "a primeira grande batalha do
trabalho no Brasil", disse o Comitê de Defesa Proletária em manifesto.
Se não conseguiram todas as reivindicações (desideratuns, no termo em latim), "ficará como exemplo
para todos aqueles que contra o direito à vida da classe trabalhadora até hoje
se têm oposto com brutal resistência e violência".
Neste ano de 2017, a luta volta a ser
retomada contra o governo golpista, a mídia elitista e o patronato, os quais
querem de toda maneira fazer com que o Brasil volte ao tempo do atraso de antes
de 1917.
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