sexta-feira, 30 de junho de 2017

HUMANITAS Nº 61 – JULHO DE 2017 – PÁGINA CINCO


PRIMEIRA GREVE GERAL NO BRASIL FAZ 100 ANOS
Rafael Rocha, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

Nos primeiros tempos da organização dos trabalhadores brasileiros aconteceu uma greve por aumento salarial e liberdade no estado de São Paulo, em julho de 1917. Várias categorias participaram desse nosso primeiro grande movimento paredista.
A História ainda não trouxe ao conhecimento das pessoas como se desenrolou esse movimento, os motivos, e como a greve deu suporte ao futuro, com a mobilização dos trabalhadores, até o fim da chamada República Velha, no começo dos anos 1930.
O movimento teve forte influência anarquista ainda que os socialistas da época tivessem participado com força total. Essa greve durou três dias e paralisou inteiramente a capital paulista, mas seu participantes sofrem duras represálias por parte das autoridades policiais e do governo.
Durante protesto diante da Tecelagem Mariângela, empresa do grupo Matarazzo, inaugurada em 1904 na Rua Monsenhor Andrade, no bairro operário do Brás, centro paulistano, e tombada em 1992, a cavalaria avançou sobre os operários. No ataque, o jovem José Martinez, 21 anos, espanhol, sapateiro e anarquista, foi morto com um tiro no peito.
Após o enterro de Martinez, o Comitê de Defesa Proletária e dezenas de organizações se reúnem no dia 11 de julho e aprovam uma pauta com 15 itens, exigindo a libertação dos que foram presos durante a greve, garantia de não punição a quem participou do movimento, reajuste salarial, jornada de oito horas diárias, e o fim de exploração de mão de obra de menores e de mulheres no período noturno.
Também foram incluídas reivindicações como redução no preço dos aluguéis e garantia de que inquilinos não fossem despejados. No dia seguinte, 12 de julho, entraram em greve os padeiros, leiteiros, trabalhadores dos serviços de gás e luz.
"A cidade amanheceu sem pão, sem leite, sem gás, sem luz e sem transporte. A atividade industrial foi paralisada. O comércio fechou as portas. Teatros, cinemas e casas de diversão adiaram as programações. O tráfego de bondes foi interrompido. (...) Os paulistanos jamais tinham presenciado um movimento de tal envergadura", narra Christina Lopreato.
Vários confrontos entre grevistas e a polícia foram registrados na cidade. Com a greve deflagrada muitas pessoas morreram em conflitos naqueles dias.
De acordo com o relato de Edgard Leuenroth, tipógrafo e jornalista, condenado naquele ano como um dos articuladores da greve geral, a primeira de que se tem registro no Brasil, o movimento teria atingido 50 mil pessoas, quando a cidade tinha 500 mil habitantes e foi uma "das mais impressionantes demonstrações populares até então verificadas em São Paulo".
Edgard Leuenroth (1881-1968) foi o criador do jornal A Plebe, sob orientação anarquista, que exercia forte influência entre os trabalhadores.
Até hoje existem dúvidas sobre as origens da greve de 1917. Ela foi espontânea ou organizada? Alguns pesquisadores apontam a primeira opção, mas historiadores como Christina Lopreato e Luigi Biondi destacam que já havia uma organização em curso no Brasil.
O mundo sofria novas influências.
Os patrões acataram em parte as propostas que incluíam libertação de presos, direito à associação, esforços contra as altas de preços e falsificação de produtos alimentícios e medidas para evitar trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos. Depois de três comícios realizados na segunda-feira, 16 de julho, no Largo da Concórdia, na Lapa e no Ipiranga, o acordo foi aprovado.
Foi "a primeira grande batalha do trabalho no Brasil", disse o Comitê de Defesa Proletária em manifesto. Se não conseguiram todas as reivindicações (desideratuns, no termo em latim), "ficará como exemplo para todos aqueles que contra o direito à vida da classe trabalhadora até hoje se têm oposto com brutal resistência e violência".
Neste ano de 2017, a luta volta a ser retomada contra o governo golpista, a mídia elitista e o patronato, os quais querem de toda maneira fazer com que o Brasil volte ao tempo do atraso de antes de 1917.

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