EDUCAÇÃO
ARMADA – O ÚLTIMO TIRO
Ana Leandro – colaboradora do Humanitas
- é escritora e jornalista. Atua em
Belo Horizonte/MG
Fico às vezes me
perguntando, quando foi que a “Guerra Contra a Educação” começou? Lembro da
minha infância humilde, mas ir para a escola era algo tão natural como fazer
refeição diariamente.
Meus pais que
iniciaram uma vida conjugal com baixos níveis de escolaridade levaram,
entretanto, seis filhos à plena educação, tanto familiar quanto acadêmica.
Sempre cito a pitoresca fala de minha mãe que dizia como uma ameaça: “quem não
quiser estudar vai puxar carroça quando ficar adulto”.
Bem, a profecia
não tinha como se confirmar, pois já no início de nossa idade adulta, não mais
existiam carroças para puxar. Pouquíssimas, aqui e ali no interior e quase
nenhuma nas grandes cidades.
Talvez possamos
dizer “ainda bem”. Mas não! Infelizmente nem tudo que sobreveio foi melhor,
porque hoje quando uma mãe quer mostrar ao filho que precisa estudar para ter um
bom emprego e futuro, a alternativa não é mais “vai puxar carroça”.
Essas não existem.
Mas “formas de
ganhar dinheiro” através de drogas e “formação de quadrilhas” não exigem
assento nas carteiras escolares, nem diploma, nem tempo demais para render.
Só que uma “boa
educação familiar” era a base para que não havendo carroças escolhêssemos
“estudo e trabalho”.
O fato é que
minha geração não resistia tanto à escola. Ao contrário: fazíamos amigos,
formávamos equipes de trabalho para atividades físicas, em classe ou
extraclasse.
As formaturas
eram verdadeiros eventos em que nós, orgulhosos, desfilávamos de togas e
chapéus. Diretores (as) e professores (as) eram espécies de “Reis e Rainhas”
na nossa vida, respeitávamos como grandes autoridades, donos de uma sabedoria
que admirávamos.
É verdade que
passávamos apertos com provas e trabalhos, disputávamos entre colegas quem
atingiria maior pontuação. De vez em quando fazíamos traquinagens não
aceitáveis e por isto levávamos castigos: “de
pé e de costas na parede até ser autorizado a sair”; “assentado nesta cadeira isolada da turma,
para você pensar sobre o que fez” etc.
Ai do professor
que hoje der tais ordens! Responderá no Conselho Tutelar ou até mesmo na
justiça comum por intransigência ou “abuso de autoridade”.
Pergunto: quem
são os “grandes perdedores” nesta história? Ir para a cadeia pública, ou viver
esmolando uma sobrevida é melhor do que os castigos escolares?
Uma juventude
hoje perdida num caos onde todo mundo manda e ninguém obedece é o resultado de
deixá-los fazer o que quiserem, sem controle e sem limitações.
Em que momento
começou essa guerra?
Eu tenho até hoje
memórias de meus professores, como “heróis” que me abriram os caminhos
da vida!
Meus pais eram
rigorosos, quanto a dar apoio a eles; qualquer reclamação quanto a qualquer
professor(a) que fazíamos, mamãe retrucava energicamente: “ele é que sabe o
que VOCÊ precisa aprender. Você é que precisa dele e não o contrário. Portanto
cale-se e obedeça as decisões dele”.
E “ponto final”.
Levávamos outro
castigo em casa. Sou psicóloga na área educacional, sei que o processo
educacional tem que se abrir cada vez mais para o diálogo. Mas não para a
transferência de responsabilidades.
Mudou-se da
palmatória (que eu abomino) para o totalitarismo do aprendiz!
Alunos se dirigem
e respondem a professores como a qualquer moleque de rua; usam de palavrões
para atacá-los, e por inúmeras vezes já se chegou à agressão verbal e física.
E pasmem: já são
inúmeros os registros de assassinatos de professores por alunos!
Para coroar essa
guerra, eis que o presidente dos EUA, país referenciado como potência mundial,
resolve que se deve “armar alunos, professores e funcionários” das Instituições
de Ensino.
A “guerra está
declarada”! O “último tiro” da fase em que “escola“ era um lugar que foi
feito para se ir “aprender” pode virar agora um grande “campo de guerra”. Todos
armados!
Justifica-se que
é “autodefesa”. Estamos mesmo em um campo de guerra e o “normal”
num lugar onde se vai para aprender “a valorizar a vida”, é mesmo
colocar a mesma em jogo?
Isso...
Quem for o mais
esperto, naturalmente atira primeiro!
Há poucos dias eu
sugeri em um de meus escritos: “E se
transformássemos todos os quartéis em escolas?”
Irônicamente, poucos dias depois vejo a notícia de que não, as escolas
podem vir a ser “uma das nossas forças armadas”!...
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