TRABALHAR
ENOBRECE O HOMEM?
Especial
do Humanitas
Em todos os recantos do mundo, no dia 1º de
maio, é comemorado o Dia do Trabalho, ou mais especificamente, o Dia do
Trabalhador.
Será que realmente existe algo para
festejar?
A máxima mais antiga sustentada pelas
elites dominantes é a de que o trabalho enobrece o homem. Essa deve ter sido a
primeira campanha de publicidade feita pela mídia.
Seu objetivo primordial era o de fazer as
pessoas comprarem a ideia de trabalhar para enobrecer a própria vida, quando na
verdade serve para enriquecer os patrões.
A palavra
trabalho vem do latim “tripalium”, que significa castigo. E é bem
pertinente, pois muitas pessoas consideram o trabalho uma verdadeira tortura
diária. O “tripalium” do latim
era uma espécie de estaca fincada no chão e que servia de tronco para o castigo
dos escravos da Idade Média.
No latim clássico, a principal palavra que
designava trabalho era “labor”. Antes de tudo, significava
apenas fadiga que advém do trabalho.
Com o tempo, a parte passou a representar o
todo. Em sentido figurado, era usado para doença, desgraça e dor. Em grego, a
palavra mais próxima de trabalho era “pónos”.
O significado: pena, sofrimento, fadiga.
Em japonês, “arubaito” se
referia apenas a trabalho temporário. Mais tarde, os “dekasseguis”,
ou estrangeiros que foram trabalhar no Japão, associaram a palavra a três K: “kitsui”
(penoso), “kitanai” (sujo) e “kiken”
(perigoso).
Em alemão, o vocábulo a designar trabalho é
“arbeit”, que tem relação com um antigo verbo germânico que
designava as pesadas atividades físicas que as crianças órfãs tinham de fazer
para sobreviver.
Ao longo do tempo parece que poucas
mudanças aconteceram. Aqueles que detinham mais poder acabaram forçando outras
pessoas, principalmente as menos favorecidas, a realizarem o trabalho mais
pesado.
Dessa forma, o trabalho não era visto como
algo digno, ficando relegado àqueles considerados inferiores na sociedade.
Foi Martinho Lutero, com a reforma
religiosa ou criação do protestantismo, que retirou do termo trabalho as
conotações pejorativas, dando-lhe um significado positivo e útil. Segundo ele, “o trabalho constitui, antes de mais nada, a
própria finalidade da vida.”
Ele entendia a ética do trabalho como uma
obra altamente moral, que servia para melhorar a qualidade de vida da pessoa e
transformar a sociedade.
A partir de Lutero, o trabalho tornou-se um
dever que beneficiava indivíduo e sociedade como um todo.
No entanto, de acordo com Karl Marx, no
sistema atual o trabalhador produz bens que não lhe pertencem e cujo destino,
depois de prontos, escapa ao seu controle.
O trabalhador, assim, não pode se
reconhecer no produto de seu trabalho; não há a percepção daquilo que ele criou
como fruto de suas capacidades físicas e mentais, pois se trata de algo que ao
trabalhador não terá utilidade alguma.
A criação (o produto) se apresenta diante
do mesmo como algo estranho, e não como o resultado normal de sua atividade e
do seu poder de modificar livremente a natureza.
Assim sendo, se o produto do trabalho não
pertence ao trabalhador e de certa forma, o trabalhador se defronta com o mesmo
de uma forma estranha, isso somente ocorre porque tal produto pertence a outro
homem que não é o trabalhador.
Em termos simples quem se apropria da maior
parte do fruto e do trabalho operário? Marx responde: “O capitalista! O proprietário dos meios de produção!”
Eis o que diz Marx: “O trabalhador só é ele próprio quando não trabalha. No seu trabalho
sente-se fora de si próprio. O seu trabalho não é voluntário, mas forçado. Não
é a satisfação de uma necessidade, mas somente uma forma de gratificar a
necessidade de outrem”.
Trabalho significa acumulação de capital
pelo patrão. É a organização do poder de classe, a estrutura da sociedade
capitalista moderna.
Segundo o economista e político português
Francisco Louçã, “a enorme expansão do
trabalho ao longo destes dois séculos é subjugada pelo crescimento do mundo das
mercadorias, ou porque é que o trabalho, que tudo produz, ainda é nada”.
O
que o trabalhador festeja então nessa data?
Nenhum comentário:
Postar um comentário