quarta-feira, 28 de setembro de 2016

HUMANITAS Nº 52 – OUTUBRO 2016 – PÁGINA 8

Um mundo turbinado pelo desligamento social
Especial para o Humanitas
Manfred Grellmann é um autodidata colaborador do Humanitas. Mora em Camaragibe/PE

A quantidade de problemas que o mundo moderno, turbinado pela tecnologia, tem acumulado, criou um estado difícil para ações de reorganização da sociedade para que ela possa se sustentar de forma duradoura.
Obviamente, há gente capaz de fazê-lo,  como demonstram ações pontuais e  ainda é possível. Porém, a súcia do poder ou da maldade destruidora, é mais forte. 
Já perguntei as pessoas se elas já pensaram alguma vez sobre a necessidade de se decidir pelo abandono de certas tecnologias e cancelar a fabricação de alguns produtos e materiais, principalmente aqueles que não podem ser reciclados.
Essa pergunta é incômoda, porque o mundo só sabe viver com o que está na moda. As pessoas se esquecem que crescer e se desenvolver têm limites, e que o tipo de sociedade que conhecemos e endeusamos tem seus dias contados.
Então, o que vemos hoje é uma monstruosa  armadilha impossível de ser desarmada!
O desarme acontecerá, sim, mas pelo terrível  preço do desastre! Somos uma raça destinada ao suicídio coletivo!
Em uma feira de rua num sábado em São Paulo, parei em uma barraca para tomar um caldo de cana. Enquanto saboreava, notei que não havia refrigerantes sendo vendidos nela, tampouco nas redondezas da feira.
Ao indagar o motivo disso, o proprietário respondeu dizendo que era uma imposição da prefeitura. A resposta  me causou surpresa e não ficou sem questionamento.
A explicação: a prefeitura diz que oferecendo refrigerantes e caldo de cana, os fregueses tomarão somente refrigerantes  e não caldo de cana, que é muito mais saudável. Então, cadê a liberdade de escolher o que se quer vender e beber?
Um fenômeno recente  que se configura em  um estado  de exclusão social, de comportamento drogado, de alienação social, são os smartphone-zumbis. É uma praga planetária. É fácil chegar a algum lugar e ter a sensação de estar num  espaço vazio.
Ou seja, não há ninguém, porque todos os presentes estão conectados à maquina e desconectados das pessoas! Não há forma mais clara de qualificar, exemplificar  um zumbi. Basta olhar para uma figura dessas, teclando com vista congelada e imóvel na tela!
Esse aspecto novo como muitos outros da sociedade moderna, é um caminho sem volta que irá contribuir para  o possível  suicídio da espécie ou redução a poucos exemplares. O comportamento viciante da era digital é certamente uma surpresa  para os desdobramentos das manias que o cérebro consegue desenvolver.
Os smartphones-zumbis são exemplos desses vícios estranhos desconhecidos há duas  décadas. Recentemente, em São Paulo, uma mulher foi  internada numa clínica para tratamento de drogados porque não conseguia  largar seu celular ou computador, sempre acessando as redes sociais, fato que  a fez esquecer de levar a filha para a escola, de dormir, de comer e finalmente perder o emprego e observar o fim de seu casamento.
Neste mundo comandado pela mídia e pela falsa  propaganda novos problemas e vícios minimizam e se sobrepõem a antigos, fazendo com que os referenciais de conduta se desloquem  de forma  impercebível  para a maioria esmagadora, que confunde alteração com evolução e modernismo, sem ver nisso um processo de degradação.
Desde o advento da televisão, pensadores alertavam sobre os malefícios desse meio de comunicação da forma como estava sendo usado.
Coisas como destruição do diálogo, visitas que transcorriam em silêncio, não raro, as únicas frases trocadas eram boa noite na chegada e até logo na saída.
Não se pode trabalhar, concentrar-se ou conversar quando a TV está ligada.
Na verdade, esse equipamento é para ser usado em momentos de tempo livre e vontade de assistir àquilo que se deseja, seja  informação ou distração.
Ora, a TV já impõe nos lares um desligamento social e  coloca na UTI o  diálogo em família.
E quando há algum diálogo é sobre lixo, não o tratamento do lixo, mas sobre o lixo cultural chamado NOVELA e, pior, BBB !
Quanto tempo ainda falta para o fim da raça humana?

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