quinta-feira, 30 de março de 2017

HUMANITAS Nº 58 – ABRIL DE 2017 – PÁGINA 8

A tortura como arma dos ditadores de 1964/1985

Especial do Humanitas

As principais técnicas de tortura foram ensinadas por agentes franceses que vieram ao Brasil divulgar entre os nossos militares os métodos aprendidos e utilizados na Guerra da Argélia.
Muitos oficiais brasileiros foram alunos de aulas de tortura na Escola das Américas, criada pelo Departamento de Defesa dos EUA.
Depois desse aprendizado, os militares do Brasil ensinaram as técnicas de tortura para outros serviçais de ditadores de países da América Latina que também mantinham regimes ditatoriais.
De acordo com o relatório da Comissão Nacional da Verdade, além dos civis mortos ou desaparecidos, mais de seis mil pessoas foram torturadas durante o regime ditatorial civil/militar de 1964/1985.
O choque elétrico foi um dos métodos de tortura mais cruel e largamente utilizado durante o regime militar.
Geralmente, o choque era dado através de um telefone de campanha do Exército que possuía dois fios longos que eram ligados ao cor­po nu do preso, normalmente nas partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e dedos.
O acusado recebia descargas sucessivas até cair no chão.
Os torturadores brasileiros eram, em sua maioria, militares das Forças Armadas, em especial do Exército. Os principais centros de tortura no Brasil foram os Destacamentos de Operações de Informação – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI), órgãos militares. Um dos militares mais atuantes nesse setor foi o coronel de Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Mas existiam também torturadores civis, atuando sob ordens dos militares. Um dos mais famosos e cruéis foi Sérgio Paranhos Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP).
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Uma época que não deve jamais ser esquecida

A tortura do regime militar instalou-se no Brasil desde o primeiro dia do golpe: em 1º de abril de 1964. A primeira vítima de tortura foi o líder camponês Gregório Bezerra. No dia do golpe, o coronel do Exército, Darcy Ursmar Villocq Vianna - o coronel Villocq -, amarrou Gregório Bezerra com cordas, ordenando que soldados arrastassem o preso pelas ruas do Recife, humilhando-o com vitupérios verbais e espancando-o com uma vareta de ferro.
O coronel incitava o povo para ver o “enforcamento do comunista”. Gregório Bezerra levou coronhadas pelo corpo, além de ter os pés queimados com soda cáustica. O Recife foi um dos lugares que mais sofreu atrocidades, tendo civis agredidos e mortos em passeatas que protestavam a favor da democracia.
Torturadores escreveriam seus nomes nas páginas da História do Brasil.  Tais como o do delegado Sérgio Fleury, uma espécie de Torquemada da ditadura militar, bem como Carlos Alberto Brilhante Ustra, oficial de alta patente, que hoje é glorificado como herói por um deputado federal chamado Jair Bolsonaro.
Infelizmente, o governo instalado no dia 1º de abril de 1964 manteve-se, contrariando todos os princípios que regem os direitos humanos, traduzidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948.
Tais direitos foram negligenciados pelos EUA que, para manter a sua ideologia apoiou e financiou sangrentas ditaduras militares em toda a América Latina.
 Os que ousaram contestar a ditadura eram, na sua maioria, jovens idealistas, muitos politizados e engajados, outros em processo de politização, que se atiravam aos ideais, dispostos até mesmo a morrer por eles. A maioria dos torturados que morreram eram jovens.
 Findo o regime militar, a tortura foi justificada pelos ex-presidentes ditadores como um mal necessário, como arma de defesa diante de uma guerra que se vivia. Nenhum torturador foi preso ou punido por seus atos. Todos foram beneficiados pela lei da Anistia, que em 1979 anistiou os presos políticos, os exilados e os torturadores da ditadura militar.
O uso da tortura continua a ser a maior marca de desumanidade da recente História do Brasil.

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