quinta-feira, 30 de março de 2017

HUMANITAS Nº 58 – ABRIL DE 2017 – PÁGINA 7

Abril faz história: Golpe agora é impeachment
Especial do Humanitas

Aconteceu em abril. No dia 17 de abril do ano de 2016. Outra data de triste memória para a democracia brasileira.
Outra data em que a Carta Magna foi estuprada até mesmo pelos que a deviam defender, no caso o Supremo Tribunal Federal.
O novo Golpe de Estado derruba uma mulher eleita para o cargo de presidente da República com mais de 54 milhões de votos.
E dão a isso o nome de impeachment. Tudo para fornecer cores de democracia ao ato.
Na ocasião, a Câmara dos Deputados tornou-se um circo.
Foram 367 votos a favor do Golpe, com os deputados golpistas agradecendo a Deus, aos seus cachorros, aos pais, filhos, esposas, aos gatos e até ao Papai Noel.
Depois, o Senado sancionou o Golpe, também votando a favor e passando o poder ao vice Michel Temer, acusado desde o final de 2015 de receber R$ 5 milhões do presidente da Câmara, o deputado Eduardo Consentino da Cunha, que também teria recebido R$ 52 milhões parcelados em 36 vezes, de acordo com uma das inúmeras delações.
O processo contra a presidente Dilma Rousseff foi eivado de falácias e de acusações descabidas. Nada ficou provado contra ela até hoje. Não houve enriquecimento ilícito. Utilizaram o termo “pedaladas fiscais” para enquadrá-la como criminosa. 
Tudo foi um Golpe de Estado muito bem orquestrado por juristas como Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, com o apoio da Grande Mídia e de setores retrógados da direita.
A história se repete novamente em um mês de abril. No dia da mentira, em 1º de abril de 1964, a democracia também foi estuprada por civis e militares, utilizando a mentira de salvaguardar as instituições brasileiras do perigo do comunismo.
Tanto que no dia 17 de abril de 2016, o deputado Jair Bolsonaro, ao dar seu voto a favor do golpe branco, chegou a defender como herói o torturador militar Brilhante Ustra, que colocou ratos na vagina de uma mulher em um processo de tortura ocorrido no regime ditatorial de 1964/1985.
A mentira retornou novamente. O ódio foi disseminado pela Grande Mídia na cabeça de uma parcela da população. Mesmo sem ter provas concretas e cabais, essa parcela da população acha que a presidente eleita por mais de 54 milhões de votos roubou os cofres públicos e devia perder o cargo.
Hoje, vemos encerrado o ciclo Lula/Dilma. Encerrado por meio de um golpe branco. E com o Partido dos Trabalhadores (PT) também tendo grande parcela de culpa, porque se distanciou do progressismo que caracterizou sua história e mergulhou em alianças espúrias com partidos traiçoeiros, como o PMDB, e com políticos nada confiáveis como Paulo Maluf, Collor de Mello e José Sarney.
No dia 31 de agosto de 2016 o plenário do Senado concretizou o golpe branco, afastando a presidente eleita.
Defendendo-se no Senado, a presidente Dilma Rousseff disse que não praticou irregularidades no exercício do cargo e que o dito impeachment é, na verdade, um Golpe de Estado por ser motivado por razões políticas e por não ter existido crime de responsabilidade em seu governo.
A ação movida contra a presidente e os discursos dos políticos na Câmara dos Deputados, em Brasília, tornaram-se piada e ganharam manchetes em jornais do mundo inteiro. Veículos internacionais da Mídia questionaram a legitimidade dos golpistas.
O jornal espanhol El Pais classificou o impeachment em editorial como um Golpe baixo no Brasil O britânico The Guardian publicou que A queda de Dilma não irá curar todos os problemas do Brasil”.
No mês de julho/2016, em Paris, o Senado francês também havia se manifestado em manifesto publicado pelo jornal Le Monde contra o iminente impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Assistimos à tomada de poder, sem legitimidade popular, por aqueles que perderam a disputa presidencial, com o intuito de colocar em prática seus programas rejeitados pelas urnas. 
No mesmo documento, os senadores franceses comentam que “estamos também preocupados com o envolvimento (no golpe de Estado) da grande mídia brasileira pertencente a grandes grupos financeiros, por uma campanha extremamente violenta a favor da destituição e criminalização da esquerda. Essas mesmas mídias brasileiras apoiaram o golpe de Estado Militar de 1964 a partir do qual construíram verdadeiros impérios midiáticos“.

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