Intervenção militar: sim ou não?
Especial para o Humanitas
(CONTINUA NA PÁGINA 5)
A dificuldade
de o atual governo federal fazer voltar a crescer a economia nacional, junto
com a possibilidade do envolvimento de políticos da base aliada com a
corrupção, segundo a Operação Lava-Jato, tem levado um segmento da sociedade
brasileira a desejar a intervenção das Forças Armadas.
Tal possibilidade surge como uma solução em
face de um Congresso desacreditado, um Judiciário suspeito, e, principalmente,
a volta ao poder dos representantes das forças populares, amparados pelas
conquistas sociais alcançadas no governo do PT. A questão que preocupa não é a
intervenção em si, porém, a dúvida: estaria
o militar atual preparado para tal missão?
Tal assunto nos remete para o que aconteceu
em 1964, quando os militares, amparados por segmentos da sociedade manipulados
pela mídia, pela Igreja Católica e as forças conservadoras tomaram o poder,
instalando no país uma ditadura militar que durou 21 anos.
Segundo Agassiz Almeida (A Ditadura dos Generais: Estado Militar
na America Latina: O Calvário Militar na Prisão Editora 2ª Edição Rio
de Janeiro - Bertrand Brasil, 207) “fomos
logrados ao pensar que o Golpe Militar de 64, no Brasil como nos outros países
latino-americanos, desfechou-se por imediatas e superficiais motivações
políticas de grupos econômicos ou militares; de discurso do Presidente da
República em concentração popular, de quebra de hierarquia, de mobilizações
políticas como a que se realizou em 13 de março de 1964 na Central do Brasil,
no Rio de Janeiro. Ou ainda, de deflagração de greves, como a CGT, na
Argentina; de ato de desapropriação, como os das minas de cobre, no Chile, por
Allende; ou, afinal, da decisão de um presidente, como a de João Goulart
apoiando os marinheiros em greve.
Não.
Absolutamente! (Grifo nosso)
Os oficiais integrantes da corrente totalitária, inspirados em Carl Von
Clausewitz, adeptos da doutrina nazista, aguardavam apenas pretextos para
desferir petardos mortais nas instituições democráticas do país, ação
consumada, afinal, com o desenlace militar de 64.”
Ainda de acordo com a obra citada, os
militares, há algum tempo atrás, já vinham desejando tomar as rédeas do poder,
e implantar no Brasil um sistema de governo inspirado na eficiência e
organização do Exército Alemão.
Em
1954, o Presidente Getúlio Vargas fora levado ao suicídio por uma conspiração
militar semelhante à que sofreu João Goulart. Vargas que anteriormente
governara o Brasil de 1930 a
1945 (os últimos oito anos como ditador), havia voltado à presidência pelo voto
popular em 1951.
A
atribulada presidência de Vargas no período 1951-54 foi marcada pelo
aprofundamento da polarização política. Seu principal apoio político provinha
do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), fundado sob a égide do próprio em
1945. Getúlio Vargas lançou um ambicioso programa de investimentos públicos,
frustrado pelo insucesso econômico provocado pela vertiginosa queda dos preços
do café no mercado internacional e pelo aumento da inflação internamente.
Determinado
a executar seu programa econômico nacionalista (como a criação do monopólio
nacional do petróleo) e ao mesmo tempo melhorar a situação dos trabalhadores,
Vargas, agora um populista, viu-se forçado, em 1953 a adotar um programa
antiinflacionário altamente impopular.
No
início de 1954, o presidente fez uma proposta de um elevado aumento para o
salário mínimo, deixando de fora aumento para os militares.
O Ministro
do Trabalho que recomendara o aumento de salário fora João Goulart, um jovem
político do PTB, protegido de Vargas, natural dos mesmos pampas gaúchos.
Sob
intensa pressão política Vargas demitiu Goulart, porém o problema piorou. Vinte
e sete generais lançaram um manifesto exigindo a renúncia do presidente.
Na obra Brasil:
de Castelo a Tancredo, 1964-1985; de Thomas E. Skidmore; Rio de
Janeiro; Paz e Terra, 1988, na parte referente ao Golpe de 1964 (procurando
passar neutralidade, o autor prefere citar “Revolução
de 1964”)
o autor cita os fatos históricos sem nenhuma preocupação com aspectos
psicológicos.
Entretanto, ao analisar o processo da
passagem de um estado legal para a consolidação de uma nova situação sem amparo
constitucional, e a preocupação determinada do marechal Castelo Branco de não
consentir no surgimento de caudilhos vindos das Forças Armadas ele registra o
antagonismo entre o seu pensamento e os chamados “Generais da Linha Dura”,
entre eles o general Costa e Silva, que viria a tornar-se o seu sucessor,
endurecendo o regime.
Foram esses generais da linha dura os
integrantes da corrente totalitária, adeptos da doutrina nazista inspirada na
obra do filósofo alemão Carl Von Clausewitz, o filósofo da Guerra.
Antes de citarmos os nomes desses militares
que jogaram o Brasil em uma longa noite negra, cujo amanhecer ainda não nos
trouxe o sol da liberdade, vejamos alguns tópicos da doutrina do pensador
alemão:
“A
guerra é, pois um ato de violência destinado a forçar o adversário a submeter-se
à nossa vontade.” “Como o uso da força física, na sua integralidade, não exclui
de modo nenhum a colaboração da inteligência, aquele que se utiliza desta força
e não recua perante nenhuma efusão de sangue ganhará vantagem sobre o seu
adversário.” “Introduzir um elemento moderador na própria
filosofia da guerra é cometer um absurdo.” “Conduzir prisioneiros à morte é
utilizar a força dum modo mais eficaz.”“A guerra é o ato mais alto da
existência humana. Para alcançar a vitória total sobre o inimigo, todos os
meios são corretos. Contra o inimigo em guerra, desaparecem os sentimentos da
bondade, da compreensão, da justiça e dor.” “Os prisioneiros devem ser mortos
como ato de violência necessária.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário