quinta-feira, 30 de março de 2017

HUMANITAS Nº 58 – ABRIL DE 2017 – PÁGINA 4

Intervenção militar:  sim ou não?
Especial para o Humanitas
(CONTINUA NA PÁGINA 5)

A dificuldade de o atual governo federal fazer voltar a crescer a economia nacional, junto com a possibilidade do envolvimento de políticos da base aliada com a corrupção, segundo a Operação Lava-Jato, tem levado um segmento da sociedade brasileira a desejar a intervenção das Forças Armadas.
Tal possibilidade surge como uma solução em face de um Congresso desacreditado, um Judiciário suspeito, e, principalmente, a volta ao poder dos representantes das forças populares, amparados pelas conquistas sociais alcançadas no governo do PT. A questão que preocupa não é a intervenção em si, porém, a dúvida: estaria o militar atual preparado para tal missão?
Tal assunto nos remete para o que aconteceu em 1964, quando os militares, amparados por segmentos da sociedade manipulados pela mídia, pela Igreja Católica e as forças conservadoras tomaram o poder, instalando no país uma ditadura militar que durou 21 anos.
Segundo Agassiz Almeida (A Ditadura dos Generais: Estado Militar na America Latina: O Calvário Militar na Prisão Editora 2ª Edição Rio de Janeiro - Bertrand Brasil, 207) “fomos logrados ao pensar que o Golpe Militar de 64, no Brasil como nos outros países latino-americanos, desfechou-se por imediatas e superficiais motivações políticas de grupos econômicos ou militares; de discurso do Presidente da República em concentração popular, de quebra de hierarquia, de mobilizações políticas como a que se realizou em 13 de março de 1964 na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ou ainda, de deflagração de greves, como a CGT, na Argentina; de ato de desapropriação, como os das minas de cobre, no Chile, por Allende; ou, afinal, da decisão de um presidente, como a de João Goulart apoiando os marinheiros em greve.
Não. Absolutamente! (Grifo nosso) Os oficiais integrantes da corrente totalitária, inspirados em Carl Von Clausewitz, adeptos da doutrina nazista, aguardavam apenas pretextos para desferir petardos mortais nas instituições democráticas do país, ação consumada, afinal, com o desenlace militar de 64.”
Ainda de acordo com a obra citada, os militares, há algum tempo atrás, já vinham desejando tomar as rédeas do poder, e implantar no Brasil um sistema de governo inspirado na eficiência e organização do Exército Alemão.  
Em 1954, o Presidente Getúlio Vargas fora levado ao suicídio por uma conspiração militar semelhante à que sofreu João Goulart. Vargas que anteriormente governara o Brasil de 1930 a 1945 (os últimos oito anos como ditador), havia voltado à presidência pelo voto popular em 1951.
A atribulada presidência de Vargas no período 1951-54 foi marcada pelo aprofundamento da polarização política. Seu principal apoio político provinha do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), fundado sob a égide do próprio em 1945. Getúlio Vargas lançou um ambicioso programa de investimentos públicos, frustrado pelo insucesso econômico provocado pela vertiginosa queda dos preços do café no mercado internacional e pelo aumento da inflação internamente.
Determinado a executar seu programa econômico nacionalista (como a criação do monopólio nacional do petróleo) e ao mesmo tempo melhorar a situação dos trabalhadores, Vargas, agora um populista, viu-se forçado, em 1953 a adotar um programa antiinflacionário altamente impopular.
No início de 1954, o presidente fez uma proposta de um elevado aumento para o salário mínimo, deixando de fora aumento para os militares.
O Ministro do Trabalho que recomendara o aumento de salário fora João Goulart, um jovem político do PTB, protegido de Vargas, natural dos mesmos pampas gaúchos.
Sob intensa pressão política Vargas demitiu Goulart, porém o problema piorou. Vinte e sete generais lançaram um manifesto exigindo a renúncia do presidente.
Na obra Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985; de Thomas E. Skidmore; Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1988, na parte referente ao Golpe de 1964 (procurando passar neutralidade, o autor prefere citar “Revolução de 1964”) o autor cita os fatos históricos sem nenhuma preocupação com aspectos psicológicos.
Entretanto, ao analisar o processo da passagem de um estado legal para a consolidação de uma nova situação sem amparo constitucional, e a preocupação determinada do marechal Castelo Branco de não consentir no surgimento de caudilhos vindos das Forças Armadas ele registra o antagonismo entre o seu pensamento e os chamados “Generais da Linha Dura”, entre eles o general Costa e Silva, que viria a tornar-se o seu sucessor, endurecendo o regime.
Foram esses generais da linha dura os integrantes da corrente totalitária, adeptos da doutrina nazista inspirada na obra do filósofo alemão Carl Von Clausewitz, o filósofo da Guerra.
Antes de citarmos os nomes desses militares que jogaram o Brasil em uma longa noite negra, cujo amanhecer ainda não nos trouxe o sol da liberdade, vejamos alguns tópicos da doutrina do pensador alemão: 
“A guerra é, pois um ato de violência destinado a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade.” “Como o uso da força física, na sua integralidade, não exclui de modo nenhum a colaboração da inteligência, aquele que se utiliza desta força e não recua perante nenhuma efusão de sangue ganhará vantagem sobre o seu adversário.”  “Introduzir um elemento moderador na própria filosofia da guerra é cometer um absurdo.” “Conduzir prisioneiros à morte é utilizar a força dum modo mais eficaz.”“A guerra é o ato mais alto da existência humana. Para alcançar a vitória total sobre o inimigo, todos os meios são corretos. Contra o inimigo em guerra, desaparecem os sentimentos da bondade, da compreensão, da justiça e dor.” “Os prisioneiros devem ser mortos como ato de violência necessária.”

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