terça-feira, 30 de janeiro de 2018

HUMANITAS Nº 68 – FEVEREIRO DE 2018 – PÁGINA CINCO

Caçoar, zombar, bulir... Ôxe! Isso é bullying?
Sérgio Alves é professor. Atua na cidade do Recife/PE

Hoje em dia, tem havido uma verdadeira avalanche de debates em escolas, na TV, no trabalho, de situações vexatórias vivenciadas por pessoas vítimas de agressões verbais, físicas e psicológicas feitas por um ou mais indivíduos. Ficamos pensando... Situações dessa natureza são recentes? Não. Na nossa época, há alguns anos, havia esse cenário?
O caro leitor que viveu sua adolescência na década de 50, 60, 70 ou um pouco mais, presenciou entre os colegas de classe o verbo bulir sendo aplicado no outro e consigo, mas sem a intenção de machucar e induzir ao suicídio?
Se você, leitor, respondeu sim a essas questões, então assim como nós, teve uma bela e saudável adolescência – e sem traumas.
   Não podemos generalizar, mas a verdade é que boa parte dos estudiosos e teóricos da educação, têm a péssima obsessão em tornar como padrão e copiar, tudo o que vem de fora. E mais especificamente, tudo que vem do norte-americano.
É lógico que aquilo que trouxer benefícios para a sociedade, pode e deve ser copiado, mas se não há um filtro, apoiaremos a falsa ideia de que tudo que nos é apresentado como modelo que deu certo fora dará certo em nosso país.
É o caso do termo: bullying.
Segundo a enciclopédia livre, o termo bullying foi sugerido pelo pesquisador sueco Dan Olwens, em 1999, após o massacre de Columbine, EUA. Segundo a investigação da época, dois jovens, classificados como superdotados, abriram fogo contra colegas e professores – e depois cometeram o suicídio. Os pais dos autores dos disparos afirmaram mais tarde, que eles eram rotulados de homossexuais por todos da escola.
Olwens teve a ideia a partir do verbo inglês, to bully que tem a interpretação de “tiranizar, oprimir, ameaçar o outro”. Ainda segundo a enciclopédia, esse termo é usado para valentões, que nas escolas procuram intimidar colegas “inferiores”. O leitor percebe que esse termo, segundo o dicionário dos gringos, tem uma conotação bastante agressiva.
Retornando para a nossa realidade escolar brasileira, na nossa adolescência ou até mesmo na nossa educação infantil, será que havia tiranos na nossa turma que não conseguimos derrubar?
Será que havia opressores na nossa turma ou escola que não conseguimos enfrentar com igual zombaria? Claro que o fizemos. Claro que rebatemos tais “valentões”.
E rebatemos sem ficarmos com traumas e nem tão pouco fomentamos traumas.
É da natureza do povo brasileiro o ato de zombar, caçoar, bulir e até mesmo apelidar indivíduos que lhes parecem pitorescos.
O magrinho e alto da turma era chamado de “espanador da lua ou varapau”.
Mas esse magrinho e alto da turma ganhava ares de rei quando havia um torneio de vôlei ou basquete.
O gordinho da turma era chamado de “baleia”, mas, ganhava status de poderoso quando enfrentava um valentão da turma.
O baixinho era chamado de “montanha”, mas ninguém se aguentava de tanto rir quando ele imitava tão bem seus professores.
O menino de óculos com fundo de garrafa era chamado de “cu de ferro ou nerd”, mas, se sentia o maioral em época de avaliações -  todos queriam sentar-se à sua volta.
O caro leitor deve lembrar-se de outras situações vividas como as citadas acima e todas tiveram um final feliz.
Os casos extremos eram resolvidos “às tapas, murros e socos”.
Os pais dos briguentos eram chamados à diretoria. Selada a paz, tocava-se a vida.
Em nossa opinião, o povo norte-americano não tem essa maneira peculiar, do brasileiro, de resolver questões como essas, devido ao grau elevadíssimo de puritanismo e xenofobia.
Infelizmente, atitudes como essas têm reverberado, hoje, em solo brasileiro.
E o que é pior: reproduzido e absorvido na mente de nossos jovens e jovens do mundo todo.
Jovens que têm vocação para a tecnologia, que preferem apenas olhar para monitores, celulares e tabletes em vez de olhar para a própria alma e a do próximo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário