terça-feira, 30 de janeiro de 2018

HUMANITAS Nº 68 – FEVEREIRO DE 2018 – PÁGINA SETE

Amizade... Longe ou perto, valor que não tem preço
Ana Leandro – colaboradora do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Em 14 de Fevereiro comemora-se o Dia da Amizade. Que na realidade se apresenta como um dia representativo, pois a verdadeira amizade dura desde que floresce...
Depois de algum tempo e de experiências na vida, você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias.
Já se disse e é sempre verdadeiro, que o que importa não é o que você tem na vida, mas as pessoas que de fato passaram e ficaram no seu modo de ser e de viver. E por isto são amigos que persistiram e resistiram ao tempo, ainda que não no sentido literal da presença.
Pois a presença deste amigo não precisa ser palpável, tem exatamente a abstração duradoura da evolução. Não se constitui de poder sobre o outro, mas em algo que se multiplica reciprocamente pela força de suas influências.
Quem mais influiu no sentido positivo de sua vida, quem mais o fez pensar sobre si mesmo, quem mais o levou à coragem de se encarar em seus limites e possibilidades, enfim, quem mais se somou ao seu crescimento, sem prejuízos das partes, este é seu amigo.
A era da comunicação trouxe à tona amizades de pessoas que nunca se viram pessoalmente, mas que conseguem fazer entre si intensa troca de desenvolvimento interior.
Relações de excessivo contato pessoal, muitas vezes se perdem em discussões insolúveis por pontos de vistas diferentes.
Mas essas relações não são amizades, porque não se exige de um verdadeiro amigo que ele seja como queremos.
Há pessoas que muito oferecem, mas cobram caro a oferta, por simples interesse de posse e domínio.
Isso não é uma amizade.
A verdade é que as redes de relações sociais e pela internet já facilitaram, infelizmente, falsas amizades, semeadas por interesses de todas as naturezas, inclusive de posse física ou material. Isto é lastimável, porque muitos resultados trágicos têm demonstrado até perdas de vidas, ou decepções de natureza dolorosa.
Mas a par das histórias de aproveitamento nessas relações construídas na mentira, muitas belas amizades já se constituíram mesmo à distância e se mantêm influindo no crescimento recíproco de pessoas que conseguiram esta verdadeira dádiva na vida.
Amizade não se compra, constrói-se. E é preciso algum tempo para consolidá-la.
Porque é na medida em que se conhece o outro, em sua interioridade, que se compreende a natureza de condução da relação.
Amizades têm matizes diferentes, porque as pessoas são diferentes.
E é como são que devem ser aceitas.
A evolução do “ser” só acontece a partir da certeza que este é o caminho desejado das partes, e que talvez nem tivessem antes consciência disto.
A auto-descoberta é um dos privilégios maiores que uma amizade verdadeira nos confere.
É claro que um verdadeiro amigo tem semelhanças com seus valores, mas não lhe cobra identidade de pontos de vista.
Estabelecer a ponte que facilita o relacionamento respeitando-se mutuamente nas diferenças é a demonstração de que ali existe uma amizade duradoura, que não se desfaz por simples referenciais diferentes.
Amigo conhece a medida precisa de cada ação: nem demais, nem de menos.
Sabe o momento certo em que também o amigo quer ficar só e não invade um espaço que não lhe está disponível.
É bonito ser amigo, mas é necessário compreender que não é tão fácil.
Para construção de uma sólida amizade é importante se ter paciência de ambas as partes. Que se entendam num olhar ou numa palavra.
Ou, às vezes, sem nem mesmo um manifesto: uma ausência pode ser um tempo que se pede às vezes sem palavras.
Mas a amizade verdadeira superará a distância sem perda desse valor, que se consolida na medida em que resiste a intempéries.
Um amigo enche sempre nossos corações de esperanças e de novos caminhos somados nas alegrias e até no suporte de tristezas.
Mas uma bela amizade também nos torna guardiões de lembranças as mais diversas, que passam a fazer parte de nossa vida, pelo que nos ajuda a nos fazermos melhores conosco e com o próximo.

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