EDITORIAL
A festa dos
sonhos
Passada
a euforia das festas do fim de ano, o brasileiro começa a fazer as contas para
conferir se o dinheiro vai dar para comprar o convite, visando mergulhar no
mundo mágico dos sonhos: o Carnaval.
Essa festa oriunda de tempos imemoriais (na
realidade, é uma festa religiosa cheia de rituais pagãos) tem o poder mágico
de, em apenas três dias, mudar a vida das pessoas.
Sim, mudar a vida das pessoas para a
alegria!
Para esquecer a tristeza!
Para mergulhar em sonhos onde qualquer um
pode ser rei ou rainha, onde o rico se transforma em pobre e onde o pobre
torna-se um marajá.
Para o cidadão comum, que trabalha o ano
inteiro, o Carnaval é aquele momento de deixar a imaginação
flutuar e se transformar em um personagem qualquer do reinado de sua infância.
O Brasil todo entra no ritmo da festa. Rio
de Janeiro, Salvador, Recife, Olinda são os pontos mais famosos e mais
procurados pelos amantes da Grande
Festa.
Samba, frevo, maracatu, axé são os ritmos
alucinantes que trazem vida e alegria e animam a imaginação e os sonhos de
homens e mulheres.
Sonho é sonho, e por mais difícil que
possa ser realizado, ajuda o homem a ter esperanças e continuar lutando!
Portanto, deixemos que os trabalhadores, as
donas de casa, jovens e crianças, ponham a imaginação para funcionar e saiam
desfilando as mais incríveis, satíricas e divertidas fantasias.
Carnaval é a festa onde tudo se torna realidade, mesmo que seja por poucos dias
e noites.
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Antes do almoço
Antonio Carlos Gomes
Médico – Guarujá/SP
Dez horas, dia de buscar os remédios. Eu e Ana, minha esposa, fomos a
farmácia. Aproveitando a saída compraríamos outras coisinhas.
Logo na entrada da farmácia
quase fomos atropelados por um senhor de classe média, de cara fechada que
passou bruscamente a nossa frente. Conversou com uma senhora, que já estava no
balcão, ora em português, ora em alemão, notava-se que o atendimento era pela
Farmácia Popular. Saiu bufando com sua medicação gratuita.
Ana observou que o país é
generoso, fornece gratuitamente medicação para não brasileiros. Acrescentei que
o homem, dada a postura e a cidade burguesa que moramos, provavelmente é o
mesmo que reclama das políticas sociais, ora em extinção, em valor muito
inferior ao benefício que estava gratuitamente recebendo.
Antes de dirigir-nos ao carro,
após as compras, vimos uma jovem em andrajos pedindo dinheiro. Peguei algum
trocado para oferecer, mesmo com a pedinte cercada pelos balconistas que a
olhavam com um medo inexplicável.. Atrás de nós ouvimos um senhor reclamando
que nem podia comprar seu remédio em paz e não merecia este abjeto desprazer.
Já no mercado, comprado o
necessário nos dirigimos ao caixa. Um senhor de 70 anos embalava suas compras.
Comecei a dispor as minhas no balcão quando fui empurrado. Este senhor, na
contramão, de volta ao setor de compras: resolveu trocar uma garrafa de vinho.
Não pediu licença, nem desculpas, nem olhou em minha direção, como se só ele
existisse.
Em casa comentei com minha
esposa: que saudades da sociedade que
conheci, onde fazer compras era um prazer, as pessoas se conheciam, as
balconistas nos chamavam pelo nome, as pessoas pertenciam a uma comunidade.
Será que uma sociedade onde o
triunfo monetário mede as pessoas e as classifica em castas tem futuro? Como
pode um homem provavelmente aposentado não respeitar ninguém, mesmo não sabendo
quem está a seu lado?
Pensando bem, a era da internet
e dos telefones que acompanham as pessoas aonde vão, sempre teclando, é uma
solução justa para uma sociedade sem pessoas, habitada por sombras que se movem
taciturnas sem sorrisos. Do pedinte ao aposentado, todos estão se tornando
invisíveis com medo de tudo que os rodeiam.
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