terça-feira, 30 de janeiro de 2018

HUMANITAS Nº 68 – FEVEREIRO DE 2018 – PÁGINA DOIS



EDITORIAL

A festa dos sonhos

Passada a euforia das festas do fim de ano, o brasileiro começa a fazer as contas para conferir se o dinheiro vai dar para comprar o convite, visando mergulhar no mundo mágico dos sonhos: o Carnaval.
Essa festa oriunda de tempos imemoriais (na realidade, é uma festa religiosa cheia de rituais pagãos) tem o poder mágico de, em apenas três dias, mudar a vida das pessoas.
Sim, mudar a vida das pessoas para a alegria!
Para esquecer a tristeza!
Para mergulhar em sonhos onde qualquer um pode ser rei ou rainha, onde o rico se transforma em pobre e onde o pobre torna-se um marajá.
Para o cidadão comum, que trabalha o ano inteiro, o Carnaval é aquele momento de deixar a imaginação flutuar e se transformar em um personagem qualquer do reinado de sua infância.
O Brasil todo entra no ritmo da festa. Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Olinda são os pontos mais famosos e mais procurados pelos amantes da Grande Festa.
Samba, frevo, maracatu, axé são os ritmos alucinantes que trazem vida e alegria e animam a imaginação e os sonhos de homens e mulheres.
Sonho é sonho, e por mais difícil que  possa ser realizado, ajuda o homem a ter esperanças e continuar lutando!
Portanto, deixemos que os trabalhadores, as donas de casa, jovens e crianças, ponham a imaginação para funcionar e saiam desfilando as mais incríveis, satíricas e divertidas fantasias.
Carnaval é a festa onde tudo se torna realidade, mesmo que seja por poucos dias e noites.
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 Antes do almoço
Antonio Carlos Gomes
Médico – Guarujá/SP

Dez horas, dia de buscar os remédios. Eu e Ana, minha esposa, fomos a farmácia. Aproveitando a saída compraríamos outras coisinhas.
Logo na entrada da farmácia quase fomos atropelados por um senhor de classe média, de cara fechada que passou bruscamente a nossa frente. Conversou com uma senhora, que já estava no balcão, ora em português, ora em alemão, notava-se que o atendimento era pela Farmácia Popular. Saiu bufando com sua medicação gratuita.
Ana observou que o país é generoso, fornece gratuitamente medicação para não brasileiros. Acrescentei que o homem, dada a postura e a cidade burguesa que moramos, provavelmente é o mesmo que reclama das políticas sociais, ora em extinção, em valor muito inferior ao benefício que estava gratuitamente recebendo.
Antes de dirigir-nos ao carro, após as compras, vimos uma jovem em andrajos pedindo dinheiro. Peguei algum trocado para oferecer, mesmo com a pedinte cercada pelos balconistas que a olhavam com um medo inexplicável.. Atrás de nós ouvimos um senhor reclamando que nem podia comprar seu remédio em paz e não merecia este abjeto desprazer.
Já no mercado, comprado o necessário nos dirigimos ao caixa. Um senhor de 70 anos embalava suas compras. Comecei a dispor as minhas no balcão quando fui empurrado. Este senhor, na contramão, de volta ao setor de compras: resolveu trocar uma garrafa de vinho. Não pediu licença, nem desculpas, nem olhou em minha direção, como se só ele existisse.
Em casa comentei com minha esposa: que saudades da sociedade que conheci, onde fazer compras era um prazer, as pessoas se conheciam, as balconistas nos chamavam pelo nome, as pessoas pertenciam a uma comunidade.
Será que uma sociedade onde o triunfo monetário mede as pessoas e as classifica em castas tem futuro? Como pode um homem provavelmente aposentado não respeitar ninguém, mesmo não sabendo quem está a seu lado?
Pensando bem, a era da internet e dos telefones que acompanham as pessoas aonde vão, sempre teclando, é uma solução justa para uma sociedade sem pessoas, habitada por sombras que se movem taciturnas sem sorrisos. Do pedinte ao aposentado, todos estão se tornando invisíveis com medo de tudo que os rodeiam.

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