terça-feira, 30 de janeiro de 2018

HUMANITAS Nº 68 – FEVEREIRO DE 2018 – PÁGINA SEIS

A magia das máscaras carnavalescas
Texto de Genésio Linhares. Professor e Mestre em Filosofia. Recife/PE (Republicação)

O uso das máscaras perde-se no tempo.
Acredita-se, apesar de haver controvérsias, que o termo máscara existe desde há 30 mil anos.
Elas eram utilizadas para diversos fins: curar doenças, tirar espíritos ruins, para rituais religiosos ou como persona.
Esta última é uma forma de mostrar o seu modo de ser e estar em sociedade, seja como função ou papel social assumido profissional ou simplesmente pelo fato de estar em convívio com outros seres humanos.
Existem indivíduos mais afetados que, na maior parte do tempo, disfarçam e ofuscam a sua verdadeira identidade que comumente conhecemos como hipócritas.
Quanto mais complexa e mais sofisticada se torna uma sociedade, aumenta a utilização de máscaras, fingimentos e falsidades.
Pode-se afirmar que a máscara, ao que tudo indica, é um fenômeno universal, pois vamos encontrá-la em todos os povos.
O mundo hodierno é testemunha e partícipe deste jogo de simulacros, de mentiras inerentes nas tramas e interrelações cotidianas.
As máscaras não se ausentam. Nem mesmo em momentos festivos e descontraídos como é o caso do Carnaval.
Justamente aqui, de modo bastante curioso, é que a máscara e, às vezes, as fantasias assumem um caráter ostensivo para muitos foliões.
Como compreender as razões que levam um indivíduo a esconder o rosto, exatamente num momento tão lúdico como o Carnaval?
Talvez para dar vazão às suas fantasias, aos desejos mais íntimos e por que não ao seu lado demoníaco e como demonstração de poder, de assustar e aterrorizar os menos avisados.
O uso das máscaras é antigo. Vários povos a usavam e ainda usam para cerimônias e rituais religiosos. Os antigos gregos passaram a servir-se de máscaras para apresentações teatrais como representação dos personagens de tragédias e comédias.
É no período renascentista italiano, mas precisamente em Veneza, que podemos verificar seu uso intenso por grande parte das pessoas neste mesmo período momesco.
O nome máscara vem do italiano maschera, provindo, ao que parece, do latim medievo masca, significando “espectro, pesadelo, máscara”, tendo talvez uma raiz árabe de maskhara “palhaço, bufão” e também, bruxo, feiticeiro, monstro, emoção e alma.
A máscara carnavalesca embeleza o ambiente de festa. Cria um clima de alegria, fantasias, ilusões e de tristeza, ao mesmo tempo em que mantém em anonimato àquele ou àquela que está por trás dela.
Através da máscara a pessoa libera loucuras, sarcasmos e ironias, desejos mais íntimos e seus outros “eus” que sem ela, muito provavelmente, não teria coragem de externar.
Os venezianos desde o século XV criaram personagens típicos desta festa tão contagiosa. Uma delas, a Colombina, a eterna amante de Arlequim. Este se apresenta de modo pouco inteligente e trapalhão, anda dançando e sua máscara negra é bastante utilizada. Esses dois personagens, junto com Pierrot, fazem parte do nosso carnaval, tendo inclusive canções enaltecendo-os.
No Recife, o primeiro baile de máscara ocorreu na Passagem da Madalena, na Rua Benfica e foi notícia no Diario de Pernambuco de 13 de fevereiro de 1845, mas era restrito às famílias nobres da cidade. Somente em 18 de fevereiro de 1848 aconteceu o primeiro baile de máscara para o grande público.
Enfim, seja em bailes ou nas ruas, todos nós presenciamos a máscara ou até saímos também mascarados. É um adereço mágico e encantador que enfeita, colore e alegra o nosso carnaval. E às vezes assusta crianças e adultos.
Talvez para lembrar que mesmo em momentos de euforia, danças e bebidas, a vida é um misto de sentimentos, inclusive de seus perigos, riscos e da própria morte. Quantos não saem com máscaras e roupas de caveira para comemorar e celebrar estes três dias?

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