MANUAL DE AMERICANALHICE, OU SEJA,
PARA SER AMERICANO DO NORTE (3)
Araken Vaz
Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Mora em
Valença/BA
Caso você não tenha encontrado os primeiros
capítulos da novela da Globo (em Valadares são vendidas cópias piratas em todas
as esquinas) e, ademais, ainda não saiba inglês suficiente para entender a
pronúncia impecável dos atores daquela rede de TIVI que citamos, damos
as principais frases que um americano (dos Estados Unidos) precisa para se
fazer entender, devidamente traduzidas, para que você saiba o que está falando
no momento oportuno.
São elas: “Macacos me mordam!” “Você vai precisar de um plano”. “Bom menino
(menina)”. “Você vai (não vai) conseguir”. “Estou querendo dizer que...” “Acho
que você precisa de ajuda”. “Eu posso explicar tudo”. “Me dê uma razão para eu
fazer isso por você”. “Você está querendo dizer que...” “Fique fora disso”.
“Não há nada de errado comigo”. “O que faz você pensar isso?” “Alguém precisa
fazer alguma coisa.”
A palavra chave do inglês, dos Estados
Unidos, é “chance”.
Pelo menos nos filmes eles estão sempre
dando ou pedindo uma segunda, o que se subentende que já deram a primeira.
Porém, isso não significa que eles lhe vão
dar uma única de ser um americano WASP.
Outra palavra também muito importante,
quase mágica é “especial”.
Uma pessoa não é importante, é especial.
Não é marcante, é especial. Até as pessoas ordinárias são especiais. Porém,
tenha cuidado, ordinário lá é comum.
Não se esqueça que trabalho é algo nobre
lá, tanto é assim que a frase que você mais irá ouvir é: “I’m doing my job”,
cuidado com os seus vícios nacionais. Eles acham que preguiça e indolência são
coisas de latino.
Lá não existe maré mansa para os americanos
(dos Estados Unidos) neófitos; por isso, por mais desagradável que seja o seu “labour”,
é muito importante você esclarecer, logo e antes, que está fazendo o seu “business”,
que aquele é o seu negócio, mesmo se você estiver estrangulando alguém (principalmente,
se estiver) diga logo que é o seu trabalho, ou seja, repita a frase acima: “I’m
doing my job”.
No caso da “police”
aparecer com todo aquele aparato que você vê no “movie” –
mil carrões, sirenes, centenas de revólveres, carabinas com mira telescópicas e
escopetas apontadas pra você – não se avexe, diga, para mostrar que está de
mau-humor: “estou fazendo o meu maldito
trabalho”.
Perdão, não o faça em português, diga: “I’m
doing my damned job”.
Ou então, se quiser ser lacônico, olhe-os
com ar de man muito ocupado, que não pode perder tempo e diga,
levantando os ombros e fazendo beiço, apenas: “my busines”.
Só isso. Eles, os policiais, pedem
desculpas e vão embora. Juro que vão!
Pode até aparecer algum “tira” mais curioso, que pergunte
qual o seu truque para estrangular tão bem.
Agora...
Se você quiser viver todas aquelas emoções
que você vivia vendo TIVI, é só escolher um policial, que é – quase
sempre – um negro...
Perdão, perdão... Um afro-americano!
E dizer-lhe, só para radicalizar, entre dentes,
quase cuspindo a frase: “fuck you niger!”
Vai ser a última coisa que você dirá entre
dentes...
Perdê-los-á todos.
Logo a seguir, você ouvirá aquelas frases
que fizeram a sua cabeça, levando-o a desejar ser americano (dos Estados
Unidos), lembra-se delas?
“Você
tem todo o direito de permanecer calado, qualquer coisa que disser poderá ser
usada contra você... etc., etc., etc.”...
Aí, então, você será algemado, o policial o
conduzirá delicadamente até a viatura, colocará a mão sobre sua cabeça, para
que você não se machuque ao entrar.
Depois, o levará para passear em um
daqueles carrões que você sempre sonhou passear um dia.
Assim, um dos seus sonhos, nesse momento,
já terá se realizado.
Tudo se desenrolará igualzinho ao cinema,
com uma única exceção:
“Se
eles descobrirem que você é latino disfarçado de gringo...”
Aí eles fazem como qualquer polícia daqui e
do mundo faz: “enchem-lhe de porrada!”
E não tem emenda da Constituição deles que
te salve...
É
porrada da grossa mesmo!