Falta empatia social dos gays na luta
contra a homofobia
Paulo Roberto Júnior - Jornalista Rio de
Janeiro/RJ
Especial
para o Humanitas
Na
noite do dia 16 de março de 2015, cerca de trinta pessoas se reuniram no Rio de
Janeiro para organizar um ato político contra mais um recente ataque motivado
por homofobia na cidade. Em uma casa no bairro da Lapa, o grupo tinha o
objetivo de pensar, discutir e planejar ações a serem realizadas com o objetivo
de repudiar essa opressão cada vez mais frequente a homossexuais, travestis e
transexuais nos espaços públicos cariocas.
No início de março, dois turistas mineiros
foram agredidos com copos e garrafas de vidro após trocarem um beijo na
badalada e democrática Praça São Salvador, no bairro de Laranjeiras, Zona Sul
da cidade. O local é famoso por receber intervenções artísticas, debates
educativos e pessoas dos mais variados estilos, de todos os cantos da cidade,
que, em clima de amizade e confraternização, ocupam um ambiente que valoriza a
integração de todos. Ou pelo menos deveria ser assim.
Ignorados por agentes da Guarda Municipal e
por policiais militares que estavam na região, os dois rapazes atacados
encontraram defensores em apenas alguns dos frequentadores da praça para
reagirem contra a violência. Algumas pessoas intervieram a favor do casal e
protagonizaram, espontaneamente, um beijaço em sinal de protesto.
Diante da cena, os agressores retomaram a
violência, quando (pasmem!) o bar Casa Brasil, estabelecimento que fica em
frente à Praça São Salvador, passou a municiar os criminosos com novos copos de
vidro, tudo sob o olhar complacente da PM.
O Relatório Anual de Assassinatos de
Homossexuais no Brasil, divulgado pelo Grupo Gay da Bahia diz que 326 pessoas
foram mortas vítimas de homofobia no país, em 2014. Ou seja, uma média de um
assassinato a cada 27 horas. Desses, 163 eram gays, 134 travestis e 14
lésbicas. Se esses números já assustam, saiba que o levantamento é realizado
apenas com notícias veiculadas na imprensa. Portanto, ainda temos muitas
vítimas invisíveis.
Talvez já tenha passado da hora de os
homossexuais se unirem em torno de discussões políticas e sociais que defendam
os direitos individuais e que digam respeito às suas próprias vidas.
Muitos gays dizem ter a mesma necessidade
de acolhimento, mas não enxergam uma saída possível. Segundo eles, muitos
homossexuais são igualmente preconceituosos e não se veem como classe, além de
rejeitarem aqueles que não se enquadram no padrão viado-discreto-macho-sarado.
Falta empatia social para levar adiante um
grupo de discussão ou qualquer outra denominação que acolha, converse, oriente
e lute ao lado daqueles que são diariamente violentados por conceitos
retrógrados.
Os 30 lutadores comprometidos com um
movimento que garanta o direito à livre manifestação de carinho nas praças e
ruas do Rio são um bom exemplo disso. No entanto, eles ainda são poucos e
precisam de apoio e de maior engajamento social.
O silêncio de cada homossexual que se
orgulha de ser "100% macho"
e de "não dar pinta" mata e
contribui para que a discussão sobre a homofobia fique no limbo das pautas
públicas. Enquanto isso, líderes fundamentalistas e extremistas de direita se
organizam e sobem, a cada eleição, mais um degrau em direção ao controle da
única arma que dispomos nessa luta: a política.
E
de que lado você está?
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