segunda-feira, 27 de abril de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 6

Falta empatia social dos gays na luta contra a homofobia

Paulo Roberto Júnior - Jornalista Rio de Janeiro/RJ
Especial para o Humanitas

Na noite do dia 16 de março de 2015, cerca de trinta pessoas se reuniram no Rio de Janeiro para organizar um ato político contra mais um recente ataque motivado por homofobia na cidade. Em uma casa no bairro da Lapa, o grupo tinha o objetivo de pensar, discutir e planejar ações a serem realizadas com o objetivo de repudiar essa opressão cada vez mais frequente a homossexuais, travestis e transexuais nos espaços públicos cariocas.
No início de março, dois turistas mineiros foram agredidos com copos e garrafas de vidro após trocarem um beijo na badalada e democrática Praça São Salvador, no bairro de Laranjeiras, Zona Sul da cidade. O local é famoso por receber intervenções artísticas, debates educativos e pessoas dos mais variados estilos, de todos os cantos da cidade, que, em clima de amizade e confraternização, ocupam um ambiente que valoriza a integração de todos. Ou pelo menos deveria ser assim.
Ignorados por agentes da Guarda Municipal e por policiais militares que estavam na região, os dois rapazes atacados encontraram defensores em apenas alguns dos frequentadores da praça para reagirem contra a violência. Algumas pessoas intervieram a favor do casal e protagonizaram, espontaneamente, um beijaço em sinal de protesto.
Diante da cena, os agressores retomaram a violência, quando (pasmem!) o bar Casa Brasil, estabelecimento que fica em frente à Praça São Salvador, passou a municiar os criminosos com novos copos de vidro, tudo sob o olhar complacente da PM.
O Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, divulgado pelo Grupo Gay da Bahia diz que 326 pessoas foram mortas vítimas de homofobia no país, em 2014. Ou seja, uma média de um assassinato a cada 27 horas. Desses, 163 eram gays, 134 travestis e 14 lésbicas. Se esses números já assustam, saiba que o levantamento é realizado apenas com notícias veiculadas na imprensa. Portanto, ainda temos muitas vítimas invisíveis.
Talvez já tenha passado da hora de os homossexuais se unirem em torno de discussões políticas e sociais que defendam os direitos individuais e que digam respeito às suas próprias vidas.
Muitos gays dizem ter a mesma necessidade de acolhimento, mas não enxergam uma saída possível. Segundo eles, muitos homossexuais são igualmente preconceituosos e não se veem como classe, além de rejeitarem aqueles que não se enquadram no padrão viado-discreto-macho-sarado.
Falta empatia social para levar adiante um grupo de discussão ou qualquer outra denominação que acolha, converse, oriente e lute ao lado daqueles que são diariamente violentados por conceitos retrógrados.
Os 30 lutadores comprometidos com um movimento que garanta o direito à livre manifestação de carinho nas praças e ruas do Rio são um bom exemplo disso. No entanto, eles ainda são poucos e precisam de apoio e de maior engajamento social.
O silêncio de cada homossexual que se orgulha de ser "100% macho" e de "não dar pinta" mata e contribui para que a discussão sobre a homofobia fique no limbo das pautas públicas. Enquanto isso, líderes fundamentalistas e extremistas de direita se organizam e sobem, a cada eleição, mais um degrau em direção ao controle da única arma que dispomos nessa luta: a política.
E de que lado você está? 

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