Viver sem deus? Sim, eu posso!
William de Oliveira – São Paulo/SP - Especial para o Humanitas
Há alguns anos tenho visto uma série de
debates, acadêmicos ou não, entre cientistas, racionalistas e ateus em geral,
contra os religiosos, sendo que alguns deles também possuem títulos de
ciências. Tais debates geralmente se concentram em provar (ou refutar) a ideia
da existência de divindades.
São horas e horas de argumentação e
contra argumentação, do tipo que faria um leão faminto cochilar. E eu nem
precisaria dizer, até pelo caráter das incursões, que possuem apenas a intenção
de vencer o oponente, que essas discussões nunca chegaram a lugar algum.
Diante de tantas soluções dadas pela
ciência, e de tantas “facilidades” dadas pela tecnologia, até onde vale a pena
nos dedicarmos ao tema DEUS?
Será que uma sociedade que avançou em
tantas áreas ainda precisa se desgastar nesse debate? Será que não podemos
simplesmente virar a página?
Porque é inegável que até os religiosos
(ao menos os mais sofisticados) não conseguem mais negar que a religião já não
é capaz de dar conta dos dilemas da nossa era, como se propunha a fazer em
séculos passados.
Deus nunca foi tão moldável. Qualquer
“cristão”, inclusive, que defenda afirmações do tipo “Adão e Eva no paraíso” é
motivo de piada em qualquer círculo de pensamento sério. Então por que dar a
eles tanta atenção?
Com tantas coisas a serem feitas e
descobertas, por que não podemos simplesmente cortar esse cordão umbilical que
nos prende na escuridão intelectual da fé?
Olhando para o planeta nunca a fé
pareceu tão forte, mas isso, do meu ponto de vista, é apenas uma impressão, uma
supervalorização que damos ao “inimigo”. Ou, talvez, em tempos mais recentes,
medo de sermos decapitados com uma faca de pão por um maluco do Estado Islâmico.
Aliás, essa força bruta e irracional
parece ser o que restou para a religião se agarrar e respirar sua sobrevida. É
o descontrole de mentes doentes que canalizam sua psicopatia, ou sua
incapacidade viril, no fanatismo e no terror a todos os que não querem tomar o
“remedinho” tarja preta que eles tomam diariamente. Somados a isso, temos
também a fragilidade de mentes incultas, que por serem facilmente manobradas,
naufragam na ideia de que deus deve existir.
Afinal, seu pai, seu pastor ou o padre
da paróquia local disseram que existe, e eles não mentiriam para você, ou
simplesmente para que eles mesmo possam ter um referencial de existência (não é
à toa que seu deus se parece muito com você), além, é claro, da incapacidade,
quase inata, que nós pobres primatas falantes temos de lidar com a realidade da
vida.
A propósito, essa parece ser a grande
arma, digamos, “intelectual” da fé, ou seja, nos fazer crer que não somos
capazes de lidar com nossa pueril existência. Ela, a religião, sabe da nossa
dificuldade em tomar nossas próprias decisões de vida e de lidar com os
possíveis fracassos.
Sabe que ao primeiro sinal de derrota
precisaremos de um “papai do céu” para nos aninhar em seus braços onipotentes e
chorar as pitangas. Sabe que somos fracos e infantis. Sabe que diante da morte
do outro, morremos nós também.
Ela conhece nossas tendências suicidas e
destrutivas e sabe usar isso como ninguém. Ela usufrui ao máximo da nossa falta
de percepção e de instrução, que nos impede de ver que podemos lidar com nossos
dilemas existenciais de uma maneira adulta e natural.
A religião tenta nos fazer acreditar que
a dor não é parte da vida, assim como o fracasso e a morte, e que por isso
precisamos de uma vida extra (e eterna de preferência). Ela nos diz que só há
propósito na vida se essa vida tiver um propósito eterno e divino.
Ela diz que fomos criados por um poder
celeste, que pensou em cada traço do que somos mesmo aquilo que nos faz chorar
diante do espelho. Ela diz que o reino dos céus pertence às crianças (não se
esqueça disso!) para que o homem seja o mais infantil possível.
Eis minha resposta à questão: podemos
viver sem deus? Sim, não precisamos de deus, de nenhum deles! Pouco importa se
podemos provar ou não alguma coisa sobre deus. Deus é uma ideia anacrônica e
infantilizadora. O fato é que muitos não teriam dificuldades em abandonar as
fantasias religiosas se pudessem ter as questões existenciais respondidas.
Alá, Jesus, Jeová são apenas nomes que
damos a essa falta de resposta e à nossa incapacidade de confrontar nossa breve
existência sem muito sentido causal.
Talvez seja esse, enfim, o grande legado
que o humanismo, a ciência e a razão tenham que deixar ao planeta: ensinar as
pessoas a enfrentar a vida como ela se apresenta a nós, frágil, injusta e
finita.
Ensinar
que podemos ser caridosos e solidários apenas porque somos humanos, e isso é
bom para a humanidade.
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