segunda-feira, 27 de abril de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 4

O mais repudiado e amado intelectual do século XIX

Rafael Rocha – Jornalista - Recife/PE
Especial para o Humanitas

O amor que não ousa dizer o nome neste século é a grande afeição de um homem mais velho por um homem mais jovem como aquela que houve entre Davi e Jonathan. É aquele amor que Platão tornou a base de sua filosofia. É o amor que você pode achar nos sonetos de Michelangelo e Shakespeare. É aquela afeição profunda, espiritual que é tão pura quanto perfeita (...) Esse amor é mal entendido neste século, tão mal entendido que pode ser descrito como o amor que não ousa dizer o nome.
Estas palavras foram escritas e pronunciadas por Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde (1854-1900), um dos maiores escritores de língua inglesa do século XIX.
Sofisticado, inteligente, dândi, adepto do esteticismo (da arte pela arte), escreveu contos (O Crime de Lord Arthur Saville), teatro (O Leque de Lady Windermere), ensaios (A alma do homem sob o socialismo), e romances (O Retrato de Dorian Gray).
Estamos aqui a lembrá-lo, já que no dia 17 deste mês de maio acontece o Dia Internacional contra a Homofobia.
No dia 27 de maio de 1895, em Londres, condenado pelo crime de homossexualidade (na época se chamava sodomia), o escritor inglês Oscar Wilde foi sentenciado a cumprir dois anos de prisão.
A decisão causou protestos nos círculos literários, mas Oscar Wilde teve de cumprir a pena.
Ele defendia o "belo" como a única solução contra tudo o que considerava maléfico à sociedade. Esse movimento visava transformar o tradicionalismo na época vitoriana, dando um tom de vanguarda às artes.
Como dramaturgo chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses.
Em 1887 e 1888 (seu período mais produtivo) lançou vários contos e novelas, como O Príncipe Feliz, O Fantasma de Canterville e outras histórias.
Em 1891, lançou sua obra-prima, O Retrato de Dorian Gray, que retrata a decadência moral humana. Mas, no seu apogeu literário, começaram a surgir os problemas pessoais. O que antes era boato quanto ao seu homossexualismo tornou-se real, e a partir daí deu-se início à perseguição ao escritor.
Na época, a hipocrisia como sempre se fazia presente e a homossexualidade era severamente condenada por lei na Inglaterra. Oscar Wilde tinha se envolvido com Lord Alfred Douglas (ou Bosie), filho do Marquês de Queensberry. Este, sabendo do relacionamento, enviou uma carta a Oscar Wilde, no Albermale Club, ofendendo-o com o sobrescrito: A Oscar Wilde, conhecido Sodomita.
O escritor decidiu processar o marquês por difamação, mas depois resolveu desistir do processo. Tarde demais, já que as provas da sua vida sexual começaram a aparecer. Novo processo contra ele foi instaurado e sua fama começou a desmoronar.
Suas obras e livros foram recolhidos e suas comédias retiradas de cartaz. O que lhe restava foi leiloado para as despesas do processo judicial. Passou dois anos na prisão e esse período lhe rendeu obras comoventes como A Balada do Cárcere de Reading (1898) e De Profundis, uma longa carta ao Lord Douglas.
Ao ser libertado, retirou-se para Paris, onde adotou o pseudônimo de Sebastian Melmouth e passou o resto dos seus dias em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.
O espirituoso e brilhante escritor morreu de meningite e uma infecção no ouvido chamada cholesteotoma (doença muito comum antes do advento dos antibióticos) em um quarto barato de um hotel de Paris, às 9h50 do dia 30 de novembro de 1900. Deixou insubstituível obra que, mesmo depois de mais de um século, ainda é admirada e relembrada, tamanha a sua genialidade.
O escritor, poeta e dramaturgo jaz no cemitério Père Lachaise, o mais célebre de Paris, onde estão os túmulos de outras 105 grandes personalidades do mundo, como Balzac, Chopin, La Fontaine, Molière. Seu túmulo fica no número 83 da Avenue Carette, entre a Transversal 3 e a Avenue Circulaire. 
Amado por uns e repudiado por outros, Oscar Wilde e sua obra são dignos de admiração. O que se diz sobre a sua vida irregular deu à sua imagem uma aura de encantamento e atração ainda maiores. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX.

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