O mais repudiado e amado intelectual do
século XIX
Rafael Rocha – Jornalista
- Recife/PE
Especial para o Humanitas
O amor que não
ousa dizer o nome neste século é a grande afeição de um homem mais velho por um
homem mais jovem como aquela que houve entre Davi e Jonathan. É aquele amor que
Platão tornou a base de sua filosofia. É o amor que você pode achar nos sonetos
de Michelangelo e Shakespeare. É aquela afeição profunda, espiritual que é tão
pura quanto perfeita (...) Esse amor é mal entendido neste século, tão mal
entendido que pode ser descrito como o amor que não ousa dizer o nome.
Estas palavras foram escritas e
pronunciadas por Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde (1854-1900), um dos maiores
escritores de língua inglesa do século XIX.
Sofisticado, inteligente, dândi, adepto
do esteticismo (da arte pela arte),
escreveu contos (O Crime de Lord Arthur
Saville), teatro (O Leque de Lady
Windermere), ensaios (A alma do homem
sob o socialismo), e romances (O
Retrato de Dorian Gray).
Estamos aqui
a lembrá-lo, já que no dia 17 deste mês de maio acontece o Dia Internacional
contra a Homofobia.
No dia 27 de
maio de 1895, em Londres, condenado pelo crime de homossexualidade (na época se
chamava sodomia), o escritor inglês Oscar Wilde foi sentenciado a cumprir dois
anos de prisão.
A decisão
causou protestos nos círculos literários, mas Oscar Wilde teve de cumprir a
pena.
Ele defendia o "belo" como a
única solução contra tudo o que considerava maléfico à sociedade. Esse
movimento visava transformar o tradicionalismo na época vitoriana, dando um tom
de vanguarda às artes.
Como dramaturgo chegou a ter três peças
em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses.
Em 1887 e 1888 (seu período mais
produtivo) lançou vários contos e novelas, como O Príncipe Feliz, O Fantasma
de Canterville e outras histórias.
Em 1891, lançou sua obra-prima, O Retrato de Dorian Gray, que retrata a
decadência moral humana. Mas, no seu apogeu literário, começaram a surgir os
problemas pessoais. O que antes era boato quanto ao seu homossexualismo tornou-se
real, e a partir daí deu-se início à perseguição ao escritor.
Na época, a hipocrisia como sempre se
fazia presente e a homossexualidade era severamente condenada por lei na
Inglaterra. Oscar Wilde tinha se envolvido com Lord Alfred Douglas (ou Bosie), filho do Marquês de Queensberry.
Este, sabendo do relacionamento, enviou uma carta a Oscar Wilde, no Albermale
Club, ofendendo-o com o sobrescrito: A
Oscar Wilde, conhecido Sodomita.
O escritor decidiu processar o marquês
por difamação, mas depois resolveu desistir do processo. Tarde demais, já que
as provas da sua vida sexual começaram a aparecer. Novo processo contra ele foi
instaurado e sua fama começou a desmoronar.
Suas obras e livros foram recolhidos e
suas comédias retiradas de cartaz. O que lhe restava foi leiloado para as
despesas do processo judicial. Passou dois anos na prisão e esse período lhe
rendeu obras comoventes como A Balada do
Cárcere de Reading (1898) e De
Profundis, uma longa carta ao Lord Douglas.
Ao ser libertado, retirou-se para Paris,
onde adotou o pseudônimo de Sebastian Melmouth e passou o resto dos seus dias
em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.
O espirituoso e brilhante escritor
morreu de meningite e uma infecção no ouvido chamada cholesteotoma (doença muito comum antes do advento dos
antibióticos) em um quarto barato de um hotel de Paris, às 9h50 do dia 30 de
novembro de 1900. Deixou insubstituível obra que, mesmo depois de mais de um
século, ainda é admirada e relembrada, tamanha a sua genialidade.
O escritor, poeta e dramaturgo jaz no
cemitério Père Lachaise, o mais célebre de Paris, onde estão os túmulos de
outras 105 grandes personalidades do mundo, como Balzac, Chopin, La Fontaine , Molière. Seu
túmulo fica no número 83 da Avenue Carette, entre a Transversal 3 e a Avenue
Circulaire.
Amado por uns e repudiado por outros, Oscar Wilde e sua obra são dignos de admiração. O que se diz sobre a sua vida irregular deu à sua imagem uma aura de encantamento e atração ainda maiores. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX.
Amado por uns e repudiado por outros, Oscar Wilde e sua obra são dignos de admiração. O que se diz sobre a sua vida irregular deu à sua imagem uma aura de encantamento e atração ainda maiores. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX.
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