sábado, 7 de junho de 2014

As origens do futebol no Brasil

Texto de Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE

De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko "... no Brasil, recebemos, do berço, o nome, a religião e o clube de futebol, que, juntamente com o sexo e o estado civil, nos acompanharão pelo mundo social que acabamos de entrar" . E ele tem toda a razão ao dizer isso, pois o futebol está inserido na sociedade brasileira e também dentro da alma de cada brasileiro. Até aquele que não gosta de futebol torce e simpatiza por algum time, e sempre está ao lado da seleção nacional quando acontece a Copa do Mundo. Desde tenra idade todo cidadão brasileiro conhece o futebol, e começa a interagir com ele.
Muito se discute sobre o surgimento do Football no Brasil. A tese "oficial" salienta que Charles Willian Miller filho de aristocratas ingleses foi o introdutor do futebol em nossa terra, ao trazer da Inglaterra, em 1894, uma bola de futebol, e algumas camisas. Ele ensinou os sócios do São Paulo Atletic Club (SPAC) a praticarem o jogo já bastante conhecido na Grã-Bretanha. Porém, outros historiadores dizem que o Football chegou ao Brasil trazido pelos marinheiros ingleses em 1872, e que foi introduzido no Rio de Janeiro, e mais além, outras fontes assinalam que foram os trabalhadores ingleses das fábricas de São Paulo os introdutores do futebol em nosso país.
Estudos mais recentes mostram que o futebol já era praticado em diversos colégios pelo Brasil. Em Itu, no Colégio São Luís, em 1880 já se praticava o esporte. Em 1886, o futebol tinha muitos admiradores e praticantes no Colégio Anchieta, no Rio de Janeiro; bem como também no Rio, em 1892, no Colégio Pedro II já se praticava o "esporte bretão". Na verdade, não tem nenhum interesse a data real do aparecimento do futebol no Brasil. Interessa é o caminho que o esporte seguiu no país em seus primórdios anos. Segundo Nicolau Sevcenko o futebol se difundiu por dois caminhos: "um foi dos trabalhadores das estradas de ferro, que deram origem às várzeas, o outro foi através dos clubes ingleses que introduziram o esporte dentre os grupos de elite."
Realmente, o futebol no Brasil seguiu estes dois caminhos, mas tais caminhos também se cruzavam. Miller apresentou o futebol à elite paulista, e a sua aceitação foi rápida pelos clubes das diferentes comunidades e, ao mesmo tempo, que a elite começava a praticar esse esporte, o futebol se desenvolvia entre a classe operária, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. E se expandiu de forma rápida. Os diversos times dos operários das fábricas iam surgindo na várzea paulista, e os clubes iam adotando o esporte em seus quadros.
"O primeiro grande jogo, aquele que empolgou a platéia, foi realizado em São Paulo, em 1899, na presença de sessenta torcedores(...). de um lado, estava o time formado peos funcionários da empresa Nobling; do outro, os ingleses que trabalhavam na Companhia de Gás, da Estrada de Ferro e do Banco (inglês). No final, um resultado sem novidades: vitória dos ingleses por 1 x 0, diz Waldenyr Caldas. Os clubes da elite começaram a se organizar e a fazer partidas de futebol entre si. Os primeiros amistosos ocorreram em São Paulo nos anos de 1899/1900, entre o São Paulo Athletic, Germânia(atual E.C. Pinheiros), o Mackenzie e a Internacional, todos com sócios da elite paulistana e de várias origens, como americanos, ingleses e alemães. A seguir, surgiu a Liga Paulista de Football, em 1902, com apenas cinco clubes, os quatro já mostrados acima mais o C. A. Paulistano e foi organizado o primeiro campeonato paulista de futebol, cujo campeão seria o São Paulo Athletic, em cujo team jogava Charles Miller. 
Enquanto os clubes de elite se organizavam e montavam campeonatos, os clubes da várzea, formados por operários das diversas fábricas do Rio de Janeiro e São Paulo, começavam a organizar campeonatos entre si. Porém, as fontes documentais desses jogos, e até mesmo das equipes praticamente não existem, devido à característica de serem times pobres. Ao longo do início do século 20 irão surgir diversos clubes formados por operários das fábricas no Rio e em São Paulo. Entre eles: o Bangu Atletic Club, no Rio de Janeiro; Sport Club Corinthians Paulista e o Palestra Itália, em São Paulo.
O Estado brasileiro não se opôs, segundo Caldas, à prática do futebol nos colégios, nem nos locais públicos e isso também fez a Igreja. Esta última chegou a incentivar a prática do esporte nos seus colégios. Isso talvez tenha ocorrido por seus diretores saberem que a experiência inglesa de proibição não havia dado certo, e além do mais, o futebol tinha chegado ao Brasil com as regras já determinadas, não sendo motivo de preocupação para o Estado. Assim, as grandes ligas, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo e demais regiões do país, continuaram elitizadas até pelo menos à metade da segunda década do século 20. Entretanto, com a grande difusão que o Football tomou no Brasil, conquistando as massas, as ligas tiveram que aceitar times vindos da várzea em seus quadros.
O futebol se popularizou de tal forma no Brasil que deixou de ser um esporte das elites. Segundo Sevcenko "tal como Londres, a cidade de São Paulo ficou até o final dos anos 20 dividida entre três agremiações arquiinimigas, o Paulistano, o Palestra, e o Corinthians. Cada final de Campeonato era como uma guerra civil na cidade". E ainda hoje é assim.
Com o passar dos anos, os clubes de elite foram se desligando do futebol, tudo isso devido à popularização do esporte. Hoje em dia, o único clube que era de elite e que ainda tem o futebol como seu esporte principal talvez seja o Fluminense Football Club, do Rio de Janeiro. Com a profissionalização do futebol brasileiro, em 1933, muitos clubes da elite deixaram de praticar o esporte em campeonatos oficiais, a exemplo do Clube Atlético Paulistano, maior campeão do período do amadorismo no futebol paulista, com 11 títulos.

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