A indústria da exploração da fé
Especial para o Humanitas
Luiz Carlos
Amorim é escritor. Integrante da Academia Sulbrasileira de
Letras.Mora em Florianópolis/SC
Dois assuntos eu não gosto de
abordar, política e religião. Mas há ocasiões em que somos obrigados a falar
sobre os referidos, pois fazemos parte do contexto em que eles estão inseridos;
queiramos ou não, eles nos dizem respeito.
Então enveredamos por discussão
sobre religião, em família.
E aí a coisa pega, pois sou muito cético em relação ao
assunto. Para mim, fé é uma coisa e religião é outra. Acho crime o que fazem
certos bispos e pastores de algumas novas igrejas
que usam o nome de Deus para conseguir dinheiro dos pobres fiéis.
E quando digo pobres, quero dizer
pobres mesmo, nos dois sentidos: pobres porque são enganados, aliciados e
saqueados, e pobres porque têm poucas posses, a maioria deles.
E as igrejas proliferam, porque
no Brasil essa é uma modalidade de empresa
ou entidade que não paga nenhum
imposto.
Então os religiosos alugam um espaço físico, fundam uma igreja e atraem os fiéis com a promessa, por exemplo, de
livrá-los do inferno, se doarem uma certa quantia à casa de Deus, que eles
representam. E com esse dinheiro que pedem aos fiéis, pagam o aluguel, pagam os pastores e funcionários da igreja e ficam ricos, constroem impérios.
Não seria tempo de nossos
governantes, o poder legislativo, quem sabe, rever essa lei que isenta as
igrejas de qualquer ônus?
Que isenta as igrejas de qualquer
imposto para acabar com essa coisa de pedirem o pouco dinheiro que as pessoas
ganham com sacrifício em troca de promessas formuladas em nome de Deus, em tom
de coação? Pois ameaçar que alguém vai pro inferno se não colaborar, que não
vai conseguir sucesso na vida, se não colaborar, é enganar as pessoas.
Está na hora de mudar esse estado
de coisas. Isso é usar o nome de Deus em vão, é usar a fé em Deus dos nossos
semelhantes para conseguir benefício próprio, usando o princípio do dízimo, que
é mencionado na Bíblia. Não pode haver lei que proteja isso.
Volta e meia um escândalo de dono de alguma igreja vem à tona,
mostrando que o bispo, ou seja lá que
outro nome se dão, enriqueceu com o dinheiro arrecadado pela sua igreja, transformando-se em proprietário de
mansões, grandes e valiosas fazendas, impérios empresariais etc.
Não foram nem um e nem dois,
vários destes senhores já foram
denunciados, mas nunca nenhum foi preso. Nem devolveu o dinheiro doado por seus fiéis.
Seria engraçado se não fosse
trágico – e irônico – o fato de a denúncia mais recente partir da rede de
televisão pertencente a uma igreja cujo dono já foi alvo das mesmas denúncias
que vêm fazendo a um outro dono de igreja.
Será que não pesa na consciência
desses senhores usar o nome de Deus para arrancar dinheiro de quem não tem
quase nada? Parece que não. E a lei, ou quem faz as leis, nossos digníssimos
representantes, e a justiça, falida, não fazem nada para acabar com esse estado
de coisas.
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www.luizcarlosamorim.blogspot.com
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