terça-feira, 25 de agosto de 2015

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 8

A indústria da exploração da fé
Especial para o Humanitas
Luiz Carlos Amorim é escritor. Integrante da Academia Sulbrasileira de Letras.Mora em Florianópolis/SC

Dois assuntos eu não gosto de abordar, política e religião. Mas há ocasiões em que somos obrigados a falar sobre os referidos, pois fazemos parte do contexto em que eles estão inseridos; queiramos ou não, eles nos dizem respeito.
Então enveredamos por discussão sobre religião, em família. E aí a coisa pega, pois sou muito cético em relação ao assunto. Para mim, fé é uma coisa e religião é outra. Acho crime o que fazem certos bispos e pastores de algumas novas igrejas que usam o nome de Deus para conseguir dinheiro dos pobres fiéis.
E quando digo pobres, quero dizer pobres mesmo, nos dois sentidos: pobres porque são enganados, aliciados e saqueados, e pobres porque têm poucas posses, a maioria deles.
E as igrejas proliferam, porque no Brasil essa é uma modalidade de empresa ou entidade que não paga nenhum imposto.
Então os religiosos alugam um espaço físico, fundam uma igreja e atraem os fiéis com a promessa, por exemplo, de livrá-los do inferno, se doarem uma certa quantia à casa de Deus, que eles representam. E com esse dinheiro que pedem aos fiéis, pagam o aluguel, pagam os pastores e funcionários da igreja e ficam ricos, constroem impérios.
Não seria tempo de nossos governantes, o poder legislativo, quem sabe, rever essa lei que isenta as igrejas de qualquer ônus?
Que isenta as igrejas de qualquer imposto para acabar com essa coisa de pedirem o pouco dinheiro que as pessoas ganham com sacrifício em troca de promessas formuladas em nome de Deus, em tom de coação? Pois ameaçar que alguém vai pro inferno se não colaborar, que não vai conseguir sucesso na vida, se não colaborar, é enganar as pessoas.
Está na hora de mudar esse estado de coisas. Isso é usar o nome de Deus em vão, é usar a fé em Deus dos nossos semelhantes para conseguir benefício próprio, usando o princípio do dízimo, que é mencionado na Bíblia. Não pode haver lei que proteja isso.
Volta e meia um escândalo de dono de alguma igreja vem à tona, mostrando que o bispo, ou seja lá que outro nome se dão, enriqueceu com o dinheiro arrecadado pela sua igreja, transformando-se em proprietário de mansões, grandes e valiosas fazendas, impérios empresariais etc.
Não foram nem um e nem dois, vários destes senhores já foram denunciados, mas nunca nenhum foi preso. Nem devolveu o dinheiro doado por seus fiéis.
Seria engraçado se não fosse trágico – e irônico – o fato de a denúncia mais recente partir da rede de televisão pertencente a uma igreja cujo dono já foi alvo das mesmas denúncias que vêm fazendo a um outro dono de igreja.
Será que não pesa na consciência desses senhores usar o nome de Deus para arrancar dinheiro de quem não tem quase nada? Parece que não. E a lei, ou quem faz as leis, nossos digníssimos representantes, e a justiça, falida, não fazem nada para acabar com esse estado de coisas.
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