Genocídio armênio
completa 100 anos
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é
jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE
No último mês
de abril deste ano, completaram-se 100 anos de um dos mais cruéis e bárbaros
genocídios da História da Humanidade, a chamada Grande
Deportação, nome dado ao assassinato metódico e organizado de 1,5 milhões
de armênios pela Turquia, durante o governo dos Jovens Turcos.
Foram assassinados 75% dos
armênios existentes. Três quartos de um povo, em um só processo.
O Ocidente,
incluindo os EUA, em geral nega o uso do termo genocídio para o
assassinato de 3/4 dos armênios, por motivos diplomáticos.
Caso
reconheça que houve genocídio isso iria implicar em pagamento de reparação
pecuniária pela Turquia às famílias das vítimas, dada a imprescritibilidade dos
crimes contra a humanidade.
O
ex-presidente norte-americano, George Bush, pessoalmente, solicitou que fosse
barrada pelo Congresso – urgentemente - a votação de uma resolução sobre este
assunto.
O atual
presidente Barack Obama, que em sua campanha eleitoral prometeu reconhecer o
genocídio, voltou atrás depois de eleito e não mais toca no assunto por
questões diplomáticas.
Isso porque
todos sabem da importância do apoio da Turquia na política americana para o
Oriente Médio - Leste Europeu.
Israel, cujo
povo foi também vítima de um genocídio, não reconhece o genocídio armênio.
A diplomacia brasileira segue o mesmo
caminho, embora alguns estados brasileiros que receberam a imigração armênia,
como São Paulo, o reconheça.
O motivo do
extermínio armênio foi - o que não é surpresa - perseguição religiosa.
Os armênios eram majoritariamente cristãos em um país islâmico e o Estado turco
cometeu o assassinato em nome da homogeneização cultural, eliminando à
força as diferenças.
Dezesseis
meninas foram crucificadas depois de serem estupradas. Uma das testemunhas
oculares da crucificação, Aurora Mardiganian, foi ela mesma estuprada e mantida
em um harém.
O tratamento
das mulheres armênias era especialmente bárbaro, envolvendo repetição de
tortura e estupro que frequentemente levava as vítimas ao suicídio. Para as
desafortunadas que não sucumbiam à insanidade, o final dessa literal via crucis
era uma zombaria com a própria religião das vítimas: a crucificação.
Os prisioneiros eram embarcados para a
execução em trens, o que seria repetido pelos nazistas duas décadas depois.
Este acontecimento fez 100 anos, agora, em 2015.
Quantos
outros anos rolarão até que a diplomacia mundial fale sobre ele chamando-o pelo
que realmente é: genocídio?
Oscar S. Heizer, cônsul dos EUA em Trebizonda, cidade do nordeste da
Turquia relatou que muitas
crianças foram colocadas em barcos, levadas e jogadas ao mar.
O cônsul italiano na mesma cidade, em 1915, Giacomo Gorrini, escreveu: Vi
milhares de mulheres e crianças inocentes colocadas em barcos que foram
emborcados no Mar Negro. Outros relatos
assinalam que o método mais rápido para a eliminação das mulheres e crianças
que concentravam-se nos vários campos foi o de queimá-las. E também que prisioneiros
turcos que aparentemente tinham presenciado algumas dessas cenas ficaram
horrorizados e enlouquecidos com a lembrança desta visão. Russos afirmaram que,
vários dias depois, o odor da carne humana queimada ainda impregnava o ar.
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