terça-feira, 25 de agosto de 2015

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 4

Genocídio armênio
completa 100 anos
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

No último mês de abril deste ano, completaram-se 100 anos de um dos mais cruéis e bárbaros genocídios da História da Humanidade, a chamada Grande Deportação, nome dado ao assassinato metódico e organizado de 1,5 milhões de armênios pela Turquia, durante o governo dos Jovens Turcos.
Foram assassinados 75% dos armênios existentes. Três quartos de um povo, em um só processo.
O Ocidente, incluindo os EUA, em geral nega o uso do termo genocídio para o assassinato de 3/4 dos armênios, por motivos diplomáticos.
Caso reconheça que houve genocídio isso iria implicar em pagamento de reparação pecuniária pela Turquia às famílias das vítimas, dada a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade.
O ex-presidente norte-americano, George Bush, pessoalmente, solicitou que fosse barrada pelo Congresso – urgentemente - a votação de uma resolução sobre este assunto.
O atual presidente Barack Obama, que em sua campanha eleitoral prometeu reconhecer o genocídio, voltou atrás depois de eleito e não mais toca no assunto por questões diplomáticas.
Isso porque todos sabem da importância do apoio da Turquia na política americana para o Oriente Médio - Leste Europeu.
Israel, cujo povo foi também vítima de um genocídio, não reconhece o genocídio armênio.
A diplomacia brasileira segue o mesmo caminho, embora alguns estados brasileiros que receberam a imigração armênia, como São Paulo, o reconheça.
O motivo do extermínio armênio foi - o que não é surpresa - perseguição religiosa. Os armênios eram majoritariamente cristãos em um país islâmico e o Estado turco cometeu o assassinato em nome da homogeneização cultural, eliminando à força as diferenças.
Dezesseis meninas foram crucificadas depois de serem estupradas. Uma das testemunhas oculares da crucificação, Aurora Mardiganian, foi ela mesma estuprada e mantida em um harém.
O tratamento das mulheres armênias era especialmente bárbaro, envolvendo repetição de tortura e estupro que frequentemente levava as vítimas ao suicídio. Para as desafortunadas que não sucumbiam à insanidade, o final dessa literal via crucis era uma zombaria com a própria religião das vítimas: a crucificação.
Os prisioneiros eram embarcados para a execução em trens, o que seria repetido pelos nazistas duas décadas depois. Este acontecimento fez 100 anos, agora, em 2015.
Quantos outros anos rolarão até que a diplomacia mundial fale sobre ele chamando-o pelo que realmente é: genocídio?
Oscar S. Heizer, cônsul dos EUA em Trebizonda, cidade do nordeste da Turquia relatou que muitas crianças foram colocadas em barcos, levadas e jogadas ao mar. 
O cônsul italiano na mesma cidade, em 1915, Giacomo Gorrini, escreveu: Vi milhares de mulheres e crianças inocentes colocadas em barcos que foram emborcados no Mar NegroOutros relatos assinalam que o método mais rápido para a eliminação das mulheres e crianças que concentravam-se nos vários campos foi o de queimá-las. E também que prisioneiros turcos que aparentemente tinham presenciado algumas dessas cenas ficaram horrorizados e enlouquecidos com a lembrança desta visão. Russos afirmaram que, vários dias depois, o odor da carne humana queimada ainda impregnava o ar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário