O mundo é de
todos os Deuses
Thomas Henrique de Toledo Stella
Professor e Historiador
São Paulo/SP
Texto extraído de www.thomasdetoledo.blogspot.com.br
Essa história de Deus único nunca me
convenceu. O Deus da Torá e da Bíblia é completamente diferente dos Deuses do
Baghavad Gita, que são completamente diferentes do Deus do Alcorão, que é
totalmente diferente dos Deuses e Deusas do Candomblé, chamados de Orixás.
Sim, todos os Panteões possuem uma
divindade suprema, mas qual correspondência se pode traçar entre Allah e Odin,
entre Zeus e Inannah? São atributos completamente diferentes.
Algumas pessoas tentam fazer
sincretismos forçados entre Jesus e Hórus, por exemplo, o que não faz o menor
sentido. O Deus sacrificado na mitologia egípcia é Osiris e Hórus é associado
ao poder monárquico dos faraós.
Na mitologia cristã, Jesus é
identificado como o Deus do amor, mas ele é muito diferente da Deusa do amor
dos gregos, Afrodite, que não separa sexualidade e sensualidade de amor.
Aliás, a única Deusa no cristianismo é
virgem, como se o sexo, a energia da vida, fosse um pecado imoral.
A concepção monoteísta, seja ela deísta
ou teísta, não pode jamais ser entendida como a única acerca da espiritualidade.
Aliás, se existem tantos Deuses no mundo quem garante que o Deus da sua
religião é o verdadeiro?
O judaísmo, cristianismo e islamismo se
utilizam de uma concepção teológica chamada monoteísmo, que se derivou da
monolatria.
O monoteísmo é a crença de que só existe
um Deus e que todos os outros são falsos.
A monolatria reconhece que existem
vários Deuses, mas prega que se deve cultuar apenas um.
Na verdade, o monoteísmo surge como
oposição às religiões chamadas politeístas, que acreditam em muitos Deuses e
Deusas. Há basicamente duas formas de politeísmo: a que entende que os Deuses
são forças da natureza que dividem seus papéis no ordenamento cósmico, e a que
concebe que todos os Deuses são manifestações de um único princípio criador.
Esta segunda visão era predominante no Antigo Egito e foi corrompida pelo faraó
Akhenaton, que pela primeira vez na história sugeriu a existência de um único
Deus, negando todos os outros.
Os hebreus eram monolatristas seguidores
do Deus YHVH e quando viviam como trabalhadores imigrantes (não como escravos)
no Egito, sincretizaram o seu Deus com o de Akhenaton.
Teologicamente, este foi o ponto de
virada da monolatria para o monoteísmo e da religião hebreia original para o
judaísmo, que viria a ser criado durante os cativeiros dos judeus na Babilônia
e na Pérsia.
A religião de Akhenaton durou pouco, mas
os judeus desenvolveram sua crença monoteísta progressivamente, condenando
outras divindades, mas utilizando-se da ideia de um Deus com vários atributos
(72 nomes). Isto também viria a aparecer no cristianismo com o conceito de
trindade. Já o islã completou a “revolução” monoteísta quando Mohammed destruiu
todas as imagens dos Deuses da Caaba e estabeleceu que Allah seria o único
Deus.
O que levou o monoteísmo a ganhar força
e a devastar militarmente o politeísmo, foi que a crença na existência de uma
única autoridade divina poderia justificar um único rei, um único Estado e um
único território, como bem se aproveitou o Imperador Constantino para salvar o
Império Romano da fragmentação.
Assim, a predominância das religiões
monoteístas no mundo moderno deve-se muito mais a fatores políticos e de guerra
do que propriamente religiosos.
Atualmente, na África, América Latina
(índios da Bolívia, Peru e México), Ásia (Índia, China, Nepal e Japão) e em
diversos outros lugares do planeta, o politeísmo sobrevive e representa uma
opção pela diversidade em detrimento da uniformização que as religiões
monoteístas propõem pela conversão ou impõem pela força.
Impor um Deus, uma religião, um dogma e
uma moral só levou o mundo a guerras e crimes. Está na hora de se reaprender
com o politeísmo como viver a diversidade e lembrar que se alguém acredita que
só existe um Deus, isto é apenas sua crença individual. Ninguém é obrigado a
aceitar um Deus que não ressoa no interior da própria consciência.
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