Consumismo desenfreado
Especial para o Humanitas
Antonio
Carlos Gomes é um dos mais ativos colaboradores do Humanitas. É médico e
mora em
Guarujá/SP
Oito bilhões de elefantes comendo a copa
das árvores conseguem acabar com as florestas. Isto é o que está acontecendo. O
consumismo desenfreado está acabando com o planeta. Esta foi à conclusão que me
ocorreu quando, numa página de poesia, abriu-se um desafio de se escrever como
proteger a natureza no dia do meio ambiente.
Não sou economista nem monge; tampouco
prego vegetarianismo ou outra qualquer filosofia de vida ou modismos.
Acompanhem meu raciocínio: excetuando-se dois bilhões de humanos que vivem em
miséria absoluta, com centenas de mortes infantis por fome por dia, o restante
da população tem algum consumo, variando conforme a classe social que ela se
encontra. Usarei como parâmetro o Estado de São Paulo.
Nesta camada de consumo a grande parte
consome mais do que precisa. Todos justificam com propriedade que é para seu
bem estar e para não ficar inferiorizado perante seus vizinhos.
A partir de certo nível de ganho temos
repetições de objetos:: um celular com máquina fotográfica que se conecta com a
internet, uma máquina fotográfica, um tablete, um notebook, um computador.
Portanto, repetições, o celular e o computador seriam suficientes para suas
necessidades. Se tiverem uma boa televisão e no hipermercado aparecer uma
oferta a preço tentador, comprarão outro aparelho para colocar no quarto.
Em seus armários encontraremos meia
dúzia de toalhas de banho compradas em ofertas irresistíveis.
Mais: vários pares de sapatos, muitas
calças, camisas, vestidos, blusas e assim por diante. Olhando bem, consumimos
várias vezes mais do que a necessidade básica de viver bem.
O carro, se possível deve ser trocado
cada um ou dois anos, cada eletrodoméstico é trocado regularmente em períodos
breves, bem como os móveis, sempre que for possível, acompanhando a moda da
época.
Toda novidade em eletrodomésticos, modas
ou lazer é rapidamente adquirida. Se demorar muito para ter o dinheiro para a
compra, a angústia acompanha a família.
O que tem a ver tudo isto com a
natureza? Respondo: tudo!
O mundo atual é dominado por grandes
conglomerados incluindo superempresas e bancos.
A mobilidade dos pequenos é limitada
pelo capital que não possuem e dependem diretamente do sistema bancário e dos
fornecedores, direta ou indiretamente ligados a uma empresa multinacional.
A lavoura e o agronegócio, por maior que
seja, depende de fertilizantes, sementes e agrotóxicos, tudo dominado pelo
capital internacional incidindo royalty e outras taxas.
Resumindo, o capital internacional
dirige tudo, direta ou indiretamente e os bancos são os fornecedores do
combustível para a economia funcionar.
Portanto, temos um sistema internacional
(bancos e multinacionais) donos do capital, um sistema de distribuição
(intermediários locais), um sistema de propaganda (imprensa) e consumidores. A
imprensa é dependente e só sobrevive pelo capital.
Como tudo que se compra e produz é
despesa em moedas estrangeiras, atinge a balança comercial e incide juros para
o país.
O que se
produz é em grande parte consumido no mercado interno, sem abater os dólares de
custo (insumos, royalty, patentes, matérias primas).
O sistema fica sempre deficitário
obrigando ao governo estimular a produção tanto para diminuir o déficit, como
para amenizar a pressão que sofre como devedor. O sistema funciona para o país
como um cartão de crédito que não se consegue pagar a totalidade da fatura e a
divida sempre aumenta, no nosso caso obrigando a aumentar a produção.
A máquina do capital tende sempre a
aumentar o lucro e maquia as bugigangas que oferece à população, para que esta
gaste mais e gere maior receita.
Para aumentar a produção há necessidade
de além de melhor técnica (sempre importada) mais terra (tanto para plantio,
como geração de energia, transporte e armazenagem), obrigando a cada vez mais
ocupar terras ocupadas por matas para produzir.
Os índios, sem terras e quilombolas
deveriam ser respeitados nesse processo. Os primeiros preservando suas terras
sagradas e de subsistência; os outros dois dentro de um processo de agricultura
familiar, fornecendo alimentos para a população a um custo menor. Este
procedimento não agrada ao capital, que além de necessitar do espaço para
consumir insumos, teria a concorrência de produtos fora das bolsas de
mercadorias; portanto sem lucro.
Nesses casos age com a imprensa,
desqualificando este segmento e por via judicial, que sempre é oriunda da
classe dominante, inclinada por convicção a concordar com o sistema de capital.
O sistema é fechado, portanto. As
árvores continuarão sendo destruídas e os mais fracos expulsos de suas terras.
Não vejo como reverter a situação enquanto durar esta forma de capital. A única
maneira de controle é nossa própria restrição de consumo para poder quitar este
cartão de crédito interminável.
A
solução cabe a cada um dos cidadãos.
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