sexta-feira, 27 de maio de 2016

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA OITO

Enedina Marques: pioneira da engenharia
Especial para o Humanitas
Juarez Pedrossiano Goitá  é escritor, poeta e colaborador deste  Humanitas. Mora em Fortaleza/CE

Se ainda hoje é difícil para uma mulher construir uma carreira de sucesso, obter respeito e até mesmo concluir um curso superior, o que dizer de uma negra que nasceu no século passado, onde mesmo após a abolição da escravatura ainda se sentia o forte peso da discriminação?
Mulheres, negras e pobres representam 25% da população brasileira.
Isso é um quarto do total de cidadãos do nosso país e vivem, em sua maioria, em condições de pobreza..
Mas, em 5 de janeiro de 1913, nascia em Curitiba/PR, Enedina Alves Marques, filha de Paulo Marques e Virgilia Alves Marques.
Ela venceu todas as barreiras e fez de tudo um pouco para tornar real o sonho de chegar à universidade.
Conseguir seu diploma não foi fácil. A família era pobre e com a separação dos pais, Enedina e seus cinco irmãos mais velhos se dispersaram.
Trabalhou como babá em casa de uma família rica e recebeu o apoio dessa família para seguir seus estudos.
Em 1931 conseguiu concluir a escola normal secundária.
Como professora, Enedina atuou no Grupo Escolar de São Mateus do Sul, de Cerro Azul, Rio Negro, Passaúna e Juvevê, em Curitiba. Mas a universidade ainda era seu sonho.
 Com esse objetivo, fez o curso de madureza no Colégio Novo Ateneu, e ingressou no primeiro curso pré-engenharia da Universidade do Paraná.
Frequentou também o curso preparatório do Colégio Estadual do Paraná.
Em 1940, sentindo-se bem preparada, ingressou no curso de engenharia, onde foi alvo de preconceitos por parte de alunos e professores. Sua inteligência e determinação superaram esses obstáculos e seu carisma pessoal conquistou amigos e solidariedade dentro e fora do curso. Depoimentos desses amigos dizem que Enedina passava as noites estudando, copiando assuntos de livros que não podia comprar.
Aos 32 anos, em 1945, Enedina se forma em Engenharia Civil, sendo a primeira mulher a se tornar engenheira no Paraná.
No início de sua carreira, foi funcionária da Secretaria de Viação e Obras Públicas, onde atuou como engenheira fiscal de obras do Estado do Paraná; foi chefe de hidráulica; chefe da divisão de estatísticas; chefe do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura. 
Atuou no levantamento topográfico da Usina Capivari Cachoeira. Deixou sua contribuição no levantamento de rios, na construção de pontes e na Usina Parigot de Souza. 
Assim ela foi conquistando, aos poucos, o reconhecimento profissional. Com competência liderou peões, técnicos e engenheiros. Gerenciou obras e trabalhos burocráticos. Fez-se respeitar e valorizar. Hoje tem seu nome gravado no Livro do Mérito do Sistema Confea/Crea e sua memória é lembrada no Paraná e no país.
Enedina já foi homenageada em praça pública, e hoje seu nome faz parte da galeria dos paranaenses ilustres. A curitibana deixou registrado seu nome na história do Paraná como a pioneira da engenharia.
Como membro da Associação Brasileira de Engenheiros e Arquitetos do Brasil e Instituto de Engenharia do Paraná, consagrou seu reconhecimento profissional.
Não aceitou os padrões sociais injustos de sua época. Sonhou e ousou. Criou novos paradigmas. Foi uma mulher pioneira.
Em 1981, no dia 20 de agosto, Enedina foi encontrada morta no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, vítima de ataque cardíaco. Morreu sem família e seu corpo demorou a ser encontrado. O Diário Popular, tabloide da época, a retratou de camisola levantada, como se fosse uma mera desconhecida, o que causou a indignação de membros do Instituto de Engenharia do Paraná.
Foi imortalizada ao lado de outras 53 pioneiras no Memorial à Mulher, com uma praça, em Curitiba. A homenagem fez parte da comemoração dos 500 anos do Brasil, promovida pela Prefeitura Municipal de Curitiba e Soroptmist Internacional. A engenheira também empresta o nome ao Instituto de Mulheres Negras de Maringá.

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