Violência contra religiões afro
Sarita Cordeiro – Professora - Salvador/BA
Nos últimos anos, as agressões aos
terreiros e fiéis das religiões afro se agravaram, e tal cenário continua a
piorar sem que medidas concretas sejam tomadas pelas autoridades constituídas.
Numerosos estudos já foram apresentados por experts no assunto e todos
revelaram dados assustadores sobre a violência contra os terreiros e contra os
praticantes das suas religiões.
Apedrejamento dos espaços, quebra-quebra de imagens e agressões físicas e
morais são fatos contundentes, e esse cenário começou a ser delineado nos
últimos vinte anos com o crescimento das seitas cristãs neopentecostais, cujos
seguidores, seguindo ordens emanadas dos seus pseudos pastores tomam essa
atitude criminosa.
É verdade comprovada tudo isso. Os evangélicos neopentecostais bem como
aqueles que são vizinhos dos terreiros são os principais agressores.
O pior de tudo é que tais ataques não ocorrem apenas nos terreiros,
também acontecem nas ruas e espaços públicos. Claro que a maioria das ações de
intolerância teve uma casa de culto a sofrer apedrejamento, pichação da
fachada, acusação de ponto de venda de drogas ou de manter menores em cárcere
privado. Sem contar com as mais diversas ameaças de perseguição ao proprietário
do imóvel.
Em artigo veiculado na revista Carta
Capital, Jean Willys, deputado federal pelo PSOL, salientou que essas agressões e os casos de intolerância
religiosa se devem à falta de políticas públicas de reconhecimento das
religiões afro, assim como da inexistência de punições severas para os que
atentam contra elas.
Ele também assinala na reportagem da revista que o assassinato por
linchamento no Guarujá (SP), em 2014, da mulher Fabiane Maria, poderia ter sido
evitado desde que a ignorância/intolerância não fosse algo tão bem orquestrado
pelas religiões neopentecostais. Fabiane foi linchada ao ser confundida com uma
suposta sequestradora de crianças e acusada de praticar rituais satânicos de
magia negra.
A difamação e a perseguição que integrantes das religiões afro sofrem
por parte de muitos pastores e obreiros neopentecostais são divulgadas em
cultos e até mesmo através de programas televisivos. Assim, tais crimes têm
relação com a prática da intolerância religiosa.
Nos últimos anos, o pentecostalismo se posicionou de forma muito radical
e fundamentalista, o que tem levado a situação de extrema violência contra as
religiões afro.
Quando determinado grupo se acha superior a outro no tocante a seguir
uma religião, a intolerância entra em campo e, apesar de o Brasil ser um país
laico, não se toma nenhuma medida de contenção à violência por parte da polícia
e do Judiciário.
Ninguém se engana quando afirma que é o fundamentalismo evangélico neopentecostal
que tem levado a essas situações de violência contra outras religiões. Tal tipo
de violência é um golpe às diferentes formas de organização social.
É preciso que seja enfrentado com coragem, pois destruir um patrimônio
caro à História do Brasil como queimar e destruir terreiro é um crime grave.
Precisamos defender as culturas vindas das religiões afro. Elas foram
construídas ao longo de séculos de vivência entre os brasileiros,
sendo resultado do processo de colonização, organização e formação do nosso território.
Em 1891, a
primeira Constituição do Brasil separou a Igreja do Estado, mas foi em
1988 que se conquistou a garantia da preservação e do respeito à livre
confissão de fé.
O artigo V,
no parágrafo VI de nossa atual Carta Magna diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e à sua liturgia.
Intolerância
religiosa leva as pessoas a seguirem o caminho do ódio e da violência. A
contribuição afro-brasileira à cultura nacional é enorme, e foi um poderoso
pilar para os maiores movimentos de resistência contra as tentativas dos grupos
dominantes de suprimir manifestações como o samba, o frevo e a capoeira.
Hoje, a prática religiosa deste grupo é novamente marginalizada e agredida.
Lutemos contra isso!
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