sexta-feira, 27 de maio de 2016

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA CINCO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 6)
Especial para o Humanitas

Pedro Rodrigues Arcanjo -  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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A cruz e a espada brandidas pelos cristãos tiveram papel especial na subjugação do continente americano. Muitos indígenas foram obrigados a se converter ou a morrer. Vejamos a conversão forçada dos índios Pueblo, ocorrida no fim do Século XVI até o início do Século XVIII.
No território hoje pertencente aos EUA, os exploradores espanhóis, com seus monges, entraram em contato com esses índios ao subirem pela costa do Golfo do México.
As tribos dos Pueblo viviam em aldeias (los pueblos) de casas de tijolos com dois ou três andares, eram pacíficos e praticavam a agricultura, sendo muito diferentes dos demais índios nômades das planícies do Norte e outros indígenas mais combativos, que os espanhóis encontraram no México e na América do Sul
Os Pueblo possuíam uma religião própria. Acreditavam no Pai do Céu e na Terra Mãe, temiam os demônios - os Skinnwalkers -, acreditando que eles andavam pela crista das montanhas ao pôr do sol, bem como veneravam os corvos como reencarnação dos seus antepassados.
Possuíam um rico templo de deuses semelhantes ao dos deuses gregos, sendo o seu deus principal a mulher-aranha. As cerimônias eram celebradas em igrejas denominadas Kivas.
Estes pacíficos índios agricultores logo se tornam objeto de atenção dos padres espanhóis, impacientes por substituir o culto do Pai Céu e da Mãe Terra por aquele de cujo deus se bebe o sangue nas cerimônias.
Por tal motivo resolvem ser piedosos e acusam os pajés índios de bruxaria, ordenando que sejam executados.
Assim, as Kivas são destruídas pelos espanhóis. Os cultos tradicionais dos índios são proibidos, sob pena de mutilação e morte. Se por alguma fatalidade, índios forem surpreendidos a celebrar uma cerimônia tradicional terão braços ou pés decepados.
Porém, apesar dessas ordens cristãs, alguns índios continuarão a realizar seus cultos, em segredo, durante a noite. Os padres católicos usarão esse fato nos sermões, salientando que os índios seguem a religião das trevas, pois os cultos eram sempre à noite
Esqueceram de dizer que no cristianismo - religião da luz – come-se a carne e se bebe o sangue do deus cristão em pleno dia.
Diversas revoltas sangrentas pontuam a cristianização dos Pueblo. Essa perseguição religiosa só cessará depois da anexação do território pelos EUA, em 1847.
Mas, na Europa, as execuções por heresia não param. Em 1600, o cientista Giordano Bruno é queimado vivo em Roma por ter ousado definir o Universo como infinito e admitido a hipótese da existência de formas de vida fora da Terra.
Seu processo durou oito anos, e durante esse tempo lhe são arrancadas confissões, sob tortura, para depois ele ser condenado à morte como herege obstinado e ímpio.
Giordano se defende, tentando mostrar que as suas ideias não estão em contradição com as doutrinas cristãs, mas tudo foi em vão e ele terminou sendo queimado vivo, em público, no Campo dei Fiori, em Roma.
Antes, os bondosos prelados e inquisidores tiveram o cuidado de lhe cortar a língua antes de o enviar ao local da execução, para evitar todo o risco de que as suas palavras emocionassem a multidão que veio assistir ao espetáculo. Seu principal acusador, o cardeal Bellarmino, será mais tarde canonizado e, em 1930, proclamado Doutor da Igreja.
É interessante observar que, no caso de Galileo Galilei (ocorrido no ano de 1633), a Igreja Católica expressou seu arrependimento no fim do Século XX, reabilitando este cientista no ano de 1992, mas nunca se arrependeu da execução de Giordano Bruno. Pelo contrário, se opôs com veemência à instalação duma estátua de Giordano, em 1889. Em 1929, o papa pediu a Mussolini que destruísse essa estátua.
Depois de expulsar os judeus da Espanha, a Santa Inquisição ficou quase sem ter o que fazer e então resolveu caçar os mouros recém-convertidos ao cristianismo.
Em 1609 é lançada a suspeita de que os mouros são falsos convertidos e a ordem é a de executar todos os que se recusarem a beber vinho ou comer carne de porco, ou que sejam limpos demais. O Islamismo, contrariamente ao cristianismo, prescreve lavagens periódicas.
A higiene nunca foi tão perigosa como no Século XVII, na Espanha! A Inquisição consegue do rei a expulsão dos mouros convertidos para o Norte da África. O número dos expulsos é mal conhecido, no entanto, as estimativas variam entre 300 mil e três milhões. Os convertidos expulsos são obrigados a irem para as terras islâmicas, onde o Corão prevê a pena de morte para todos que renegaram Maomé.

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