quarta-feira, 27 de julho de 2016

HUMANITAS Nº 50 – AGOSTO 2016 – EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO – PÁGINA 7

Antes da chegada dos cristãos europeus os nativos
norte-americanos reconheciam cinco gêneros

Especial para o Humanitas
Francine Oliveira é Mestra em Teoria Literária e Crítica da Cultura. 
Mora em Juiz de Fora-MG

Muitos conservadores continuam a insistir em uma “ideologia de gênero” que negaria a “natureza” humana ao afirmar que os gêneros são culturalmente construídos.
Para eles, só existiriam dois gêneros, correspondentes aos sexos “masculino e feminino”, algo que já estaria determinado por "Deus" antes do nascimento.
No entanto, a “ideia restrita dos papéis de gênero”  como a conhecemos hoje, baseada no binário homem/mulher, apenas foi incorporada pelas tribos norte-americanas após a chegada dos europeus, com a imposição das crenças cristãs.
A visão diferenciada dos gêneros, que existia em muitas comunidades indígenas, não apenas na América do Norte, mostra como a cultura de um povo influencia os papéis de gênero e a maneira como  enxergamos as expressões e sexualidades de acordo com nossas crenças. .
Para os nativos norte-americanos, havia um grupo de regras específicas que tanto homens quanto mulheres deveriam obedecer para que fossem considerados “normais” dentro de uma tribo.
Segundo o site “Indian Country Today”, especializado em notícias sobre povos indígenas, entre os índios norte-americanos eram reconhecidos cinco gêneros diferentes: masculino, feminino, dois-espíritos masculino, dois-espíritos feminino e o que hoje chamaríamos de transgênero.
As nomenclaturas são diferentes para cada tribo, de acordo com os dialetos, mas referem-se a identidades de gênero semelhantes.
A crença dos indígenas norte-americanos era a de que algumas pessoas nasciam com um espírito feminino e outro masculino que se expressavam perfeitamente em um mesmo corpo.
Não havia questões morais associadas nem aos gêneros nem à sexualidade; uma pessoa era julgada pela sociedade conforme seu caráter e de acordo com o que contribuía para a tribo.
Desde 1989, nativos americanos que militavam pela diversidade sexual e de gêneros resgataram o termo dois-espíritos (em inglês, two-spirit) para reafirmar sua identidade trans.
Assim, dois-espíritos passou a ser uma expressão universal para identificar nativos e seus descendentes, que se considerassem transgênero, entre as tribos norte-americanas. 
Quando chegaram ao território norte-americano, exploradores que testemunharam a presença desses indivíduos que não se encaixavam no padrão binário do masculino e feminino consideraram aquilo um pecado, uma espécie de maldição que recaiu sobre aquelas comunidades por não se dedicarem ao cristianismo.
A extinção das crenças nativas também aconteceu por todo o continente americano.
Colonizadores espanhóis também se empenharam em destruir códices (manuscritos gravados em madeira) astecas que mencionavam dois-espíritos e seus poderes mágicos.
 No Brasil, os portugueses igualmente se esforçaram para erradicar as identidades de gêneros e comportamentos sexuais que hoje seriam considerados transgeneridade e homossexualidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário