quarta-feira, 27 de julho de 2016

HUMANITAS Nº 50 – AGOSTO 2016 – EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO – PÁGINA 8

AGOSTO, HUMANITAS E SUPERSTIÇÕES

Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é jornalista, poeta e editor-geral deste Humanitas.
Mora no Recife/PE

Neste mês em que o HUMANITAS completa quatro anos de existência seria de bom tom recordar a difamação que agosto ganha por meio dos supersticiosos.
Em todo o mundo, especialmente nos países latinos, agosto é o mês das assombrações, dos azares, das infelicidades, das coisas horríveis que acontecem com as pessoas. Isso é o que diz o folclore. E, inclusive, agosto é o mês do folclore.
As pessoas supersticiosas acreditam nessa má fama que o mês possui, arraigada desde épocas remotas. Assim, muitos deixam de casar, deixam de fazer negócios e mudar de residência e ainda acreditam em bruxas como se estivessem vivendo na Idade Média.
Como mês do folclore no Brasil, agosto traz à tona as maiores riquezas de nossas tradições e crenças populares, também existentes em todos os meses do ano.
A cultura de um povo, em primeiro plano, é medida por suas tradições folclóricas que jamais deveriam ser contaminadas por uma visão prática da vida. A riqueza cultural brasileira está sendo mantida em ebulição e cheia de vivacidade no Nordeste, Norte e no Centro-Oeste do país.
Ainda que agosto seja considerado rima de desgosto devemos levar em conta que as superstições inerentes ao mês fazem parte do folclore de cada nação.
Os nossos vizinhos argentinos acreditam que lavar a cabeça e os cabelos nesse mês vai dar azar a quem fizer isso. “No lavarse la cabeza em el mês de agosto porque se llama a la muerte”, diz um ditado argentino.
Muitos fatos ocasionaram esse estigma. Em agosto ocorreram coisas ruins tanto no âmbito natural do planeta como no político. É difícil afirmar qual a origem exata dessa crendice. Sabemos, sim, que foram os romanos quem deram este nome ao oitavo mês do ano, numa homenagem ao imperador Augusto.
Os romanos, naquela época, já acreditavam no mau agouro do mês, período em que uma criatura horripilante cruzava os céus da cidade expelindo fogo pelas ventas, mas a criatura era nada mais e nada menos que a constelação de Leão.
O dia 24 de agosto de 1572 ficou gravado na História quando, por ordem de Catarina de Médici, rainha da França, ocorreu o massacre da noite de São Bartolomeu. Matança promovida pelos católicos franceses e que praticamente dizimou os crentes huguenotes habitantes de Paris. Outros fatos também marcam o mês de agosto como nefasto: no Brasil a superstição ganhou mais fama ainda no inicio da Primeira Guerra Mundial que eclodiu no dia 1º de agosto de 1914.
Eis uns versos publicados no “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro: “Mês terrível, funesto mês de agosto/ Mês de desgosto, mês trágico e fatal!/ Soou pelo espaço o tom da guerra/ Corre na terra sangue em caudal”.
Na área política, o suicídio de Getulio Vargas em 24 de agosto de 1954 e a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, incrementaram ainda mais a ideia de mês fatídico.
Luiz Gonzaga, o nordestino Rei do Baião, morreu em 2 de agosto de 1989; o poeta Carlos Drummond de Andrade, em 17 de agosto de 1987; Hiroshima foi destruída por uma bomba atômica no dia 6 de agosto de 1945; o Muro de Berlim começou a ser construído em 13 de agosto de 1961.
Mais: em 2 de agosto de 1976 morreu Juscelino Kubitschek outro ex-presidente do Brasil, em acidente automobilístico; e no dia 12 de agosto de 1985 ocorreu o maior desastre da aviação que matou 524 pessoas
Não devemos acreditar no azar ou na sorte. O mês de agosto é igual a tantos outros meses, apenas a tradição folclórica resolveu colocá-lo no pedestal de mês fatídico como podia ter colocado qualquer outro mês do ano.
  Um bom exemplo disso é que este HUMANITAS nasceu no 1º dia de agosto de 2012 e sempre estamos aqui a comemorar essa data com o ufanismo comum a todos os livres pensadores.

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