quarta-feira, 27 de julho de 2016

HUMANITAS Nº 50 – AGOSTO 2016 – EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO – PÁGINA 5

O TERRORISMO CRISTÃO NO MUNDO (Parte final)
Especial para o Humanitas

Pedro Rodrigues Arcanjo - Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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No ano de 1961 ocorre a última edição do Índex (Índex Additus Librorum Prohibitorum), que proibiu para leitura pelos católicos, ainda no século XX, obras de Jean-Paul Sartre, Alberto Moravia, André Gide e outros.
A Igreja Católica Romana, depois de um período de aparente liberalização sob as ordens do papa João XXIII, elege como Sumo Pontífice o polonês Karol Józef Wojtyła que adota o nome de João Paulo II. Esse papa rende-se às mais terríveis tradições da Igreja.
Entre as suas ações destacam-se a condenação do preservativo, como modo de luta contra a Aids. Isso provoca a ocorrência de muitas mortes pelo planeta até hoje difícil de estimar.
O novo papa também orienta os bispos, padres e demais religiosos a seguirem e colocarem em prática uma política ativa de sabotagem às medidas de controle da natalidade.
As consequências podem ser medidas em termos de fome, miséria, criminalidade e falta de assistência médica nos continentes mais pobres, entre eles a América do Sul e a África.
Ele faz retornar a caçada aos hereges em pleno século XX, suspendendo A divinis dois teólogos alemães que ousaram duvidar, um da infalibilidade papal, e o outro da imaculada concepção de Maria.
A partir de 1981, o papa João Paulo II recebeu, muitas vezes, agentes da CIA norte-americana no Vaticano. Nesses encontros, os americanos contavam ao Pontífice suas estratégias no mundo inteiro.
Por seu lado, o papa transmitia dados coletados em todos os continentes pela extensa rede de bispos e padres da Igreja Católica.
O Vaticano durante a gestão de João Paulo II adotou também a política de nunca criticar os norte-americanos, mesmo se isso significasse apoiar ditaduras na América Latina.
Em um livro lançado em fevereiro de 2005 no Brasil, o papa João Paulo II considera muito relativo um dos valores mais entranhados do nosso tempo: a democracia. Ele diz que o importante é viver com e em Cristo – e questiona as democracias laicas, que ele considera uma nova forma de totalitarismo.
O papa João Paulo II acabou com as mudanças liberalizantes do Concílio Vaticano II e perseguiu dissidentes. Sob o comando do cardeal alemão Joseph Ratzinger, que depois seria seu sucessor, a Congregação pela Doutrina da Fé, que sucedeu à Inquisição, acusou muitos clérigos e teólogos.
Qualquer um que ousasse defender casamento de padres, ordenação de mulheres ou outras teses polêmicas era obrigado a se calar. Os julgamentos não davam direito à defesa e alguns réus nem sabiam que estavam sendo investigados.
Uma das regiões do mundo onde mais gente foi punida nessa época pela Igreja Católica foi a América Latina. O povo latino-americano viveu sob ditaduras sanguinárias durante muito tempo, mas não eram ditaduras comunistas.
Nos anos 1970, bispos latino-americanos desenvolveram nova maneira de ver a religião, criando a Teologia da Libertação. Eles pregavam um retorno aos primeiros tempos do cristianismo, quando as comunidades viviam sob o jugo do Império Romano. Seria função da Igreja resistir à opressão e defender os pobres contra os ricos.
O papa João Paulo II, porém, via na Teologia da Libertação apenas uma coisa: comunismo. O frei brasileiro Leonardo Boff foi um dos religiosos expulsos da Igreja Católica pelo papa por professar esse tipo de ideia.
Nos anos 1990 os dirigentes mundiais tentaram descrever as guerras ocorridas nesse período como sendo guerras étnicas. Na verdade, foram guerras religiosas.
O caso da guerra da Croácia é o mais flagrante. Sérvios e croatas têm a mesma origem étnica e até a mesma língua, o croata-servo. O mais irônico é que servo-croata, escrito em caracteres latinos, é hoje a língua oficial dos soldados do exército iugoslavo que combateu em Kosovo contra a OTAN, depois de ter lutado contra os croatas no início dos anos 1990.
A religião separa tudo! Os croatas foram cristianizados por Roma. São católicos. Os sérvios foram cristianizados pelos bizantinos e são ortodoxos.
Quando Slobodan Milošević começa a agitar o espectro da Grande Sérvia, a Croácia declara a independência. Imediatamente, o Vaticano e a Alemanha, cujo chanceler se declarava um católico convicto, reconhecem a Croácia católica como estado independente.
O Vaticano pediu que os países reconhecessem o novo estado católico e o papa João Paulo II multiplicou os apelos pela independência da Croácia.
As guerras da Iugoslávia são um caso emblemático da catastrófica intolerância que é típica das religiões reveladas.

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