O TERRORISMO CRISTÃO NO MUNDO (Parte
final)
Especial para o Humanitas
Pedro Rodrigues Arcanjo - Olinda/PE
Semelhança com o atual fundamentalismo
islâmico não
é mera coincidência
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No ano de 1961 ocorre a última edição do Índex
(Índex Additus Librorum Prohibitorum),
que proibiu para leitura pelos católicos, ainda no século XX, obras de
Jean-Paul Sartre, Alberto Moravia, André Gide e outros.
A Igreja Católica
Romana, depois de um período de aparente liberalização sob as ordens do papa
João XXIII, elege como Sumo Pontífice o polonês Karol Józef Wojtyła que adota o nome de João
Paulo II. Esse papa rende-se às mais terríveis tradições da Igreja.
Entre as suas ações
destacam-se a condenação do preservativo, como modo de luta contra a Aids. Isso
provoca a ocorrência de muitas mortes pelo planeta até hoje difícil de estimar.
O novo papa também
orienta os bispos, padres e demais religiosos a seguirem e colocarem em prática
uma política ativa de sabotagem às medidas de controle da natalidade.
As consequências podem
ser medidas em termos de fome, miséria, criminalidade e falta de assistência
médica nos continentes mais pobres, entre eles a América do Sul e a África.
Ele faz retornar a
caçada aos hereges em pleno século XX, suspendendo A divinis dois teólogos alemães que ousaram duvidar, um da
infalibilidade papal, e o outro da imaculada concepção de Maria.
A partir de 1981, o papa João Paulo II
recebeu, muitas vezes, agentes da CIA norte-americana no Vaticano. Nesses
encontros, os americanos contavam ao Pontífice suas estratégias no mundo
inteiro.
Por seu lado, o papa transmitia dados
coletados em todos os continentes pela extensa rede de bispos e padres da
Igreja Católica.
O Vaticano durante a gestão de João Paulo
II adotou também a política de nunca criticar os norte-americanos, mesmo se
isso significasse apoiar ditaduras na América Latina.
Em um livro lançado em fevereiro de 2005 no
Brasil, o papa João Paulo II considera muito relativo um dos valores mais
entranhados do nosso tempo: a democracia. Ele diz que o importante é
viver com e em Cristo – e questiona as democracias laicas, que ele considera
uma nova forma de totalitarismo.
O papa João Paulo II acabou com as mudanças
liberalizantes do Concílio Vaticano II e perseguiu dissidentes. Sob o comando
do cardeal alemão Joseph Ratzinger, que depois seria seu sucessor, a
Congregação pela Doutrina da Fé, que sucedeu à Inquisição, acusou muitos
clérigos e teólogos.
Qualquer um que ousasse defender casamento
de padres, ordenação de mulheres ou outras teses polêmicas era obrigado a se
calar. Os julgamentos não davam direito à defesa e alguns réus nem sabiam que
estavam sendo investigados.
Uma das regiões do mundo onde mais gente
foi punida nessa época pela Igreja Católica foi a América Latina. O povo
latino-americano viveu sob ditaduras sanguinárias durante muito tempo, mas não
eram ditaduras comunistas.
Nos anos 1970, bispos latino-americanos
desenvolveram nova maneira de ver a religião, criando a Teologia da Libertação.
Eles pregavam um retorno aos primeiros tempos do cristianismo, quando as
comunidades viviam sob o jugo do Império Romano. Seria função da Igreja
resistir à opressão e defender os pobres contra os ricos.
O papa João Paulo II, porém, via na
Teologia da Libertação apenas uma coisa: comunismo. O frei brasileiro
Leonardo Boff foi um dos religiosos expulsos da Igreja Católica pelo papa por
professar esse tipo de ideia.
Nos anos 1990 os
dirigentes mundiais tentaram descrever as guerras ocorridas nesse período como
sendo guerras étnicas. Na verdade, foram guerras religiosas.
O caso da guerra da
Croácia é o mais flagrante. Sérvios e croatas têm a mesma origem étnica e até a
mesma língua, o croata-servo. O mais irônico é que servo-croata, escrito em
caracteres latinos, é hoje a língua oficial dos soldados do exército iugoslavo
que combateu em Kosovo contra a OTAN, depois de ter lutado contra os croatas no
início dos anos 1990.
A religião separa
tudo! Os croatas foram
cristianizados por Roma. São católicos. Os sérvios foram cristianizados pelos
bizantinos e são ortodoxos.
Quando Slobodan Milošević
começa a agitar o espectro da Grande Sérvia, a Croácia declara a
independência. Imediatamente, o Vaticano e a Alemanha, cujo chanceler se
declarava um católico convicto, reconhecem a Croácia católica como estado
independente.
O Vaticano pediu que
os países reconhecessem o novo estado católico e o papa João Paulo II
multiplicou os apelos pela independência da Croácia.
As guerras da Iugoslávia são um caso
emblemático da catastrófica intolerância que é típica das religiões reveladas.
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