Um mundo turbinado pelo desligamento
social
Especial para o Humanitas
Manfred
Grellmann é um autodidata colaborador do Humanitas. Mora em
Camaragibe/PE
A quantidade de problemas que o mundo
moderno, turbinado pela tecnologia, tem acumulado, criou um estado difícil para
ações de reorganização da sociedade para que ela possa se sustentar de
forma duradoura.
Obviamente, há gente capaz de fazê-lo, como demonstram
ações pontuais e ainda é possível. Porém, a súcia do poder ou da maldade
destruidora, é mais forte.
Já perguntei as pessoas se elas já pensaram alguma vez sobre
a necessidade de se decidir pelo abandono de certas tecnologias e cancelar a
fabricação de alguns produtos e materiais, principalmente aqueles que não podem
ser reciclados.
Essa pergunta é incômoda, porque o mundo só sabe viver com
o que está na moda. As pessoas se esquecem que crescer e se
desenvolver têm limites, e que o tipo de sociedade que conhecemos e endeusamos
tem seus dias contados.
Então, o que vemos hoje é uma monstruosa armadilha
impossível de ser desarmada!
O desarme acontecerá, sim, mas pelo terrível preço do
desastre! Somos uma raça destinada ao suicídio coletivo!
Em uma feira de rua num sábado em São Paulo, parei em uma
barraca para tomar um caldo de cana. Enquanto saboreava, notei que não havia
refrigerantes sendo vendidos nela, tampouco nas redondezas da feira.
Ao indagar o motivo disso, o proprietário respondeu dizendo
que era uma imposição da
prefeitura. A resposta me causou surpresa e não ficou sem questionamento.
A explicação: a prefeitura diz que oferecendo refrigerantes e
caldo de cana, os fregueses tomarão somente refrigerantes e não caldo de
cana, que é muito mais saudável. Então, cadê a liberdade de escolher o que se
quer vender e beber?
Um fenômeno recente que se configura em um
estado de exclusão social, de comportamento drogado, de alienação social,
são os smartphone-zumbis. É uma praga planetária. É fácil chegar a algum lugar
e ter a sensação de estar num espaço vazio.
Ou seja, não há ninguém, porque todos os presentes estão
conectados à maquina e desconectados das pessoas! Não há forma mais clara de
qualificar, exemplificar um zumbi. Basta olhar para uma figura dessas,
teclando com vista congelada e imóvel na tela!
Esse aspecto novo como muitos outros da sociedade moderna, é
um caminho sem volta que irá contribuir para o possível suicídio da
espécie ou redução a poucos exemplares. O comportamento viciante da era digital
é certamente uma surpresa para os desdobramentos das manias que o cérebro
consegue desenvolver.
Os smartphones-zumbis são exemplos desses vícios estranhos
desconhecidos há duas décadas. Recentemente, em São Paulo, uma mulher
foi internada numa clínica para tratamento de drogados porque não
conseguia largar seu celular ou computador, sempre acessando as redes
sociais, fato que a fez esquecer de levar a filha para a escola, de
dormir, de comer e finalmente perder o emprego e observar o fim de seu
casamento.
Neste mundo comandado pela mídia e pela falsa
propaganda novos problemas e vícios minimizam e se sobrepõem a antigos, fazendo
com que os referenciais de conduta se desloquem de forma
impercebível para a maioria esmagadora, que confunde alteração com evolução e modernismo, sem ver
nisso um processo de degradação.
Desde o advento da televisão, pensadores alertavam sobre os
malefícios desse meio de comunicação da forma como estava sendo usado.
Coisas como destruição do diálogo, visitas que transcorriam
em silêncio, não raro, as únicas frases trocadas eram boa noite na chegada e
até logo na saída.
Não se pode trabalhar, concentrar-se ou conversar quando a TV
está ligada.
Na verdade, esse equipamento é para ser usado em momentos de
tempo livre e vontade de assistir àquilo que se deseja, seja informação
ou distração.
Ora, a TV já impõe nos lares um desligamento social e
coloca na UTI o diálogo em família.
E quando há algum diálogo é sobre lixo, não o tratamento do
lixo, mas sobre o lixo cultural
chamado NOVELA e, pior, BBB !
Quanto tempo ainda falta para o fim da raça
humana?