O médico do sexo oposto
Especial do Humanitas
O século XIX
testemunhou a vida de um dos médicos mais famosos de sua época. Suas principais
realizações estavam ligadas ao descobrimento do papel da higiene na
medicina. Graças a isso, o nível de sobrevivência de seus pacientes disparou a
números nunca antes vistos.
Ele indicou a relação entre tubulações sujas com
material fecal e doenças, detendo assim a terrível expansão de cólera e lepra
que assolavam o continente africano.
Foi o primeiro médico a realizar um parto
cesariano bem-sucedido, no qual tanto a mãe quanto o bebê conseguiram
sobreviver.
Na Universidade de Edimburgo, na Escócia, esse médico se
destacou como estudante e foi um dos poucos que se graduou na prestigiada
escola de medicina.
Logo a seguir, ele começou a trabalhar como voluntário,
tendo aulas dia e noite para se tornar um cirurgião.
Quando terminou os estudos, James Miranda Barry entrou na
equipe de cirurgiões do exército e trabalhou em diferentes países que até então
eram colônias do Império Britânico. Jamaica, Índia, Crimeia, África do Sul,
entre outros, são alguns dos lugares onde ele foi e adquiriu fama graças ao seu
trabalho excelente como médico.
Criou hospitais em lugares onde não havia nenhum e freou a
expansão do cólera devido à falta de higiene, realizando diversas cirurgias
bem-sucedidas.
Ele chegou a obter a patente mais alta que um médico militar
pode obter: Inspetor Geral de Hospitais, além de ser amigo próximo do
governador Charles Somerset.
Mas nada disso importou quando se descobriu a verdade sobre
a sua vida, já que, quando a enfermeira que preparava o funeral levantou o
lençol que o cobria, descobriu o inimaginável: James Miranda Barry, o famoso
médico da armada britânica, era uma mulher!
O outro lado dessa história diz que o nome real de
James Barry era Margaret Ann Bulkley, uma menina nascida em 1789, em County
Cork, na Irlanda.
Seu tio, James Barry (daí vem o nome) e seu amigo próximo, o
político e general revolucionário venezuelano Francisco Miranda, acreditavam na
aptidão de Margaret para ser médica. Porém, como naquele tempo as mulheres eram
proibidas de estudar medicina, ambos criaram um plano maluco: eles a fariam se
passar por homem.
Seu tio lhe deu o nome, e Francisco Miranda prometeu que,
quando ela terminasse seus estudos, a levaria para a Venezuela, onde poderia
exercer sua profissão livremente como mulher.
Infelizmente, Miranda foi preso pelos espanhóis em Cádiz e
morreu pouco depois. A partir de então, Margaret Ann Bulkley teve que ocultar
sua identidade verdadeira para sempre. Margaret tomou a decisão de
juntar-se ao exército e ir para outros países para não ser descoberta em sua
terra natal.
No estrangeiro, ela conseguiu esconder que era mulher, ainda
que tenha se metido em problemas para manter seu personagem, como um duelo
de pistolas contra alguém que ousou duvidar de sua "masculinidade".
Na verdade, existiam rumores que ela mantinha uma relação
sexual com o governador Charles Somerset, cuja vida política terminou sendo
arruinada por causa disso.
O escândalo do descobrimento da
verdadeira sexualidade do aclamado cirurgião ofuscou os sucessos que essa
mulher incrível alcançou na área da medicina. Tudo graças à sua capacidade de
compreender a importância da higiene e esterilização nessa área de atuação.
Em 1864, ela voltou à Inglaterra por causa de sua saúde ruim
e morreu pouco tempo depois no ano de 1865.
Hoje, este Humanitas
resgata o seu legado: Margaret Ann Bulkley (ou James Barry) foi a primeira
médica na Grã-Bretanha. Graças à sua coragem, alcançamos avanços muito valiosos
para a medicina moderna. Sua determinação, habilidade, força e inteligência não
devem ser esquecidas.
Sua habilidade de disfarçar era tanta que dizem que
ela escondeu uma gravidez (não se sabe de quem) e se encarregou sozinha de dar
à luz e realizar todos os cuidados médicos de que necessitava.
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