quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

HUMANITAS Nº 69 – MARÇO DE 2018 – PÁGINA 6



O médico do sexo oposto
Especial do Humanitas

O século XIX testemunhou a vida de um dos médicos mais famosos de sua época. Suas principais realizações estavam ligadas ao descobrimento do papel da higiene na medicina. Graças a isso, o nível de sobrevivência de seus pacientes disparou a números nunca antes vistos.
Ele indicou a relação entre tubulações sujas com material fecal e doenças, detendo assim a terrível expansão de cólera e lepra que assolavam o continente africano.
Foi o primeiro médico a realizar um parto cesariano bem-sucedido, no qual tanto a mãe quanto o bebê conseguiram sobreviver. 
Na Universidade de Edimburgo, na Escócia, esse médico se destacou como estudante e foi um dos poucos que se graduou na prestigiada escola de medicina.
Logo a seguir, ele começou a trabalhar como voluntário, tendo aulas dia e noite para se tornar um cirurgião. 
Quando terminou os estudos, James Miranda Barry entrou na equipe de cirurgiões do exército e trabalhou em diferentes países que até então eram colônias do Império Britânico. Jamaica, Índia, Crimeia, África do Sul, entre outros, são alguns dos lugares onde ele foi e adquiriu fama graças ao seu trabalho excelente como médico.
Criou hospitais em lugares onde não havia nenhum e freou a expansão do cólera devido à falta de higiene, realizando diversas cirurgias bem-sucedidas.
Ele chegou a obter a patente mais alta que um médico militar pode obter: Inspetor Geral de Hospitais, além de ser amigo próximo do governador Charles Somerset.
Mas nada disso importou quando se descobriu a verdade sobre a sua vida, já que, quando a enfermeira que preparava o funeral levantou o lençol que o cobria, descobriu o inimaginável: James Miranda Barry, o famoso médico da armada britânica, era uma mulher! 
O outro lado dessa história diz que o nome real de James Barry era Margaret Ann Bulkley, uma menina nascida em 1789, em County Cork, na Irlanda.
Seu tio, James Barry (daí vem o nome) e seu amigo próximo, o político e general revolucionário venezuelano Francisco Miranda, acreditavam na aptidão de Margaret para ser médica. Porém, como naquele tempo as mulheres eram proibidas de estudar medicina, ambos criaram um plano maluco: eles a fariam se passar por homem.
Seu tio lhe deu o nome, e Francisco Miranda prometeu que, quando ela terminasse seus estudos, a levaria para a Venezuela, onde poderia exercer sua profissão livremente como mulher.
Infelizmente, Miranda foi preso pelos espanhóis em Cádiz e morreu pouco depois. A partir de então, Margaret Ann Bulkley teve que ocultar sua identidade verdadeira para sempre. Margaret tomou a decisão de juntar-se ao exército e ir para outros países para não ser descoberta em sua terra natal.
No estrangeiro, ela conseguiu esconder que era mulher, ainda que tenha se metido em problemas para manter seu personagem, como um duelo de pistolas contra alguém que ousou duvidar de sua "masculinidade".
Na verdade, existiam rumores que ela mantinha uma relação sexual com o governador Charles Somerset, cuja vida política terminou sendo arruinada por causa disso. 
O escândalo do descobrimento da verdadeira sexualidade do aclamado cirurgião ofuscou os sucessos que essa mulher incrível alcançou na área da medicina. Tudo graças à sua capacidade de compreender a importância da higiene e esterilização nessa área de atuação.  
Em 1864, ela voltou à Inglaterra por causa de sua saúde ruim e morreu pouco tempo depois no ano de 1865.
Hoje, este Humanitas resgata o seu legado: Margaret Ann Bulkley (ou James Barry) foi a primeira médica na Grã-Bretanha. Graças à sua coragem, alcançamos avanços muito valiosos para a medicina moderna. Sua determinação, habilidade, força e inteligência não devem ser esquecidas. 
   Sua habilidade de disfarçar era tanta que dizem que ela escondeu uma gravidez (não se sabe de quem) e se encarregou sozinha de dar à luz e realizar todos os cuidados médicos de que necessitava.

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