quarta-feira, 30 de maio de 2018

HUMANITAS Nº 72 – JUNHO DE 2018 –PÁGINA 7


O melhor de ser de si mesmo...
Ana Leandro – colaboradora do Humanitas - é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Pois o paraíso está logo ali...
Bem dentro de nós!

Um jovem leitor me perguntou certa vez, sem muita cerimônia: “Você é feminista?!” A indagação, embora a ouça com certa frequência (interessante... Toda vez, que um homem encontra uma mulher que “ousa” expor ideias, suspeita que ela é “feminista”) me pega, entretanto, desprevenida.
Para não cair em armadilhas respondo com outra pergunta: “Qual o seu conceito de feminista?”
Ele não gosta e diz que estou tentando “manipular” a resposta.
Gosto do jeito deste jovem: crítico! Tem talvez uns dezesseis anos e faz parte desta juventude luminosa que aprendeu a perguntar antes de julgar.
Mas ouso pedir-lhe o direito de que pelo menos me diga, em que momento dos meus escritos lhe dei esta impressão. Ele responde: “naquele que você analisa o caso de uma agressão física de um homem contra uma mulher que o abandona por isto...” (referência ao texto de minha autoria “do poder de amar... ou de destruir”).
Respondo então mais animada:
  Ah! Bom! Se foi por isso então estou tranquila para responder-lhe, que não sou “feminista”; sou “humanista”!
Defendo o “Ser Humano”. Todos eles: crianças, adultos, sem qualquer distinção por sexo, raça, cor ou credo religioso.
Acredito na nossa capacidade de resolvermos problemas sem apelarmos para recursos tão “irracionais”.
De uma certa maneira, nesse contexto, isto é uma defesa que faço também da ala masculina: estou certa de que vocês, homens, têm valores muito maiores do que a força física!
Ao que parece ele ficou feliz com a resposta.
Disse que concorda comigo. E continuou como amigo!
Assim sendo dedico esta crônica a ele e a todos os homens que neste século XXI estão descobrindo que o domínio pela força física é coisa da idade da pedra.
Lá sim, a mulher era “obrigada” a seguir um homem, nem que fosse arrastada pelos cabelos.
Isso quando interessava a “ele”, pois do contrário ela era rechaçada também pela agressão.
Essa nova mulher que aí está com a coragem de expor ideias e decidir livremente se “quer ou não quer ir junto” é muito melhor “parceira”! Experimente fazer uma “parceria” de qualquer natureza (uma simples caminhada, por exemplo), com alguém que não tenha a mesma vontade! É terrível!
Você acaba se sentindo mal com uma participação involuntária.
O melhor percurso é aquele que você faz ao lado de alguém feliz por estar ali.
A felicidade é contagiosa... Assim como também a infelicidade!
O leitor que me abordou é jovem. Lê, discute, critica.
Mas quer respostas “não manipuladas”. Pertence à geração disposta a mudanças.
Independente da opinião dele a respeito do assunto quis saber a “minha opinião!” Para comparar, conferir a validade dos argumentos e ver se os aprova para sua experiência pessoal de vida.
Mas escuta! Presta atenção! Considera os ângulos “do outro!” Se tomo uma vertente de simplesmente defender direitos de igualdade, provavelmente minha tese cairia por terra no conceito dele. Porque de fato a propalada “igualdade de direitos” é uma conquista pessoal, embora felizmente, também se propague de forma coletiva e até contemporaneamente jurídica.
É preciso ter a coragem, como teve a mulher referida, de dizer: “não quero mais ser infeliz!” Quem vai ousar se negar a aceitar direitos de quem os conquista? É uma árdua batalha essa luta milenar. Mas quem poderá negar as muitas vitórias desse “desbravamento”?
O desbravar da vida pelo “Direito de SER”.

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