quarta-feira, 30 de maio de 2018

HUMANITAS Nº 72 – JUNHO DE 2018 –PÁGINA 6


A mentira como alicerce do fascismo
Especial do HUMANITAS

Quem estudou a História da Humanidade sabe muito bem como o Terceiro Reich chegou ao poder na Alemanha no início dos anos 1930.
Quem estudou a História da Humanidade aprendeu sobre a importância da propaganda, com a “institucionalização da mentira”, visando influenciar opiniões em massa e obter apoio popular.
Quem estudou a História da Humanidade sabe que o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, expurgou artistas e escritores judeus e de esquerda, construindo uma enorme infraestrutura de mídia, criando na Alemanha uma atmosfera que tornou possível aos nazistas cometerem atrocidades terríveis contra judeus, homossexuais e outras minorias.
Quem estudou a História da Humanidade sabe como a minoria partidária de Hitler e Goebbels assumiu e levou o povo alemão a participar de assassinatos em massa.
Os estudiosos do totalitarismo do pós-guerra, Theodor Adorno e Hannah Arendt, escreveram sobre tudo isso décadas depois.
Adorno contribuiu com um volume maciço de psicologia social chamado “The Authoritarian Personality”, que estudava indivíduos predispostos aos apelos do totalitarismo.
Arendt examinou os regimes de Hitler, Stalin e seus funcionários, a ideologia do racismo científico e o mecanismo da propaganda que buscavam, segundo ela, fomentar “uma mistura variada de credulidade e cinismo com a qual cada membro era submergido e onde se esperava que reagisse às mudanças das declarações mentirosas dos líderes”.
Assim escreveu, em 1951, “Origens do Totalitarismo”, mostrando como essa mistura de ingenuidade e cinismo prevalece em todas as categorias de movimentos totalitários:
“Os líderes totalitários de massa basearam a propaganda na correta suposição psicológica de que, sob tais condições, alguém poderia fazer as pessoas, “um dia”, acreditarem nas afirmações mais fantásticas e confiar que, se no dia seguinte fossem dadas provas irrefutáveis ​​da falsidade, elas se refugiariam no cinismo”.
“Em vez de abandonar os líderes que haviam mentido, elas iriam afirmar que sabiam o tempo todo que a declaração era uma mentira e admirariam os líderes por sua superior inteligência tática”.
Quem estudou a História da Humanidade sabe que a “mentira” funcionava como um meio de dominar completamente os subordinados, que teriam que deixar de lado toda a sua integridade para repetir falsidades ultrajantes e então ficariam ligados ao líder por vergonha e cumplicidade.
O professor de filosofia política da Universidade McGill, Jacob T. Levy assinala que “os grandes analistas da verdade e da linguagem na política incluindo George Orwell, Hannah Arendt e Vaclav Havel, podem nos ajudar a reconhecer esse tipo de mentira pelo que é”.
 “Dizer algo obviamente falso e fazer seus subordinados repeti-lo com uma expressão séria em sua própria voz, é uma exibição de poder sobre eles. É algo endêmico ao totalitarismo”.
Arendt reconheceu, escreve Levy, que ser feito para repetir uma mentira óbvia deixa claro que você é impotente.
A análise de Arendt da propaganda e da função das mentiras parece particularmente relevante na época em que hoje vivemos.
Os tipos de mentiras descaradas que ela descreveu podem se tornar tão comuns que se tornam banais, e estão sendo propagadas através da mídia e pela internet no Brasil e mundo afora, sem que seus autores sejam punidos.
Quem não estudou a História da Humanidade e tudo que o nazifascismo trouxe de ruim é um analfabeto da história, inclusive um analfabeto político e não merece ter suas opiniões respeitadas.
  Quem não estudou a História da Humanidade e se posiciona ao lado dos atuais fascistas da ultradireita não merece respeito.

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