NÃO PENSAMOS COMO NAÇÃO
Sérgio Alves é professor. Atua na cidade
do Recife/PE
Sempre que escrevo algum artigo, me sinto
impelido e na vontade de provocar o caro leitor para reflexões e
questionamentos inerentes ao que vivenciamos no dia a dia.
Acredito que com isso possamos dialogar e
talvez, quem sabe, chegarmos a um denominador comum. Lógico que o debate,
dependendo do tema, poderá ser bastante acalorado e não deverá ser encerrado.
As partes envolvidas deverão ter maturidade
suficiente para não finalizar e não enveredar para as agressões físicas e/ou
verbais.
Em certos conteúdos eu fujo da ideia de que
o meu ponto de vista e minha opinião sejam melhor e única.
Eis o poder do diálogo.
No dia 21 de maio de 2018, após várias
tentativas de negociação entre o governo federal e os representantes de
caminhoneiros, teve início a paralisação que iria mostrar a cara do verdadeiro
Brasil.
País que durante décadas foi citado como: “... o país da vez...” – “...o país do
futuro...” – “...o país em desenvolvimento...”.
Triste conclusão.
Sabe-se lá quem citou tais frases e o
porquê de tamanha previsão equivocada? Esqueceram que havia políticos no meio.
Por um breve momento imaginei, e creio que
o caro leitor deste Humanitas também, que a partir daquela data, o “gigante pela própria natureza” havia
acordado. Pensei: agora vai! Chegou a hora! Quanta decepção!
E você, caro leitor, ficou surpreso?
Finalmente uma categoria havia saído do
ostracismo e se rebelado contra as forças opressoras desse país.
Nos momentos seguintes imaginei que as
demais categorias e sindicatos tomariam as ruas e juntariam forças para
levantar o gigante. E o povo num lampejo de lucidez sairia de sua moradia e
daria mais suporte e sustentação ao gigante. Quanta decepção! Que utopista que
fui!
Uma parcela significativa de habitantes
desse território chamado Brasil (mais tarde será Brazil), apenas pensou e pensa
em seu próprio umbigo. Não pensaram e nem pensam como Nação.
Como conseguir entender um povo que reclama
no dia a dia do alto valor de um produto (no caso, a gasolina) – e que na
escassez desse mesmo produto quando o encontrou, comprou por um valor bem maior
(duas ou três vezes superior) e ainda o estocou? Além disso, enfrentou filas
quilométricas num sol escaldante por horas ou dias? E a avareza máxima: vendeu
ao seu vizinho e conterrâneo o produto escasso por um valor dez vezes superior?
Naqueles dias de manifestações a escassez
não foi apenas de combustíveis, mas de gêneros alimentícios de necessidades
básicas.
Comerciantes do ramo, sob a alegação da
falta dos produtos (produtos esses que já existiam no estoque antes da
paralisação), venderam ao seu cliente e habitante do mesmo território, gêneros
alimentícios por valores 70% ou 90% mais caros.
Certos habitantes desta terra não pensam
como Nação.
Será que esses podem exigir ética,
honestidade, empatia e solidariedade dos políticos?
Embora tenham ocorrido indícios de que a
manifestação dos caminhoneiros foi um locaute, a paralisação era o momento
ideal para a Nação tomar um rumo.
Infelizmente, o povo não entendeu o recado.
Estranhamente, os sindicatos se calaram.
Por qual motivo?
Há quem diga que só pensamos como Nação e
exercitamos o patriotismo de quatro em quatro anos, pela ocasião da Copa do
Mundo de futebol.
Seria um momento de orgulho?
Se eu não torcer, estarei deixando de ser
um patriota?
O que mudaria para a Nação caso a seleção
brasileira de futebol ganhasse a Copa?
Apenas mais uma estrela na camisa daqueles
já milionários jogadores (que não têm culpa pelos descasos dos nossos
governantes) e ao seu entretenimento.
Sabendo que no dia seguinte e no seguinte,
as suas contas chegam e precisam ser pagas, pois a “pátria” precisa receber para que ela possa dar seguimento ao
projeto “mais estrelas na camisa da
seleção brasileira”.
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