QUANDO AS CRIANÇAS BRASILEIRAS SERÃO RESGATADAS DA MISÉRIA?
Ana Maria Ferreira Leandro é escritora e
jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG
Em todo o mundo não houve povo que não se
unisse para desejar o resgate das crianças tailandesas, que se viram de repente
presas numa caverna de grande profundidade abaixo do mar. De fato, este grupo
de crianças que provavelmente passou por uma difícil experiência, num alto
risco de perda da vida, mas demonstraram ser corajosos ostentando sorrisos para
suas famílias quando ainda presos na caverna.
É preciso reconhecer que estavam na
companhia de um instrutor/educador, que os proveu de um treinamento no uso
direcionado da mente, para resistirem às intempéries de uma caverna com
dificuldades respiratórias e ambientais.
Especialistas em mergulho em cavernas, os
“espeleologistas” e mesmo pessoas de apoio geral (produção de alimentos para os
envolvidos etc) se colocaram como voluntários na difícil tarefa de fazer o
salvamento das crianças e o instrutor.
Registre-se uma perda importante de um dos
voluntários, que lamentavelmente até perdeu a vida na tentativa de prestar sua
ajuda no processo. Mas apesar da dolorosa perda, a operação total foi exitosa e
as treze pessoas que se encontravam na caverna foram salvas e devidamente
cuidadas no pós-salvamento. Podemos dizer que foi uma experiência mundialmente
envolvente.
E fico me perguntando, por que não nos
preocupamos com a legião de crianças no Brasil, ao relento ou em condições
precárias de moradia, sem desenvolvimento educacional, à mercê da fome e da
total desestruturação de vida.
Falta de saneamento e outras condições
básicas de sobrevivência é a realidade de muitos, que morando em casas de
tábuas e papelão enfrentam os rigores da miséria.
Mas num país em que até a merenda escolar
de crianças é roubada por adultos, que ocupam cargos de lideranças
institucionais e políticas, o que mais se pode esperar?
Resta-nos o lamentável entendimento, que
todo o espetáculo de sensibilizaçâo de grande parte de nossa gente é mero
exibicionismo de uma solidariedade fingida!
De fato, para exibir como num palco de
teatro uma capacidade de sensibilização é comum ouvirmos discursos e palavras
de valorização da infância.
Tudo mera exibição, teorias sem aplicação,
porque na hora de atuarem na solução dos problemas da miséria, roubam a
alimentação de crianças na escola.
Isto praticado muitas vezes por pessoas
escolhidas por nós em eleições, mas participam também deste processo hediondo
de corrupção!
E se uma vez chamados a responder por tais
ações (quando chamados), em esticado processo condenatório acabam se safando da
prisão de onde deviam estar desde antes, para não roubarem e usarem sua própria
gente em seus atos espúrios.
Quando iniciaremos o processo de resgate de
nossa gente?!
Muita gente de todas as idades morre nas
ruas por total falta do que nos garante a Carta Magna: saúde e segurança!
Por que não nos horroriza saber que
crianças estão com fome, enquanto outros que tudo têm estão roubando de muitas
delas?
Por que não nos vemos na obrigação de
resgatar essas crianças e não apenas os próprios filhos? A ação voluntária do
resgate na Tailândia chega a nos causar vergonha, diante da referência humana
que nos dão.
Vergonha das precárias condições de nossos
irmãos, que não conseguiram escapar da miséria.
E nenhum plano ou projeto é estabelecido para
este resgate, que mata muito mais que guerras.
Provavelmente porque os holofotes da
imprensa e da comunicação não se refletem sobre eles.
Os discursos políticos são todos plenos de
promessas para ações deste resgate. Mas dissolvem-se em seus exercícios como
gelo, talvez fabricado na frieza de suas mentes e corações, próprios de quem só
se preocupa em exorbitar seus próprios ganhos.
Uma vez eleitos não há preocupação com o
cumprimento de promessas; que por sua vez não são cobradas pelos que os
elegeram.
Uma vez explicitado sobre as difíceis
condições econômicas do próximo governo (uma vez que o atual nada fez),
pergunto-me por que as lideranças políticas de nossas instituições, não se
propuseram não somente a uma adequação de seus ganhos exorbitantes, ou à
redução de seus “benefícios”.
São detentores de ganhos que um trabalhador
de salário mínimo não alcança nem em toda sua vida, como “auxílio moradia” e
outros, que nem é possível relatar todos numa página jornalística.
Lamentavelmente
estamos errando todos, por não termos competência para resgatar nossa própria
gente!
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