domingo, 20 de julho de 2014

A GRANDE ILUSÃO DO SUFRÁGIO UNIVERSAL

Mikhail Bakunin – Especial para o HUMANITAS
Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantiria a liberdade dos povos.Mas, infelizmente, esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão levou à queda e à desmoralização do partido radical.
Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados.
Estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos.
Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos.
Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população?
Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular devem e podem representar a verdadeira vontade do povo.
O povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação.
Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricalmente opostos por estarem numa posição excepcional.
Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, veem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade.
De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo.
Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam.
Esta é a eterna história do saber desde que o poder surgiu no mundo. Isto é o que também explica como e por que os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Na Suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados.
Apesar de a constituição política ser igualitária é a burguesia que governa e é o povo e os operários que obedecem às suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de fato, se não por direito, privilégio exclusivo.
Na Suíça, como em outros países, a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira. Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as ideias e a vontade do povo?
No governo, a burguesia é dirigida por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente pelo povo.
É verdade que em dia de eleição a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante da Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes?
O controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção já que no sistema representativo o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo. É evidente que tal liberdade não é mais do que uma ficção.

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