terça-feira, 22 de setembro de 2015

HUMANITAS Nº 40 – EDIÇÃO DE OUTUBRO DE 2015 - PÁGINA 5

O poder do povo foi sequestrado
Especial para o Humanitas
Valério Carvalho. Historiador pela UFRPE. 
É pernambucano e atualmente reside na  cidade de Olinda

Artigo 1º da Constituição, parágrafo único: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Porém, não obstante tais palavras, poucos parlamentares destoam, no melhor dos sentidos, da pasmaceira e subserviência cultural que campeiam em um Congresso nacional rastejante e vil (observe-se que me abstenho – ainda - de classificar a maioria dos parlamentares de entreguistas venais, sórdidos e pusilânimes).
Aceitar essa história batida de que a “lei é fria” é o que permite que novas ilegítimas leis se acumulem perante nós; e ante os absurdos do momento presente, periga acontecer que fiquemos lerdos e desatentos ao tempo que passa, dando espaço à imbecilidade fanática que se sobrepõe com arrogância.
O resultado evidente disso tudo é a intolerância que vem sendo disseminada campeando por essas plagas. Se não tivermos cautela e cuidado, arrisca-se espalhar a mácula do estigma que acabará respingando em nossa frágil e recente democracia, o que nos levará a todos a mais um período de trevas.
Por isso constitui imperativo de honra e dignidade resistir, denunciar e combater esses agentes do obscurantismo que ameaçam levar-nos a uma guerra fratricida.
A coragem se faz necessária para que se possa cumprir o dia a dia com decência, que é, afinal, a remuneração e o apanágio dos livres. Como bem se diz “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Então cabe a nós, o povo, nos dar ao respeito para fazer que a Democracia se fortaleça. Apesar desses “cenários de corrupções” é necessário manter em cada um a capacidade de se indignar e tornar esse sentimento semelhante a um motor - que ao iniciar sua marcha coloca em movimento todo o giro do mundo.
Mas a História parece não ensinar, o que passou se repete, e se repete ad nauseam...
Assim convém prestar atenção ao fato de que (quanto à reforma) até agora grande parte dos parlamentares fala em mandato único apenas para os cargos executivos de presidente, governador e prefeito; observa-se facilmente que isso deixaria exclusivamente a eles o direito de se reeleger.
Pode até haver justificativa para isso, mas nada impede  duvidar da necessária isenção e seriedade de uma instituição que tem por hábito legislar em causa própria - como é o caso dos aumentos de salários e outras regalias decididas entre e para eles.
Será mesmo que são essas as pessoas mais qualificadas para decidir as regras de uma reforma política que contemple os reais interesses da nação? Porque não pensar numa Constituinte exclusiva, eleita apenas para propor essa reforma, e depois submeter o resultado ao referendo popular?
O que testemunhamos é a usurpação do poder por via de um congresso semi-deslegitimado por desvio de função; porque fazer as modificações que estão em marcha, seria mais aconselhável e cabível como atribuição exclusiva de uma Assembleia Constituinte soberana para tratar da condução da necessária reforma política.
E afastar de vez esse arremedo de reforma que alija o povo de participar dos seus destinos em nosso pretenso “Estado Democrático de Direito”, que é, aliás, o dístico que antecede a intenção de princípios que foi exarada no Artigo 1º, aquele que diz que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

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