quinta-feira, 21 de abril de 2016

HUMANITAS Nº 47 – MAIO DE 2016 – PÁGINA CINCO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 4)
Especial para o Humanitas
Pedro Rodrigues Arcanjo-  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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No ano de 1483, Tomás de Torquemada é nomeado Grande Inquisidor de Castela. Esse monge dominicano, confessor da rainha Isabel, a católica, faz uma ampla utilização da tortura e da confiscação dos bens das vítimas. Estima-se em 20 mil o número de pessoas queimadas durante o seu mandato.
E a “piedade cristã” continua atuando na Europa. Em 1487, dois monges dominicanos alemães, Jacob Sprenger e Heinrich Institoris publicam o Malleus Malleficarum. Esse trabalho engloba um espesso volume de 400 páginas aprovado pela hierarquia católica e que é simplesmente um guia de caça às bruxas.
Nele se ensina a identificar as bruxas de tal forma que elas não possam fugir do castigo. Por exemplo, se uma mulher acariciar um gato preto e a centenas de metros alguém passar mal, qualquer pessoa pode prendê-la e torturá-la para que ela confesse a bruxaria.
Essa “obra misericordiosa” também afirma que negar a existência da feitiçaria é uma heresia gravíssima, passível de morte na fogueira. Durante dois séculos e meio, na Alemanha, depois da publicação do Malleus Malleficarum, negar a bruxaria podia levar ao braseiro. O manual tornou-se um best-seller na época.

Os reis também seguem a “doutrina cristã de amor e de piedade”. No ano de 1492, os reis católicos da Espanha, Isabel e Fernando, expulsam os judeus. Não sem antes oferecerem uma forma para eles expiarem seus pecados. Os judeus podem escolher se converter, para então poderem ser justiçados pela Inquisição (que queimará grande número deles), ou partir.

Mais de 160 mil judeus fugiram da Espanha. A hierarquia católica não fica indiferente a essa medida e o papa encoraja os outros soberanos europeus a se inspirarem no exemplo espanhol. Em toda a Europa os padres católicos se mobilizam para obrigar os governos a proibir a entrada dos judeus expulsos.

Os judeus que escolheram se converter são perseguidos pela Inquisição. Para descobrir se eles realmente se converteram até o século XVIII far-se-á o “teste da banha de porco”.
Esse teste consistia em oferecer como alimento aos judeus convertidos e seus descendentes uma salada com pedaços de carne e banha de porco. Se eles não comerem, serão queimados como “falsos convertidos”.
Se a expulsão dos judeus da Espanha foi a maior do gênero registrada na História, não foi, porém, a primeira. Na França, os prelados católicos conseguiram, antes da Espanha, a expulsão dos judeus no ano de 1306.
A Inglaterra já tinha procedido à expulsão em 1290. Em 1496, Portugal imita o seu poderoso vizinho, expulsando também os judeus.
Com a descoberta da América, o navegador cristão Cristóvão Colombo captura doze índios e os leva para Espanha.
Ao chegarem em terras espanholas, um dos silvícolas fica doente, mas, antes de morrer ele é batizado. Isso faz com que os reis católicos “vibrem de alegria”, porque um habitante do Novo Mundo acabava de entrar no paraíso cristão.
O maior “auto da fé” que a História registra aconteceu no ano de 1499. Nesse ano, o inquisidor Diego Rodrigues Lucero queima vivos na cidade de Córdova, nada menos que 107 judeus convertidos ao cristianismo.
A Igreja, já no século XVI tinha proibido que mulheres cantassem no coral dos templos, só por serem mulheres. Mas eis o dramático problema que aparece:
Como privar a audição dos “piedosos prelados cristãos” das vozes sopranas tão importantes nos coros para louvar o amor a deus?
Mas a Igreja Católica e seus piedosos bispos são inteligentes e encontram uma solução que é a de “castrar jovens meninos”, cujas vozes sejam belas aos ouvidos.
Assim, nos corais da Santa Igreja Católica não faltarão jamais os sopranos e contraltos.
Esta selvagem prática só terminará no ano de 1878, por ordem do papa Leão XIII. Mas a proibição parece que ficou por isso mesmo, já que ainda no século XIX, Gioachino Antonio Rossini, compositor erudito italiano, quando compôs a Pequena Missa Solene, escreveu, com naturalidade, que serão suficientes para executá-la “um piano e uma dúzia de cantores dos três sexos, homens, mulheres e castrados”.

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