quinta-feira, 21 de abril de 2016

HUMANITAS Nº 47 – MAIO DE 2016 – PÁGINA DOIS

EDITORIAL

Terrorismo cristão, a morte e os botecos pobres

Uma publicação humanista que se preze tem de ter uma linha editorial adequada e realista.
Este Humanitas tenta seguir o caminho em busca de conhecimentos e de ligação direta com o ser humano, acatando o lema de que o homem é e sempre será o centro de todas as coisas.
Levamos e buscamos o aprendizado, mergulhando conscientes no hominídeo do qual viemos e somos, e nas suas superstições milenares.
Pelas superstições, o homem inventou um ser divino e fortaleceu uma religião cruel, cujos representantes maiores do deus, utilizaram o terror sobre a mente para ter poder e angariar adeptos.
Conseguiram, sim! Milhões morreram para que a prerrogativa divina de um deus cristão saísse da mentira e se tornasse realidade nos cérebros humanos.
Mortes nas fogueiras, mortes sob o fio das espadas por causa de uma cruz! Muito sangue foi derramado em nome de um deus de amor e piedade para torná-lo imortal na vida terrena do homem.
Essa vida tem a necessidade da morte, como bem diz a filosofia de Arthur Shopenhauer. Já locupletaram como pessimista essa filosofia, mas todos aqueles que buscam conciliar o saber com a cultura sabem o muito que ela tem de verdade.
Sem essa necessidade da morte, sem o terror milenar da ideologia cristã (seja católica ou crente) o homem sabe e reconhece suas limitações.
Já o prazer de viver pode se concentrar em diversos espaços do mundo. Um deles, o espaço dos botecos pobres. Tal espaço consegue irmanar intelectuais e não intelectuais numa festa comum.
 Nesses locais, a vida leva o ser humano a usufruir de sua humanidade, lado a lado com seus iguais, em um congraçamento etílico e musical, como a lembrar que mesmo com a morte e o terror religioso somos animais gregários e sabemos alegrar nosso tempo.
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Aletheia - Texto de Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP (*)

O ser humano, desesperado por alimentos, busca. Busca verdades ocultas sob os véus do próprio desconhecimento. A mesa farta e a penúria andam juntas.
Heidegger e Lacan, seguindo os antigos gregos, destacaram o véu de desconhecimento que cobre a palavra Aletheia: que mais é o homem, este ser de curtíssima vida, apenas efeito de um processo do Planeta, que na efêmera passagem busca alimento e amor?
Este véu se abre e fecha com verdades momentâneas e forjadas que apenas refletem a ânsia de domínio dos objetos que aqui estavam desde o início da Terra e ficarão, modificados ou não, mas sempre objetos, na hora que o ser movente volta a ser um torrão inerte pertencente ao solo.
Na agressão própria do Universo que caminha para o isolamento, destruição e reconstrução, o individualismo espalha a fome e a miséria, sempre repudiada pelos que a provocam e temem. Sempre presente nas multidões que se movem sem Pátria ou território, apátridas no Planeta proibidos de desfrutarem o que o mesmo oferece a todos.
Grandes líderes são destruídos pela ânsia de Midas destes irracionais que querem que tudo se transforme em ouro para uso próprio e que o restante rasteje como escravos para louvarem sua grandeza forjada.
O véu cobre e descobre os seres alucinados que se julgam eternos e que a cada movimento espalham morte e penúria.
Pobre do líder que quer justiça! Os véus primitivos, puramente instintivos de uma animalidade sempre presente e nunca abandonada, farão que os masseteres façam os dentes ranger em uivos de guerra, as garras se mostrarem e a destruição antes coberta por uma frágil rede de poder, se insurgir com destruição para quem tentou reconstruir o bom senso, diminuir a penúria e tentar uma igualdade utópica nesta matilha irracional que se julga culta (tanto é que até usa conceitos que desconhece) e como manada caminha para se jogar no abismo da necessidade.
Assim, a sociedade humana, que queremos racional, volta às savanas que secam e vicejam imutavelmente no ciclo de destruição e volta ao início.
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(*) Antonio Carlos Gomes é médico.


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