EDITORIAL
Terrorismo cristão, a morte e os botecos
pobres
Uma
publicação humanista que se preze tem de ter uma linha editorial adequada e
realista.
Este Humanitas
tenta seguir o caminho em busca de conhecimentos e de ligação direta com o ser
humano, acatando o lema de que o homem é e sempre será o centro de todas as
coisas.
Levamos e
buscamos o aprendizado, mergulhando conscientes no hominídeo do qual viemos e
somos, e nas suas superstições milenares.
Pelas
superstições, o homem inventou um ser divino e fortaleceu uma religião cruel,
cujos representantes maiores do deus, utilizaram o terror sobre a mente para ter
poder e angariar adeptos.
Conseguiram,
sim! Milhões morreram para que a prerrogativa divina de um deus cristão saísse
da mentira e se tornasse realidade nos cérebros humanos.
Mortes nas
fogueiras, mortes sob o fio das espadas por causa de uma cruz! Muito sangue foi
derramado em nome de um deus de amor e
piedade para torná-lo imortal na vida terrena do homem.
Essa vida
tem a necessidade da morte, como bem diz a filosofia de Arthur Shopenhauer. Já
locupletaram como pessimista essa filosofia, mas todos aqueles que buscam
conciliar o saber com a cultura sabem o muito que ela tem de verdade.
Sem essa
necessidade da morte, sem o terror milenar da ideologia cristã (seja católica
ou crente) o homem sabe e reconhece suas limitações.
Já o prazer
de viver pode se concentrar em diversos espaços do mundo. Um deles, o espaço
dos botecos pobres. Tal espaço consegue irmanar intelectuais e não intelectuais
numa festa comum.
Nesses locais, a vida leva o ser humano a
usufruir de sua humanidade, lado a lado com seus iguais, em um congraçamento
etílico e musical, como a lembrar que mesmo com a morte e o terror religioso somos
animais gregários e sabemos alegrar nosso tempo.
...............................
Aletheia - Texto de Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP
(*)
O
ser
humano, desesperado por alimentos, busca. Busca verdades ocultas sob os véus do
próprio desconhecimento. A mesa farta e a penúria andam juntas.
Heidegger e
Lacan, seguindo os antigos gregos, destacaram o véu de desconhecimento que
cobre a palavra Aletheia: que mais é o homem, este ser de curtíssima
vida, apenas efeito de um processo do Planeta, que na efêmera passagem busca
alimento e amor?
Este véu se
abre e fecha com verdades momentâneas e forjadas que apenas refletem a ânsia de
domínio dos objetos que aqui estavam desde o início da Terra e ficarão,
modificados ou não, mas sempre objetos, na hora que o ser movente volta a ser
um torrão inerte pertencente ao solo.
Na agressão
própria do Universo que caminha para o isolamento, destruição e reconstrução, o
individualismo espalha a fome e a miséria, sempre repudiada pelos que a
provocam e temem. Sempre presente nas multidões que se movem sem Pátria ou
território, apátridas no Planeta proibidos de desfrutarem o que o mesmo oferece
a todos.
Grandes
líderes são destruídos pela ânsia de Midas destes irracionais que querem que
tudo se transforme em ouro para uso próprio e que o restante rasteje como
escravos para louvarem sua grandeza forjada.
O véu cobre
e descobre os seres alucinados que se julgam eternos e que a cada movimento
espalham morte e penúria.
Pobre do
líder que quer justiça! Os véus primitivos, puramente instintivos de uma
animalidade sempre presente e nunca abandonada, farão que os masseteres façam
os dentes ranger em uivos de guerra, as garras se mostrarem e a destruição
antes coberta por uma frágil rede de poder, se insurgir com destruição para
quem tentou reconstruir o bom senso, diminuir a penúria e tentar uma igualdade
utópica nesta matilha irracional que se julga culta (tanto é que até usa
conceitos que desconhece) e como manada caminha para se jogar no abismo da
necessidade.
Assim, a
sociedade humana, que queremos racional, volta às savanas que secam e vicejam
imutavelmente no ciclo de destruição e volta ao início.
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(*) Antonio
Carlos Gomes é médico.
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