O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA
Texto
de Décio Schroeter - Escritor – Porto Alegre/RS
Especial para o Humanitas
Texto
extraído de Irreligiosos.ning.com
As pessoas
morrem não porque os deuses o decretaram, mas em decorrência de uma série de
falhas “técnicas”: infecção, câncer ou um ataque do coração.
O DNA em nossas células é com frequência
danificado sob condições rotineiras, mas nossas células têm diversos sistemas
de reparo de DNA.
Se um gene
crucial for permanentemente danificado, há normalmente cópias extras do gene
por perto. E se a célula inteira morrer, outras podem substituí-la. Temos um
rim extra, um pulmão extra, uma gônoda extra, dentes extras, conforme Leonid
Gavrilov, pesquisador da Universidade de Chicago.
No entanto,
conforme os defeitos de um sistema complexo vão aumentando, chega um momento em
que apenas um defeito a mais é suficiente para danificar o todo, resultando na
condição conhecida como fragilidade.
Acontece com
carros, grandes organizações e com usinas, num instante a coisa toda deixa de
funcionar.
E também
acontece conosco: mais cedo ou mais tarde, o número de articulações e de
artérias calcificadas é simplesmente grande demais. Não há mais backups.
Nós nos desgastamos até não termos mais o que desgastar (“Mortais: Nós, a Medicina e o
que Realmente Importa no Final”, de Atul Gawande, Editora Objetiva).
Algumas
correntes filosóficas (por exemplo, humanismo, pós-humanismo, e, até certo
ponto, o empirismo) geralmente asseveram que não há uma ultravida.
Um ateu e cético,
imagina o seu futuro após a morte da mesma forma que imagina o seu passado
antes do seu nascimento: o nada, nulo, isento de experiência ou de noção
seja do que for.
Animais
morrem, amigos morrem e todos morreremos, mas uma coisa nunca morre, que é a
reputação que é deixada após a morte.
A única
coisa que poderemos conseguir será uma exuberante paz de espírito, a qual nos
dará coragem e tranquilidade para enfrentar a morte. Assim iremos para o
túmulo (ou cremação) em paz com a consciência de dever cumprido.
Para muitos,
a questão filosófica não é o “por quê
vivo?” mas sim o “como vivo?” É na resposta a essa questão que se pode
encontrar o sentido de existência.
Lembre-se somente de uma coisa: “você é um ser mortal”. Se
você não está apegado a nada, a morte pode vir neste exato momento ou na
próxima esquina e você estará em atitude de boas-vindas.
Livre-se do
apego da morte e estará absolutamente pronto para ir. O meu medo de
morrer era não deixar a minha contribuição com a verdade (que não é absoluta)
genuína e original da minha própria consciência.
Porque “quem morre sem dizer verdadeiramente, o que
pensa, é o que morre de verdade”. Morrerá e levará consigo aquele seu
pensamento que não fez publicar. A curiosidade intelectual existe em algumas
pessoas e é provável que sirva para libertá-las de certas ilusões que persistem
até hoje.
A verdade é
para quem não tem medo de morrer. Os ateus, agnósticos, racionalistas,
humanistas seculares, céticos que investigam, comparam, perguntam, questionam,
duvidam, já o fizeram, e não desembarcaram nesse mundo a passeio.
Discordam do
que pensam e propagam os doutrinadores, simplesmente porque não toleram
mentiras. E são muitos os que escreveram um livro, por exemplo, que também é
uma forma de perpetuar a memória. Tem a ver com a nossa vontade, que é antiga,
de continuar vivendo.
Sêneca dizia que o
homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem, quando não depende
dele viver muito, mas viver bem. “Só quem aceita a morte e está pronto para morrer pode sentir o
verdadeiro sabor da vida”.
O filósofo Epicuro
chamou de tolice e aflição temer a morte e a espera da morte, pois enquanto
vivemos ela não existe, e quando ela chega, nós nos retiramos e não existiremos
mais. Segundo ele, “os maiores obstáculos para a felicidade
humana são o temor da morte e o medo da ira divina”, mas eles
podem ser eliminados graças ao conhecimento da natureza.
A ética de Epicuro assegura aos homens que a
felicidade é facilmente alcançável, desde que algumas poucas necessidades
naturais sejam satisfeitas, pois a felicidade não é outra coisa que a ausência
de dor física e um estado de ânimo livre de qualquer perturbação ou paixão.
Assim, a
felicidade, para Epicuro, se
identifica com um prazer estável, que os gregos chamavam de “ataraxia”.