terça-feira, 1 de agosto de 2017

HUMANITAS Nº 62 – AGOSTO DE 2017 – PÁGINA 4



Reflexões sobre o ciclo da vida humana 
Antonio Carlos Gomes é médico e colaborador do Humanitas Mora e atua em Guarujá/SP 

Se o ciclo da vida no planeta acompanha o das estações, todos os seres vivos têm sua primavera, verão, outono e inverno. Nosso viver é o viver do tempo e cada minuto se inspira na natureza.
Todo ser nasce com três qualidades: liderança, adaptação e resistência ao sofrimento. Nenhum ser nasce inferior ou escravo, isto se falando de seres sadios.
Ao nascer, o ser busca a liderança de seu meio ou seu grupo. Se assim não fosse a morte do líder deixaria um vazio no grupo e o extinguiria. A busca de liderança gera as guerras, para que se desfrute a paz transitória com o novo líder. O mundo será humano apenas quando aprendermos a buscar nossa liderança sem guerras e sem mortes, o que ainda é utópico.
Somos seres da natureza buscando um equilíbrio e tentando fazer prevalecer nossos genes em detrimento de outros.
Nosso grau de violência pode ser medido pelos filmes, esportes e lutas que assistimos, os quais além de prender a atenção dos humanos são aclamados pelos humanos.
Um filme de guerra com a vitória daquele com o qual nos identificamos nos faz sair do cinema alegres e leves de espírito, não importando quantos “inimigos” morreram no desenrolar da cena.
Como nem todos podem ser líderes, a adaptação inclui ampla estrutura social, que é muito maior que a das estatísticas.
Cada classe compõe-se de subclasses e cada uma elege um líder. Uma espécie de castas dentro das castas. É fácil observar isso numa pessoa em seu trabalho.
Por exemplo: um operário ao ser promovido de função para líder de grupo começa a se relacionar com seus novos companheiros hierárquicos, e abandona e, muitas vezes, hostiliza seus amigos anteriores, já que os considera, a partir da promoção, subalternos e socialmente inferiores, esquecendo seu status anterior.
Para que esses dois movimentos anteriores possam existir, tem-se a necessidade de outro. Tais movimentos são sempre dolorosos e provocam ansiedade. Se não houvesse algum mecanismo o indivíduo sucumbiria em profunda melancolia e morreria. O ser humano é adaptado ao sofrimento e até zomba dele.
Freud chamou de masoquismo o movimento de se ter prazer com a dor. Foi uma das grandes surpresas que teve em seu trabalho. Apesar de considerar isso como algo básico ao ser humano, pouco conseguiu relatar sobre ele.
Vamos pensar o seguinte: o noticiário da TV mostra uma família de catadores de lixo no lixão de algum lugar. Os personagens participam da vida normalmente, com suas alegrias e angústias.
Se considerarmos que o potencial de liderança, do ponto de vista da sociedade foi totalmente sufocado deles, sendo os mesmos jogados em condições socialmente humilhantes, caso não houvesse adaptação, por certo eles não sobreviveriam, não se relacionariam e nem iriam ao lixão para enfrentar o cheiro insuportável e procurar e catar restos.
Só a condição de tirar algum prazer da situação permite que suportem esse tipo de vida e vivam e se reproduzam sob essas condições insalubres.
Creio que a Humanidade ainda está muito distante de se tornar humana e deixar todos seus membros iguais por serem humanos e não pelo serviço social que desempenham.
Portanto, vamos, como todos os seres vivos, usando os três dotes (liderança, adaptação e resistência ao sofrimento) e nos reproduzindo, para que a espécie humana não desapareça.  

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