terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A fascinante lenda de Olinda

Texto publicado no HUMANITAS nº 8 – Março/2013

A valente tribo dos caetés estava pronta para assaltar o acampamento dos portugueses. Duarte Coelho Pereira, recém-chegado da Europa, juntamente com sua esposa Dona Brites de Albuquerque, e o cunhado, Jerônimo de Albuquerque, tomava posse da capitania de Pernambuco, que lhe fora doada por Dom João III e iniciava a colonização. Os indígenas não aceitavam a tomada de sua terra pelos brancos. A poderosa nação Caetés, no alto de onde hoje se situa a Catedral da Sé, inicia as hostilidades. Os portugueses são avisados pelos seus aliados, os tabajaras, tribo inimiga dos Caetés. O ano era o de 1535. No meio da manhã começa o combate.
Muitos índios caetés caem em poder dos portugueses e dos tabajaras. São feitos prisioneiros. Entre os guerreiros aparecem algumas mulheres e entre elas, a bela índia Iangaí que, mesmo prisioneira, zomba dos conquistadores europeus. O cacique dos tabajaras, o índio Tabira, leva centenas de caetés prisioneiros à presença do donatário Duarte Coelho, e este ao ver a índia Iangaí, em toda a nudez de sua juventude, exclama fascinado: "Ó Linda!" O chefe tabajara pede veementemente ao donatário que lhe dê a honra de sacrificar os prisioneiros caetés, e Duarte Coelho concorda, mas exclui do grupo a jovem indígena.
Esta vê seus companheiros sendo mortos, e que entre eles também se encontra o seu escolhido, a sua paixão: o caeté Camura. Intimamente jura vingança. O donatário Coelho Pereira permanece fascinado com a beleza da jovem índia e sempre a procura, às escondidas de Dona Brites de Albuquerque. Mesmo desprezado pela bela silvícola, ele a torna sua amante, até que uma índia tabajara, que vive com seu cunhado Jerônimo de Albuquerque, o avisa de que Iangaí - ou “ó linda” - planeja matá-lo.
Duarte Coelho, cego pela paixão, não acredita. Ainda que fosse desprezado em seu amor lúbrico por Iangaí, Duarte Coelho Pereira cita seu nome apaixonadamente até nas cartas que escreve para El-Rei de Portugal, falando da nova terra conquistada. Eis um trecho: "(...) desta Pernambuco ou desta Olinda da Nova Lusitânia etc." Um dia, Iangaí consegue fugir do seu cativeiro e da vida de escrava amásia. Os portugueses e seus aliados, os tabajaras, saem em sua busca e a encontram morta. A bela índia tinha se suicidado.
O grande amor de Duarte Coelho, no entanto, fica vivo eternamente na história. Na terra onde os índios caetés viviam é construída uma cidade que recebe o nome de Olinda, a bela paixão indígena do donatário. Perpetuada no tempo, Iangaí vive hoje com o nome Olinda entre montes e colinas repletas de casarios centenários e imponentes igrejas barrocas. Do cimo dos morros, podemos ver o oceano Atlântico e as areias douradas onde, em um dia distante, foi derramado o sangue dos caetés e tabajaras para satisfazer a ambição da coroa portuguesa. 
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"A Origem do Nome Olinda", Cardoso Aires, L. C.: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, Vol. XXXII, ns. 151 a 154, Recife, 1934, pp. 45-45.

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