A mulher que
contestou o
machismo nos
anos 1960/1970
Especial do HUMANITAS
A atriz fluminense
Leila Roque Diniz morreu jovem, aos 27 anos de idade. Mas sua curta trajetória no
mundo foi marcante e fez com que ela se tornasse a jovem símbolo da
revolução feminina no país.
Ainda hoje, os
posicionamentos de Leila são recordados como fundamentais para a quebra de vários
tabus e na mudança da sociedade do final da década de 1960 e início da década
de 1970, ainda fortemente marcadas pela aceitação do machismo e do sistema
patriarcal.
Leila morreu em
um trágico acidente aéreo na Índia em 14 de junho de 1972. Ela voltava de uma
viagem à Austrália, onde tinha sido premiada em um festival de cinema, quando o
avião da Japan Airlines explodiu, próximo a Nova Delhi.
Nascida em
Niterói em 25 de março de 1945,
a atriz começou como professora e chegou a trabalhar com
crianças em um jardim de infância. Com 20 anos de idade, ela já interpretava e
conseguiu o papel de protagonista na primeira produção de novela da TV Globo.
Participou também
no cinema nas comédias de Domingos Oliveira, com quem foi casada por três anos,
e dos filmes experimentais de Nelson Pereira dos Santos, além de atuar no
teatro.
Em 1969, com uma
toalha amarrada na cabeça, Leila Diniz concedeu uma entrevista de capa ao
jornal “O Pasquim”, revelando
abertamente suas posições sobre relacionamento, sexo e fidelidade.
Sem papas na
língua e claramente à frente de seu tempo, foi nessa reportagem que ela
soltou algumas de suas afirmações históricas: “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra. Já
aconteceu comigo” e “No fundo, eu sou
uma mulher meiga, adoro amar, não quero brigar nunca e queria mesmo ficar fazendo
sexo sem parar”.
Meses após a
publicação da entrevista, em meio à ditadura militar, foi aprovado o Decreto
1077, conhecido por Decreto Leila Diniz, em que se instaurava a censura prévia
à imprensa em todo o país.
Nessa época,
Leila foi perseguida politicamente e chegou a perder contratos profissionais,
precisando se esconder no sítio do apresentador Flávio Cavalcanti para
preservar sua vida.
Em 1971, grávida
de Janaína, filha que teve com o cineasta Ruy Guerra, a atriz colocou um
biquíni – considerado pequeno para os padrões da época – e se deixou fotografar
na praia de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro.
A fotografia foi
estampada em inúmeros jornais e revistas.
Naquele tempo, as
grávidas, quando iam à praia, usavam uma cortina para esconder a barriga.
O corpo grávido à
mostra consolidou Leila Diniz como precursora das transformações da condição
feminina.
Com a imagem, a
atriz despertou questões relacionadas à libertação da vida sexual, e
também enfrentou estigmas e proibições associadas ao corpo da mulher, mas
ainda assim foi eleita mais tarde como a Grávida do Ano no programa do
Chacrinha.
Quando Janaína
nasceu, a atriz provocou uma nova polêmica ao amamentar sua filha diante das
câmeras de TV.
Sua morte precoce no ano seguinte fortaleceu sua imagem de mulher
libertária que prevalece até hoje.
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