quarta-feira, 13 de agosto de 2014

HUMANITAS nº 26 – Agosto/2014 – Página 4

Reconhecimento é a busca de todo ser humano
Texto de Antônio Carlos Gomes – Guarujá/SP

Costumamos falar que de nada adianta toda imponência que pode possuir um determinado ser humano, se este vai igual a todos os demais para baixo da terra, em destino comum.
Não me agrada tal assertiva, o mais correto seria tentar ver o que realmente adianta e o que estamos fazendo aqui nesta superfície em constante transformação, que chamamos Terra.
O ser no mundo é um ser individualista. Todos os atos giram exatamente em torno de suas atitudes; como é um ser social, tudo que planeja tem um único fim: o reconhecimento.
Cada época da humanidade o reconhecimento se faz de uma maneira: pode ser reconhecido como guerreiro eficaz, que mata seus componentes; como crédulo penitente a seu deus; como pai exemplar que é justo com seus filhos, ou atualmente, como homem possuidor de riquezas que seja invejado pelos que não as tem.
Resumidamente a vida baseia-se em olhar o outro e ser olhado por este outro, num jogo de alteridades onde espelha e se espelha no conjunto de humanos que o rodeiam.
Será que o único objetivo do ser individual jogado na natureza é se mostrar e se comparar com o vizinho? Será que este manancial de objetos transformados ou a serem manipulados, que encontramos quando nascemos e deixaremos aqui, sem saber para quem, pode ter uma posse tão desproporcional, onde uns têm muito e outros nada? Será que nascemos diferentes em capacidade de posse apesar de ser comprovado que a inteligência e a capacidade de adaptação são iguais em todos os seres humanos?
O que importa é definir qual a função do homem no planeta. Se nos conformarmos em manter-nos vivos e espalharmos genes num delírio de buscar sexo ininterruptamente, não justificaria a sociedade que habitamos, e o valor seria dado pelo número de descendentes. Por querermos algo mais, tentamos viver eticamente, com uma eticidade que se modifica a cada nova transformação do grupo, tentando manter tanto a harmonia entre os membros, como propiciar o bem-estar de cada um.
Temos que notar que a tentativa não é individual. Tentamos, prestigiando o nosso grupo, diminuir nossa individualidade para um bem comum.
Domar o individual para o bem do coletivo, gerando um ideal comum onde este bem-estar atingisse todos. Se olharmos com atenção é o que ocorre desde o início de cada grupamento social de humanos.
Certamente estaremos diante de uma busca sem fim, o universo é Vontade, caminha sempre.
A ordem de hoje será desordem amanhã para uma nova organização, que será reformada novamente.
A ordem dentro da Natureza representa a estagnação e o fim. A Natureza exige movimento contínuo e ininterrupto. A quebra é ceder lugar para outro grupo em evolução.
Neste difícil raciocínio de cada um se encontrar participando do todo, nos assemelhamos a um cardume de peixes com suas evoluções conforme a situação: reprodução, caça e defesa. Deste modo devemos achar nosso lugar.
Tal qual o exemplo do cardume, que cada um tenha um lugar que possa lhe proporcionar certa independência de movimentos, como exige o ser jogado no mundo, sem perder sua função na dança do todo que mantém a harmonia da vida em movimento. 
Só com uma noção de um lugar perante o todo, poderemos conter o desejo desenfreado que atualmente o capitalismo induz, e reconhecer o outro, e ser, portanto, reconhecido, já que todos estarão vivendo e dançando da melhor maneira possível, num mesmo lugar, num mesmo grupo, a mesma dança e mantendo a individualidade que a natureza lhe deu.

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